Treinamento para reconhecimento de Cashmere no Brasil

Thaís Menezes da Cruz1, Lia Souza Coelho2, Camila Eller Gomes3, Elisa Cristina Modesto4, Roberto Carlos Costa Lelis5
1 - Universidade Federal Rural do Rio de janeiro
2 - Universidade Federal Rural do Rio de janeiro
3 - Universidade Federal Rural do Rio de janeiro
4 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre
5 - Universidade Federal Rural do Rio de janeiro

RESUMO -

A cashmere é uma fibra fina extremamente rara produzida a partir da lã de caprinos. No Brasil, existe pouco conhecimento de sua ocorrência. Entretanto na cidade do Rio de Janeiro e cidades próximas não se tem nenhum conhecimento da produção desta fibra. O reconhecimento de áreas produtoras de cashmere e o treinamento de técnicos e produtores para coleta e produção da fibra são de extrema importância. A partir do treinamento realizado foi possível a confecção de um folder explicativo visando melhor capacitar os produtores e técnicos dentro das fazendas, sobre como coletar cashmere no Brasil.

Palavras-chave: Caprinos, Fibra animal, Têxtil.

Training for recongnition of Cashmere in Brazil

ABSTRACT - Cashmere is fine fiber an extremely rare produced by goats. In Brazil there is little knowledge of its occurrence. However in the State of Rio de Janeiro and nearby cities there is no knowledge of the production of this fiber. The recognition of cashmere producing areas and the training of technicians and producers for the collection and production of fiber are extremely important. From the training carried out, it was possible to prepare an explanatory folder to better qualify the producers and technicians inside the farms, on how to collect cashmere in Brazil.
Keywords: Goats, Animal fiber, Textile.


Introdução

Os caprinos possuem a habilidade de produzir um subpelo ou fibra fina extremamente rara e considerada uma das mais suaves fibras de origem animal chamada de fibra fina de cashmere (Coelho, 2014; CCMI, 2016; McGregor, 2011). A fibra de cashmere possui alto valor comercial caracterizada por vários atributos de qualidade como: finura, maciez, suavidade ao toque, brilho e isolamento térmico e durabilidade o que a difere das demais fibras (McGregor, 2012; CCMI, 2016). Segundo Coelho (2014), a cashmere não é exclusividade de caprinos da raça Cashmere podendo também ser encontrada nas raças Alpinas, Boer e Saanen. O caprino no Brasil normalmente é utilizado para produção de leite e carne (Martins et al., 2016), pele e couro (Gomes, 2016) e, segundo Coelho & Modesto (2016) também podem ser utilizado  para produção de cashmere. A descoberta da produção de cashmere como outra forma de destinação para a criação destes animais possibilita a complementação de renda dos produtores de caprinos já que a fibra é normalmente descartada após o abate dos animais. Objetivo deste trabalho foi produzir material didático, treinamento de técnicos e para ensinar aos produtores e técnicos como reconhecer e coletar a cashmere brasileira. O treinamento focou na importância de se realizar a pratica de coleta de forma correta e adaptada aos animais e as criações no Brasil.      

Revisão Bibliográfica

O Instituto de Produtores de Cashmere e Pelo de Camelo (Cashmere and Camel Hair Manufaturers Institute) (CCMI) define Cashmere como uma fibra de subpelo produzido por cabra Cashmere (Capra hircus laniger). A estrutura morfológica da fibra fina de cashmere que possui alto valor comercial é chamada de subpelo ou fibra fina de cashmere, semelhante a uma lã muito fina (COELHO, 2014). Para a coleta de fibra de cashmere é importante resaltar que o desprendimento pelo folículo secundário ocorre em muitos países produtores no final do inverno. Segundo Coelho (2014), no Brasil, um país tropical, o início do crescimento ocorre em meados do verão com desprendimento mais tardio, entretanto se houver mudanças no clima podem ocorrer quedas de fibras em outras épocas do ano. O fotoperíodo influencia o crescimento da lã e da fibra de cashmere, com o crescimento da fibra sendo menor no meio do inverno e maior em meados do verão (MCDONALD et al., 1987). A cashmere normalmente cresce a partir de meados do verão, quando os folículos secundários tornam-se ativos e a fibra fina de cashmere cresce até final do outono e início do inverno, quando a atividade do folículo cessa (RYDER, 1966; HOLST et al., 1982; MCDONALD et al., 1987).

Materiais e Métodos

  Foi realizado treinamento de discentes do curso de Zootecnia, no mês de outubro de 2016, no setor de Caprinocultura da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa, na Zona da Mata de Minas Gerais, a 20º45' S de latitude e 42º51' W, altitude média de 692,73 metros, clima CWA de acordo com a classificação de Köppen (inverno seco e verão úmido), com temperatura média anual de 20,9ºC e pluviosidade anual de 1.203 mm. No setor, existem mais de 300 animais de diferentes idades das raças Alpina, Saanen e Boer em estado fisiológico de prenhes e lactação e vazias (Fig. 1). Figura 1. Exemplares de cabras das raças Alpina e Sannen em lactação da UFV. Os animais foram contidos com cabresto para análise em toda extensão do corpo, de forma visual, antes da coleta para constatar se havia crescimento de cashmere. As cabras que apresentaram fibra de cashmere foram escovadas com escova de cerdas. As amostras retiradas da escova foram embaladas separadamente em sacos plásticos transparentes e identificadas com o número do animal. Após o treinamento e a coleta das amostras de cashmere foram geradas imagens e vídeos para servir de auxilio no treinamento de outros produtores e técnicos.  

Resultados e Discussão

Segundo Coelho (2014), cabras entre 1 e 11 anos do Setor de Caprinos da Universidade Federal de Viçosa apresentam crescimento de cashmere no verão, inverno e outono, com o desprendimento da fibra ocorrendo no início da primavera. Porém no treinamento e coleta deste estudo o mês realizado foi o de outubro, encontrando apenas 50 cabras apresentando desprendimento de cashmere (Fig.2). O número reduzido de animais com desprendimento da fibra na data do treinamento pode ser devido à época, temperatura e umidade na cidade.  Figura 2. Exemplar da raça Alpina apresentando desprendimento de cashmere na região do costado. (setas) Do mês de setembro á outubro, próximo a data da coleta, que foi  realizada nos dias 21, 22 e 23, houve uma elevação da temperatura (Fig.3), bem com um aumento da umidade relativa (Fig.4) que seguiram aumentando após a coleta. A combinação de elevadas temperaturas e umidades aumenta o estresse e dificultam a transpiração do animal, provavelmente, foi isso que ocasionou a antecipação da queda da cashmere antes da coleta ser realizada. Figura 3. Gráfico esquemático das temperaturas máxima e mínima da estação meteorológica de Viçosa (MG) nos meses de setembro, outubro e novembro de 2016. Figura 4. Gráfico esquemático da Umidade relativa máxima e mínima da estação meteorológica de Viçosa (MG) nos meses de setembro, outubro e novembro de 2016. A época do ano em que foi realizado o treinamento também não foi propicia para a coleta de cashmere em muitos animais. Estudo realizado por Coelho (2014) mostra que   cabras apresentam a presença de cashmere em todo o corpo na época da primavera. Na coleta os animais apenas apresentavam cashmere no pescoço e costado  com resquícios de fibra, deixando claro o seu desprendimento antecipado. Entretanto, foi observada a presença fibras curtas indicando um possível crescimento inicial de fibra o que causando uma dificuldade das fibras soltarem do corpo do animal na escovação. Além de ajudar na identificação do momento correto de se realizar a coleta o treinamento também ensina a forma de coletar, que deve ser feita visando escovar os animais somente na direção do crescimento dos pelos, pois a escovação errada pode causar o rompendo e a diminuição comprimento da fibra. Bem como o manejo adequado dos animais preconizando evitar que tenham contato direto com cama e piso de barro vermelho, pois mancha a fibra e aumenta o gasto com água no processo de beneficiamento da fibra. Tais resalvas são importantes para a obtenção de um produto final com alta qualidade. Com as observações feitas a partir do treinamento, foi confeccionado um folder explicativo composto de três dobras (Fig. 5 e Fig. 6), contendo informações que servirão de auxilio aos produtores para maiores entendimentos sobre a produção de cashmere como: que animal produz; em que época do ano deve ser coletada; como se identifica a fibra no animal; qual a forma de coleta apropriada e os manejos importantes para o reconhecimento. Figura 5. Lado 1 do folder contendo informações básicas sobre o projeto. Figura 6.  Lado 2 do folder contendo informações sobre o que é cashmere, como identificar e coletar e manejos importantes com os animais. Durante o treinamento foram pontuados três procedimentos necessários para que se tenha maior êxito na coleta de uma fibra cashmere de qualidade, tais como: identificação dos animais que apresentam produção e desprendimento da fibra, realização da coleta de forma correta visando à obtenção de fibra inteiras e de melhor qualidade e o manejo adequado com os animais preconizando um melhor aproveitamento e produto final resultado da fibra.  

Conclusões

Foi possível realizar com êxito o treinamento de técnicos para reconhecer e coletar a fibra de cashmere de forma que tronasse a fibra viável para a indústria têxtil. Durante o treinamento foi observado que as condições meteorológicas da cidade na data do treinamento não foram propicias para a coleta de muitas amostras. Contudo o conhecimento, que é o resultado do treinamento permitiu que os discentes pudessem elaborar um folder explicativo para auxiliar em treinamentos de técnicos e demais produtores e difundir a fibra de cashmere no Brasil.

Gráficos e Tabelas




Referências

CCMI. Definition of cashmere. The Cashmere and Camel Hair Manufacturers Institute, Boston. Disponível em: http://www.cashmere.org. Acesso em 09 dez. 2016. COELHO, L.S. 2014. Características da capa externa de caprinos em ambiente tropical, 82p Dissertação (Mestrado em Zootecnia). Instituto de Zootecnia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. COELHO, L.S.; MODESTO, E.C. 2016. Identification and characterization of cashmere in goats from northeastern of brazil. In: Paper presented at The 90th Textile Institute World Conference, Poznan, Polony. GOMES, B.V. 2016. Conjuntura trimestral de Caprino-Ovino Pernambuco. In: Nota técnica nº 1, Conab. HOLST, P. J.; CLARKE, W. H.; MADDOCKS, I. G. 1982. Skin and fleece characteristics of two groups of feral goats. Aust. J. Exp. Agric., v.22, p. 173–176. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Diretoria de Pesquisas. Coordenação de Agropecuária. Pesquisa da Pecuária Estadual 2015. Disponível em:. http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=rj&tema=pecuaria2015 e http://cidades.ibge.gov.br/xtras/uf.php?lang=&coduf=33&search=rio-de-janeiro. Acesso em: 09 dez 2016. INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA- INMET. Disponível em: http://www.inmet.gov.br/sim/abre_graficos.ph  Acesso em: 14 dez 2016. MARTINS, E. C.; MAGALHAES, K. A.; SOUZA, J. D. F.; BARBOSA, C.M.P.; GUIMARAES, V.P. Panorama e perspectiva mundial da ovinocultura e caprinocultura. Disponível em: https://www.embrapa.br/documents/1355090/0//Panorama+Mundial+Caprinocultura+e+Ovinocultura/d15ea59a-d9d1-44369f82-b84870d766ef?version=1.0  Acesso em:18 de  jan de 2017. MCDONALD, B., HOEY, W., HOPKINS, P. 1987. Cyclical fleece growth in cashmere goats. Australian Journal of Agricultural Research, v. 38, p. 597–609. MCGREGOR, B. 2000. Recent advances in marketing and product development of Mohair and Cashmere. In:7th International Conference on Goats, France. MCGREGOR, B. 2006. Benchmarks for Cashmere A report for the Rural Industries Research and Development Corporation. In: Rural Industries Research and Development Corporation, RIRDC Publication No 06/015, Australia. MCGREGOR, B; C. KERVERN; S. TOIGONBAEV.  2011. Sources of variation affecting cashmere grown in the Pamir mountain districts of Tajikistan and implications for industry development. In: Small Rumin research. Res. 99, p. 07-15. MCGREGOR, B. 2012. Properties, Processing and Performance of Rare Natural Animal Fibres. A review and interpretation of existing research results. In: Rural Industries Research and Development Corporation, RIRDC Publication No. 11/150, Australia. MCGREGOR, B. 2014. Quality attributes of commercial cashmere. In: South African Journal of Animal Science, 34 (Supplement 1), p 137-140, 8th International Conference on Goats. RYDER, M.L. 1966. Coat structure and seasonal shedding in goats. Animal Production, v. 8, p. 289–302.





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