USO DA UREIA COMUM OU PROTEGIDA NA SUPLEMENTAÇÃO DE OVELHAS EM LACTAÇÃO: PARÂMETROS PRODUTIVOS, NUTRICIONAIS E METABÓLITOS

Tamires Soares de Assis1, Gilberto de Lima Macedo Junior2, João Vitor Cherubin3, Érica Beatriz Schultz4, Marina Elizabeth Barbosa Andrade5, Luciano Fernandes Sousa6, Maria Julia Pereira de Araujo7, Thuane Ariel Valadares de Jesus8
1 - Universidade Federal de Uberlândia
2 - Universidade Federal de Uberlândia
3 - Universidade Federal de Uberlândia
4 - Universidade Federal de Viçosa
5 - Universidade Federal de Jaboticabal
6 - Universidade Federal do Tocantins
7 - Universidade Federal de Uberlândia
8 - Universidade Federal de Uberlândia

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito da utilização da ureia convencional e da ureia protegida sobre o consumo, metabólitos e desempenho de ovelhas em lactação. Foram utilizadas 12 ovelhas (seis em cada tratamento), que receberam silagem de milho como volumoso e proteinado com diferentes fontes de nitrogênio não protéico (ureia convencional e ureia protegida). As ovelhas foram separadas em 2 piquetes a partir de 60 dias até 135 dias de gestação, 15 dias antes do parto as ovelhas foram confinadas e permaneceram até os 90 dias de lactação e os filhotes foram mantidos com suas mães. O experimento foi realizado na Fazenda Experimental Capim Branco da Universidade Federal de Uberlândia. Na fase do pré-parto, as ovelhas foram pesadas e mensuradas as medidas corporais, circunferência do barril (CB) e escore de condição corporal (ECC). Imediatamente após o parto, as ovelhas foram pesadas e tomadas as seguintes mensurações: CB; peso da cria; peso da placenta. Na lactação, nos períodos 0, 15, 30, 45, 60, 75 e 90 dias, foi mensurado o peso corporal e as seguintes medidas biométricas: CB e ECC. Foram realizadas coletas de sangue das ovelhas nos períodos 0, 15, 30, 45, 60, 75, 90 dias Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado com medidas repetidas no tempo, arranjados 2 parcelas. Não houve diferença estatística no peso, CB e ECC das ovelhas nos diferentes tratamentos. Foi verificada equação quadrática nas avaliações de peso corporal, circunferência do barril escore de condição corporal das ovelhas durante a lactação. Houve diferença estatística no perfil metabólico das ovelhas entre os 2 tratamentos para ureia e albumina no momento do parto e durante a lactação houve efeito linear decrescente para creatinina e efeito quadrático para colesterol e triglicerídeos.

Palavras-chave: nitrogênio não protéico, nutrição, suplementação

USE OF COMMON OR PROTECTED UREA IN THE SUPPLEMENTATION OF EWES IN LACTATION: PRODUCTIVE, NUTRITIONAL AND METABOLITARY PARAMETERS

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effect of conventional urea and protected urea on the consumption, metabolites and performance of lactating ewes. Twelve sheep (six in each treatment) were used, which received corn silage as voluminous and protected with different sources of non-protein nitrogen (conventional urea and protected urea). The ewes were separated in 2 pickets from 60 days to 135 days of gestation, 15 days before delivery the sheep were confined and remained until the 90 days of lactation and the pups were kept with their mothers. The experiment was carried out at the Experimental Farm Capim Branco of the Federal University of Uberlândia. In the prepartum phase, the sheep were weighed and measured body measurements, barrel circumference (CB) and body condition score (ECC). Immediately after delivery, the sheep were weighed and the following measurements were taken: CB; Weight of the baby; Weight of the placenta. At lactation, at periods 0, 15, 30, 45, 60, 75 and 90 days, the body weight and the following biometric measurements were measured: CB and ECC. Blood samples were collected from the sheep at periods 0, 15, 30, 45, 60, 75, 90 days. A completely randomized design was used with repeated measures in time, arranged 2 plots. There was no statistical difference in weight, CB and ECC of the sheep in the different treatments. It was verified quadratic equation in the evaluations of body weight, circumference of the barrel body condition score of the sheep during lactation. There was a statistical difference in the metabolic profile of the sheep between the two treatments for urea and albumin at the time of delivery and during lactation there was a linear decreasing effect for creatinine and a quadratic effect for cholesterol and triglycerides.
Keywords: Non-protein nitrogen, nutrition, supplementation


Introdução

A ovinocultura tem se destacado como atividade em crescimento dentro do agronegócio brasileiro, como fonte de desenvolvimento rural e geração de renda, uma vez que esta atividade proporciona ao mercado carne de valor agregado, além de, produzir leite, lã e pele como alternativas para subsistência. Alimentação representa maior custo dentro dos sistemas de produção animal. Visto essa importância, é fundamental planejamento nutricional no qual seja possível equalizar entre os custos de produção da alimentação dos animais e desempenho dos mesmos que irá representar receita final do sistema de produção. Em se tratando das necessidades nutricionais, atenção especial deverá ser dada na época de cobertura, gestação e durante a lactação. Atualmente a utilização de compostos nitrogenados não proteicos, tal como ureia, na alimentação e suplementação de rebanhos pode ser feito como vantagem, em razão de, possuir baixo custo e ser capaz de substituir parte das exigências proteicas dos animais (SANTOS et. al., 2011). Contudo, a alta concentração de amônia no rúmen pela inclusão de ureia na alimentação pode comprometer o animal, já que possui alta solubilidade. Um dos principais problemas é a intoxicação do animal por acúmulo de amônia no sangue por exceder a capacidade hepática de detoxificação. Com isso, a utilização de nitrogênio não proteico de liberação gradativa para ruminantes pode ser uma estratégia para substituir parte da proteína verdadeira e da ureia convencional com intuito de melhorar o desempenho animal e fatores econômicos, já que, a proteína verdadeira apresenta um maior custo de produção e disponibilidade limitada e a ureia convencional pode causar intoxicação. Portanto, o propósito desse trabalho foi analisar os efeitos da suplementação com ureia convencional e ureia protegida sobre consumo, perfil metabólico, desempenho das ovelhas em lactação.

Revisão Bibliográfica

Durante a gestação ocorrem transformações que afetam o aparelho reprodutivo e o organismo do animal, sendo o terço final da gestação o de maior desenvolvimento para o peso do feto.  Analisando o período de gestação completo das ovelhas, no início a exigência total de nutrientes é consideravelmente aos requeridos para mantença, uma vez que o crescimento fetal é reduzido. Nos últimos 60 dias de gestação, a exigência chega a alcançar 175% dos requerimentos de ovelhas não gestantes de mesmo peso corporal (NRC, 1989).  O período de desenvolvimento pré-natal é considerado uma das fases mais críticas e, através da nutrição é possível alterar a curva de crescimento e a composição corporal dos animais. Durante o crescimento fetal, a baixa disponibilidade de nutrientes, consequência da nutrição inadequada da mãe, pode afetar o desenvolvimento de alguns órgãos, afetando a fisiologia do animal ao nascer, bem como podendo elevar as taxas de mortalidade, baixo peso ao nascer e maior tempo para chegar ao abate (MACEDO JÚNIOR, 2008). Outra fase que se deve atentar é durante lactação, de acordo com Perez, Geraseev e Quintão (2009), nesta fase a exigência do animal é representada pela quantidade de nutrientes que é excretado no leite diariamente, portanto, fatores com quantidade de leite produzido e teor de gordura afetam diretamente na exigência da ovelha. O nitrogênio não proteico (NNP) não denominado como proteína, quer dizer, não são aminoácidos ligados por cadeias peptídicas e é encontrada tanto em animais quanto nas plantas. A ureia possui características específicas: é deficiente em todos os minerais, não possui valor energético próprio; é extremamente solúvel e no rúmen é rapidamente convertida em amônia, no entanto se fornecida em doses elevadas pode ocasionar toxidez (MAYNARD et. al., 1984) O baixo custo gerado pela inclusão de ureia nas rações é condicionado pela atuação dos microorganismos ruminais, pois estes têm a capacidade de converter NNP em proteína de alto valor biológico, podendo assim substituir a proteína verdadeira que apresentam um maior custo (PAIXÃO et. al., 2006). Desta forma, o uso da ureia em excesso ou sem a disponibilidade, pode resultar na intoxicação do animal ou maior gasto energético pela conversão de amônia em ureia e aumentando o custo de produção. Deste modo, está sendo desenvolvidas tecnologias por empresas de nutrição para diminuir os riscos de intoxicação, com o uso de polímeros que promovem uma hidrolise adequada dos compostos, mas avaliações em relação ao custo/benefício ainda estão sendo realizadas (SILVA, 2012). A ureia protegida é um produto disponível no mercado recentemente, produto este que, se diferenciam da ureia comum por possuir uma película que envolve o grão promovendo uma liberação mais lenta de amônia quando consumida pelo animal, evitando intoxicação e melhor absorção (TEDESCHI et. al., 2002). Desta forma, possui efetividade como a ureia convencional, porém, diferenciada no tempo de liberação gerando melhor aproveitamento pelo animal e concomitantemente melhorando o desempenho. A utilização do nitrogênio não proteico de liberação gradativa no rúmen pode ser uma estratégia para diminuir a utilização das fontes de proteína verdadeira e da ureia pecuária em dietas para ruminantes, com vantagens de diminuir os riscos com intoxicação por ureia, aumentar o espaço para inclusão de ingredientes na dieta, substituir fontes de proteína verdadeira de alto custo e/ou disponibilidade limitada, podendo ainda melhorar o sincronismo de nutrientes no rúmen, sem comprometer o desempenho produtivo de ruminantes (Sousa et al., 2010). A ureia peletizada, recoberta por um polímero biodegradável, é capaz de liberação controlada. Trata-se de uma fonte altamente concentrada de nitrogênio (42% de N), que pode alterar a função ruminal, fornecendo nitrogênio às bactérias ruminais numa velocidade que otimiza sua conversão em proteína microbiana (Akay et al., 2004). Gelinski, Andriguetto e Rossi (2000) afirmam que, esta fonte de NNP de forma protegida, não causa intoxicação por amônia já que é liberado gradativamente, distinto do NNP de liberação rápida, desta forma, haverá disponibilidade de amônia constante no ambiente ruminal sendo utilizados pelas bactérias celulolíticas, que beneficia a digestão da celulose. A concentração de energia fermentável no alimento do animal determina a quantidade de amônia que vai ser fixado na proteína do microorganismo. A disposição e o tipo de carboidrato influência o aproveitamento de N no rúmen, e quando utilizado, faz com que há o crescimento das bactérias. Assim, para diminuir as perdas de compostos nitrogenadas e ou, maximizar a incorporação em proteína microbiana há concomitantemente a necessidade de disposição de energia para que o processo seja efetivado (RUSSELL et. al., 1992).

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no setor de Ovinocultura da fazenda Capim Branco da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia. O período experimental teve duração de 105 dias (março a junho de 2015). Foram utilizadas dezoito ovelhas gestantes da raça Santa Inês que foram avaliadas nos últimos 15 dias de gestação e durante a lactação (90 dias). As ovelhas receberam silagem de milho como alimento, no qual a oferta garantia 10% de sobra, sendo ajustado a cada pesagem, e as crias se mantiveram com suas mães do nascimento até os 90 dias de desmame, no qual, só recebia leite materno como fonte de alimento. Foram utilizados 2 tratamentos que foi balanceado um proteinado (tabela 1) com diferentes fontes de nitrogênio não proteico (ureia convencional e ureia protegida). Sendo o proteinado ofertado livremente. A alimentação foi fornecida duas vezes ao dia, as 8:00 e 16:00 horas contendo silagem de milho e, em cada baia foi instalado cocho acessório para fornecimento dos proteinados. As ovelhas foram sincronizadas e cobertas por monta natural de 2 machos reprodutores da raça Dorper e após confirmação da prenhez, se mantiveram a pasto, recebendo o mesmo proteinado balanceado para o rebanho da fazenda e com disponibilidade de água. Aos 60 dias de gestação no período pré-experimental as ovelhas foram divididas em dois piquetes de 800m2 de capim Urochloa Brizantha, providos de comedouro e bebedouro, onde cada piquete foi ofertado um tipo de proteinado (ureia convencional e ureia protegida) e água à vontade. Os piquetes foram adubados com ureia agrícola, super simples e cloreto de potássio nas quantidades adequadas para manter a forragem com 30 cm de altura. Nos últimos quinze dias antes do parto (135 dias de gestação) as ovelhas foram confinadas em duas baias coletivas, com piso concretado e cama de maravalha, distribuídas de forma idêntica à que estavam no pasto, mantendo os diferentes proteinados para cada baia e começaram a receber silagem de milho como alimento principal. Depois de sete dias que todas ovelhas já tivessem paridas, as mesmas foram transferidas para baias coletivas de piso suspenso ripado. Mantendo a mesma distribuição anterior. Na fase do pré-parto, as ovelhas foram pesadas e mensuradas as medidas corporais, circunferência do barril (CB) e escore de condição corporal (ECC). Essas medidas foram feitas no dia que as ovelhas saíram do pasto para serem confinadas (135 dias de gestação). As medidas foram executadas na parte manhã. Mensurações de peso e CB foram realizadas com auxílio de uma balança eletrônica e fita métrica, respectivamente. O ECC foi avaliado através do toque na região lombar do animal variando de 1 a 5, e se baseia na sensibilidade da palpação à deposição de gordura e à musculatura nas vértebras. Pode-se trabalhar com intervalos de 0,5 (1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0; 3,5; 4,0; 4,5; 5,0).  Todas as mensurações foram avaliadas pelo mesmo avaliador. Imediatamente após o parto, as ovelhas foram pesadas com auxílio de uma balança eletrônica e após as pesagens foram tomada as seguintes mensurações: circunferência do barril (CB) - tomada ao redor da cavidade abdominal, na altura do rumem; peso da cria; peso da placenta - coletado em saco plástico quando exposta no piso das baias após o tempo de expulsão e posteriormente pesada em balança eletrônica. Na lactação, nos períodos 0 (representa o dia que os animais foram colocados nas baias suspensas com piso ripado), 15, 30, 45, 60, 75 e 90 dias, foi mensurado o peso corporal com auxílio de balança eletrônica e as seguintes medidas biométricas: circunferência do barril (CB) e escore de condição corporal (ECC). As avaliações de medidas biométricas, peso corporal e do ECC foram realizadas pela mesma pessoa. Sempre no período da manhã e antes do fornecimento da primeira refeição do dia. Foi avaliado o consumo de matéria seca (CMS) das ovelhas durante 90 dias de lactação. Para analisar o consumo da silagem de milho, eram amostradas diariamente e pesadas à silagem de milho a ser ofertada e as sobras de cada tratamento que eram retiradas após 24 horas. Para obter a amostra composta semanal das sobras e do ofertado de silagem de milho, homogeneizou todas as coletas realizadas durante a semana retirando uma nova amostra total, está foi congelada para análise de matéria seca no laboratório. Posteriormente foi pesado 500g de cada amostra e foi feito a primeira etapa de matéria seca (estufa de 65°C) no qual permaneciam por 48h. Após isso, a amostra foi moída em moinho tipo Willey e, novamente a amostra foi homogeneizada e pesada 1g em balança eletrônica científica e então se realizou a segunda etapa de matéria seca (estufa de 105°C). Dessa forma, estimou-se o consumo de matéria seca total por baia semanalmente, gerando um gráfico com o consumo de cada baia para comparação descritiva. Foi realizada análise do perfil metabólico das ovelhas por meio da coleta de sangue realizado no momento do parto (imediatamente ao final do parto). Após o parto eram realizadas pela manhã com os animais em jejum nos seguintes períodos: 0 (momento em que foram para as baias suspensas), 15, 30, 45, 60, 75 e 90 dias. A coleta foi realizada por venopunção da jugular em tubos vacuolizados sem anticoagulante. Após a coleta, as amostras ficaram foram centrifugadas por 10 minutos a 2500 rpm, transferindo-se o soro para micro tubos com capacidade de 0,5mL para armazenamento e posterior análise. As análises bioquímicas foram realizadas utilizando-se kits de diagnóstico com princípios metodológicos enzimáticos da empresa Labtest Diagnóstica®. Os metabólitos determinados foram: ureia, albumina, creatinina, proteína totais, ácido úrico, colesterol e triglicerídeos. As médias dos tratamentos foram avaliadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade do erro tipo I. Já os períodos foram avaliados por regressão também a 5% de probabilidade do erro tipo I. Os dados de consumo de silagem de milho são apresentados de forma descritiva. Para os dados de escore de condição corporal utilizou-se estatística não paramétrica.

Resultados e Discussão

Em análise descritiva, é possível observar a variação da porcentagem de matéria seca na silagem de milho fornecida para as ovelhas durante as semanas de lactação (Figura 1). Para os dois tratamentos foi observado queda no CMS durante as duas primeiras semanas, pois o animal está passando por um período de transição. Nesse momento a ovelha ainda não apresenta capacidade fisica e hormonal para pelo consumo. Nos ruminantes, quando se considera toda  gestação, o terço final é o período de maior crescimento fetal,  que resulta em maior exigência nutricional da mãe, além de ocorrer modificações hormonais o que leva decréscimo no consumo de matéria seca (CMS) durante o final da gestação (BONFIM & BARROS, 2006). Após o parto, com início da produção de leite, o animal aumenta sua exigência nutricional em período em que CMS ainda está reduzido (RABELO & CAMPOS, 2009). Posteriormente a esse período, os animais possuem consumo inconstante de matéria seca que ocorre concimitamente a variação de matéria seca da silagem de milho ofertada, no qual, quando o teor de matéria seca aumentou gerou aumento no CMS, e quando a porcentagem de matéria seca dimnuiu houve queda no CMS. Segundo o NRC (2001), o existe uma correlação negativa entre CMS e teor de umidade da silagem, de forma que, para cada 1% de umidade contida no alimento reduz 2% do consumo do alimento. Ressalta-se que o pico de lactação em ovinos ocorre por volta da quarta semana, onde vemos o maior consumo de matéria seca em ambos os tratamentos. Houve efeito significativo (P>0,05) entre os tratamentos apenas para os níveis de ureia e albumina no sangue no momento do parto, sendo o tratamento ureia comum (UC) superior ao tratamento ureia protegida (UP). As variáveis de creatina, proteínas totais, ácido úrico e colesterol não obtiveram diferença estatística (Tabela 2). As concentrações de ureia e albumina no sangue estão ligadas à ingestão de proteínas na ração, de forma que, quanto maior a ingestão de proteínas resulta em aumento na concentração sanguínea de ureia e albumina. Todavia, o efeito sobre a ureia se apresenta rapidamente quando comparado ao efeito sobre a albumina, que é de menor magnitude e ocorre tardiamente (CONTRERAS; WITTWER; STEHR, 1991). A ureia no sangue mede o escape de nitrogênio do rumem na forma de NH3 (amônia). Esse composto é tóxico aos animais de maneira geral, obrigando o animal a converter em ureia para excretar o excesso. Esse processo ocorre no fígado em larga escala, e esse aumento no nível sanguíneo de ureia nos animais tratados com UC indica maior perda do nitrogênio ruminal. A ureia sem proteção apresenta alta solubilidade ruminal. Diante desse quadro, infere-se que ao ser solubilizado no rumem em amônia, essa não foi capturada pelos microorganismos ruminais para formar a proteína microbiana. Fazendo com que o rúmem enviasse o excesso de amônia para o fígado, a fim de, converter em ureia para ser excretada. Como a UP apresenta liberação lenta, podemos ver menor perda de nitrogênio do ambiente ruminal. Não houve efeito significativo (P>0,05) para albumina, creatinina, proteínas totais, colesterol, triglicerídeos e ureia sobre a concentração sanguínea em função dos tratamentos (Tabela 2), no pós-parto. A variável creatinina teve queda, enquanto as concentrações de colesterol e triglicerídeos obtiveram equação quadrática durante os períodos avaliados. A massa muscular é o fator que determina a quantidade de creatina no organismo, que por sua vez determina a quantidade de creatinina. Entretanto, a ingestão de proteína pouco afeta na quantidade de creatinina formada que é relativamente constante em determinado individuo (KANEKO et. al., 1997). Estudos realizados em cabras leiteiras, Chiofalo et al. (2009) observaram que o momento do parto houve aumento nos valores de creatinina, em consequência da mobilização de proteína muscular com a finalidade de produzir e fornecer energia no início da lactação. Os valores de creatinina foram maiores que os estudos realizados por Santos et. al. (2012), no qual obtiveram média geral de 0,73 mg/dL. Desta forma, pode-se afirmar que após o parto as ovelhas tiveram alta mobilização proteica por uma série de fatores, que no decorrer do período experimental queda de creatinina na concentração sanguínea é resultado do balanço energético positivo, no qual, os animais supriram sua demanda sem a necessidade de mobilização corporal como fonte energética e inicia sua recuperação corporal, resultando em ganho de peso no decorrer dos períodos avaliados (tabela 5). Segundo González e Silva (2006) os valores de colesterol apresentam-se menores no período do parto do que nos períodos pré e pós-parto, de forma que, no início da lactação os valores são baixos e ocorre o aumento gradativo até a 10ª semana de lactação. Nas semanas de lactação o aumento dos níveis de colesterol sérico está associado à acumulação de tecido adiposo (BUSATO et. al., 2002). Aos 45 dias o teor de colesterol no sangue demonstrou queda, coincidindo com o pico de lactação de ovelha, menor CMS (Figura 1) e perda de peso (tabela 5), assim, foi necessário que o animal mobilizasse reservas energéticas para suprir sua energia de mantença e produção de leite. Os ácidos graxos não esterificados têm os triglicerídeos como sua maior forma de estoque, porém de menor solubilidade. Segundo Chamberlain & Wilkinson (2002), os triglicerídeos possuem maiores concentrações sorológicas no período de transição, que corresponde o período que antecedem e procedem ao parto. Os valores de triglicerídeos na Tabela 3, estão dentro do padrão (9-30 mg/dL) descritos por Kaneko et. al. (2008). Na avaliação do perfil metabólico proteico, comparando com valores de referência, variável albumina apresentou-se semelhante (24 - 30 g/l = 2,4 - 3,0 g/dl), enquanto que a concentração de proteína totais obteve valores abaixo (60 – 79 g/l = 6,0 – 7,9 g/dl) para a espécie durante a média de todas as semanas avaliadas (KANEKO, 1989). A síntese de proteína está relacionada com o estado nutricional do animal, visto que os valores de proteínas totais estão abaixo do recomendado por alguns pesquisadores, esse resultado pode ser consequência do período em que o animal diminui seu CMMS. Os teores de ureia sérica é reflexo direto da quantidade de proteína ou nitrogênio não proteico, como a ureia, usadas nas dietas dos ruminantes, como também o nível de energia disponível no rúmen, no qual a microflora faz uma associação entre amônia e energia para a síntese microbiana (GONZALEZ & SILVA, 2006). Quando avaliado os níveis de ureia no sangue, foi observado que os valores estão dentro da normalidade com os valores de referência (24-60 mg/dL) sugeridos por González e Ribeiro (2000). Não foram observadas diferenças nas variáveis de peso pré-parto, CB pré-parto, ECC pré-parto, peso parto, CB parto, peso placenta e peso da cria parto analisadas na tabela 4. Ressalta-se que a média geral do ECC (abaixo de 3,0) e peso das crias ao parto estiverem dentro dos valores esperados na literatura.  Segundo a Gonzaga Neto et. al. (2005), para ovelha obter alta produtividade, o escore de condição corporal precisa estar próximo de 3, ressaltando que no período de parto e lactação é normal que os animais percam condição corporal, já que a exigência nutricional aumenta. Assim, infere-se que o uso de proteinado associado a bom volumoso pode ser alternativa viável para nutrição de ovelhas gestantes. Não verificou diferença estatística no peso de placenta entre os tratamentos, assim como o peso das crias no parto já que existe correlação positiva entre as duas variáveis (tabela 4). Durante a gestação a capacidade de a placenta transportar glicose e aminoácidos para o feto aumenta permitindo um transporte específico de moléculas. E no final da gestação essa capacidade de transporte está diretamente relacionada com o tamanho de placenta que pode ser modificado com a nutrição materna (BELL & EHRHADT, 2002). Não houve efeito significativo (P>0,05) dos proteinados sobre o peso, circunferência do barril e escore de condição corporal no pós-parto (tabela 5). As variáveis de peso e circunferência do barril apresentaram equação quadrática, em função do período. Posteriormente a parição, as ovelhas tiveram uma queda na circunferência do barril devido à saída do feto quando comparado a CB no pré-parto (tabela 4), já na variável peso a sua queda foi gerado pela redução do CMS causada por funções hormonais. A necessidade de produção de leite é progressiva, e seu consumo ainda não atingiu o ápice resultando na mobilização de reservas corporais do animal que apresenta balanço energético negativo até os 45 dias, no qual, foi observado na Tabela 3, em que teor de colesterol sérico apresenta queda em resposta à mobilização corporal dos animais neste período avaliado. Segundo Cotlle (1991), o consumo desses animais é afetado pela condição corporal, pelo estágio de lactação, número de cordeiros amamentados, temperatura e natureza da dieta da ovelha. Observa-se na tabela 5 que após os 60 dias de lactação as ovelhas começaram a recuperar o peso e a condição corporal, bem como a aumentarem a circunferência do barril, o que eleva sua capacidade ingestiva. Nota-se que o escore corporal aos 90 dias já está próximo ao recomendado (2,5 a 3,0) (LIMA et. al., 2010). A avaliação de ECC representa o acúmulo de gordura no tecido do animal. Na Tabela 3, é possível observar que no decorrer do período experimental, os níveis de creatinina, colesterol e triglicerídeos vão alcançando a normalidade posteriormente ao período de maior exigência do animal e, como resultado, recuperação do ECC (tabela 5). No final do período mensurado, aos 90 dias, o cordeiro já está próximo do desmame, e as reservas corporais começam a ser repostas proporcionando um balanço energético positivo. Desta forma, pode-se afirmar que as ovelhas obtiveram uma boa recuperação de escore de condição corporal próximo ao desmame favorecendo sua eficiência reprodutiva para uma próxima estação de monta.

Conclusões

O fornecimento de proteinado com diferentes fontes de nitrogênio não proteico supriu as necessidades das ovelhas na fase de lactação promovendo recuperação pós parto. O uso das diferentes fontes de ureia deve ser analisado com critério em função grande diferença de preço entre as duas matérias primas.



Gráficos e Tabelas




Referências

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