Uso de estações alimentares por bezerras de corte em pastagem de azevém consorciado com leguminosas

Milene Marques Nunes1, Marta Gomes da Rocha2, Juliano Melleu Vicente3, Igor Binotto Benetti4, Luzilene da Silva Costa5, Eduarda Proença de Oliveira6, Daniele Alves de Oliveira7, Letícia Bogoni Bianchin8
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RESUMO -

Foi realizado o estudo do uso de estações alimentares por novilhas de corte em pastagem exclusiva de azevém ou em azevém consorciado com trevo vermelho ou ervilhaca. Os registros de estações alimentares foram feitos em seis ciclos de pastejo (manhã e tarde). A partir desses dados foram calculados o tempo de permanência na estação alimentar (seg.) e o número de estações alimentares por minuto. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com medidas repetidas no tempo, três tratamentos e três repetições de área. As novilhas visitaram número semelhante de estações alimentares por minuto (6,8±0,3) e permaneceram tempo similar em cada estação alimentar (10±0,4 seg.) nos diferentes sistemas forrageiros e períodos de avaliação. As novilhas de corte mantidas em pastagem de azevém consorciada com leguminosas em similar estrutura do dossel não modificam seu padrão de uso das estações alimentares.

Palavras-chave: estações por minuto, Lolium multiflorum Lam., tempo por estação, Trifolium pratense, Vícia sativa

Feeding stations utilization by beef heifers on ryegrass pasture intercropped with legumes

ABSTRACT - This experiment was carried out to study the use of feeding stations by beef heifers on exclusive ryegrass pasture or on ryegrass intercropped with red clover or vetch. The records of feeding stations were realized in six grazing cycles (morning and afternoon). From these data the time of stay in the feeding station (sec.) and the number of feeding stations per minute were calculated. The experimental design was completely randomized, with repeated measures arrangement, three treatments and three repetitions of area. The heifers visited a similar number of feeding stations per minute (6.8 ± 0.3) and remained similar time at each feeding stations (10 ± 0.4 sec) in different grazing systems and evaluation periods. The beef heifers kept on exclusive ryegrass pasture or with legumes in a similar sward structure do not modify their pattern of use of feeding stations.
Keywords: Lolium multiflorum Lam., station per minute, time by station, Trifolium pratense, Vicia sativa


Introdução

O azevém (Lolium multiflorum Lam.) é a forrageira anual de estação fria que se destaca entre as demais espécies utilizadas no estado do Rio Grande do Sul por manter maior oferta de alimento em quantidade e qualidade em um período de baixa produção da pastagem natural. O azevém pode ser cultivado de forma extreme ou consorciado com leguminosas como o trevo vermelho (Trifolium pratense) e ervilhaca (Vícia sativa). O estudo do comportamento ingestivo permite obter informações sobre as relações que controlam as respostas, tanto dos animais quanto do pasto, sendo as características estruturais do pasto determinantes do comportamento ingestivo. As estratégias que os ruminantes dispõem para explorarem as estações alimentares são importantes na definição do consumo desses em pastejo (Carvalho e Moraes, 2005). Esse trabalho foi realizado com o objetivo de estudar o uso de estações alimentares por novilhas de corte mantidas em pastagem de azevém consorciada com trevo vermelho ou ervilhaca.

Revisão Bibliográfica

O consórcio de gramíneas e leguminosas geralmente é vantajoso devido a vários fatores como favorecimento do desenvolvimento da gramínea pelo aumento no aporte de nitrogênio (N) no sistema solo pela fixação biológica do N pela leguminosa, aumento da produção total de forragem, aumento do período de utilização da pastagem e aumento do valor nutritivo (Silva & Saliba, 2007). De acordo com Carvalho e Moraes (2005), as regras de escolha e abandono das estações alimentares em um pasto afetam a quantidade de forragem ingerida pelo animal e a eficiência do processo de pastejo. O tempo de permanência dos animais na estação alimentar está relacionado à abundância de forragem e ao número de bocados por estação alimentar. O animal, ao reconhecer um local como “rico” em bocados potenciais, permanece  colhendo bocados até o ponto em que a quantidade de forragem diminui  e a taxa de consumo se iguala  a média de consumo na pastagem, abandonando a estação  em seguida, em busca de um novo local de pastejo. Conforme Carvalho et al. (2008), em situações de elevado nível de alimentação, os animais escolhem poucas estações alimentares enquanto passam bastante tempo explorando-as. Na medida em que há uma relação direta entre altura do pasto e massa de forragem, pastos mais baixos têm menor oferta de forragem. Por terem pouca biomassa, herbívoros apresentam um tempo de permanência pequeno nas estações alimentares de pastos baixos, pois rapidamente atingem o ponto de abandono. Após, os animais se deslocam para estabelecerem uma nova estação alimentar. Já em pastos altos, a alta massa de forragem presente proporciona um elevado tempo de permanência na estação alimentar e um número reduzido de estações alimentares são observadas num mesmo intervalo de tempo. Por isso, à medida que os animais colhem mais bocados e bocados mais pesados, há um aumento no tempo de permanência em cada estação (Carvalho et al., 2008).  Como resposta dos animais ao maior tempo de permanência nas estações alimentares, observa-se que os mesmos passam a estabelecer um menor número de estações alimentares por minuto de pastejo (Carvalho et al., 2008).

Materiais e Métodos

O experimento foi desenvolvido na UFSM/Santa Maria/RS. Os sistemas forrageiros foram: azevém (Lolium multiflorum Lam.), azevém consorciado com trevo vermelho (Trifolium pratense) ou ervilhaca (Vícia sativa). Na semeadura foram utilizados 45 kg/ha de sementes de azevém e nos consórcios foram acrescentados 50 e 10 kg/ha de sementes de ervilhaca ou trevo vermelho, respectivamente. O método de pastejo foi o de lotação contínua, com número variável de animais para manter a altura do dossel em 15±0,29 cm. Foram utilizadas 27 novilhas, com idade média inicial de oito meses e peso corporal de 143±5 kg. A altura do dossel e massa de forragem (MF) foram avaliados a cada 28 dias. A forragem proveniente dos cortes foi separada manualmente nos componentes botânicos e estruturais do pasto. Após a separação, esses componentes foram secos e foi calculada a participação percentual na MF. Os registros de estações alimentares foram feitos em seis ciclos de pastejo (manhã e tarde). Desses registros foram calculados o tempo de permanência na estação alimentar (seg.) e o número de estações alimentares por minuto. A simulação de pastejo foi realizada nas mesmas datas das avaliações de estações alimentares. Nessas amostras de forragem foram analisados o nitrogênio total e o teor de fibra em detergente neutro. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com medidas repetidas no tempo. Para as avaliações do uso de estações alimentares foram utilizadas nove repetições para cada tratamento, onde cada novilha foi considerada uma unidade experimental. Para comparar os tratamentos, as variáveis que apresentaram normalidade foram submetidas à análise de variância pelo procedimento Mixed do SAS®. As médias, quando verificadas diferenças, foram comparadas pelo procedimento lsmeans. A interação tratamento×períodos de avaliação foi desdobrada quando significativa a 5% de probabilidade. As variáveis também foram submetidas a teste de contrastes e correlação de Pearson.

Resultados e Discussão

As novilhas foram mantidas em semelhante massa de forragem (MF; 1621,6±71,6 kg/ha MS), altura do dossel (14,7±0,3 cm), massa de folhas (574,1±35,3 kg/ha MS), massa de colmos (465,5±42,8 kg/ha MS) e massa de material morto (522,2±49,4 kg/ha MS), independente do sistema forrageiro utilizado. Não houve interação entre sistemas forrageiros × períodos de avaliação para as variáveis estações alimentares por minuto (P=0,1282) e tempo em cada estação alimentar (P=0,1256). As novilhas visitaram número semelhante de estações alimentares por minuto (6,8±0,3) e permaneceram tempo similar em cada estação alimentar (10±0,4 seg.) nos diferentes sistemas forrageiros e períodos de avaliação.  O número de estações alimentares está ligado ao tempo que o ruminante permanece na estação alimentar (Baggio et al., 2009). O tempo de permanência na estação alimentar está relacionado com a abundância de forragem em cada estação (Carvalho e Moraes, 2005). Os animais movimentam-se em busca de locais que apresentem maior quantidade de lâminas foliares. A estrutura similar do dossel, nos sistemas forrageiros, proporcionou semelhança no uso das estações alimentares em azevém exclusivo ou consorciado com leguminosas. Também a baixa proporção de leguminosas na massa de forragem (MF), nas consorciações, pode explicar a similaridade dos padrões de uso das estações alimentares. No primeiro período de avaliação a participação da ervilhaca na MF foi de 19,7% e a de trevo vermelho foi de 4,8%; no segundo período de avaliação a participação da ervilhaca foi 13,2% e a do trevo vermelho foi de 4,4%; no terceiro período de avaliação, a participação da ervilhaca e do trevo vermelho foram semelhantes (1,07%); no quarto período de avaliação, a participação de ervilhaca foi de 0,08% e a de trevo vermelho de 1,1%. Conforme Niderkorn et al. (2016), a proporção ideal de leguminosas em consórcio com azevém,  para que a ingestão de forragem seja otimizada,  é entre 25 a 50% na MF. A pequena participação das leguminosas nos consórcios e a estrutura semelhante do dossel resultaram em similar composição química da forragem da simulação de pastejo nos diferentes sistemas (16,9±0,47 % de proteína bruta; 53,9±0,68% de fibra em detergente neutro),consequência  da semelhança no uso das estações alimentares por novilhas de corte em azevém exclusivo ou consorciado com leguminosas.

Conclusões

Novilhas de corte mantidas em pastagem exclusiva de azevém ou azevém consorciado com trevo vermelho ou ervilhaca, em similar estrutura do pasto, não modificam seu padrão de uso das estações alimentares.


Referências

BAGGIO, C. et al. Padrões de deslocamento e captura de forragem por novilhos em pastagem de azevém anual e aveia-preta manejada sob diferentes alturas em sistema de integração lavoura pecuária. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.2, p.215-222, 2009.   CARVALHO, P. C. de F.; MORAES, A. Comportamento ingestivo de ruminantes: bases para o manejo sustentável do pasto. In: MANEJO SUSTENTÁVEL EM PASTAGEM, 1., 2005, Maringá. Anais... Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2005. p.1-20 CARVALHO, P. C. de F. et al. Características estruturais do pasto e o consumo de forragem: o quê pastar, quanto pastar e como se mover para encontrar o pasto. Manejo estratégico da pastagem, v. 4, n. 2008, p. 101-130, 2008. NIDERKORN, V. et al. Associative effects between fresh perennial ryegrass and white clover on dynamics of intake and digestion in sheep. Grass and forage, p. 1-9, 2016.   SILVA, J. J.; SALIBA, E. de O. S. Pastagens consorciadas: Uma alternativa para sistemas extensivos e orgânicos. Vet. e Zootec. v.14, n.l, jun., p. 8-18,2007.