Uso de óleos vegetais de plantas nativas do Cariri cearense em dietas de vacas leiteiras: consumo e digestibilidade da matéria seca e produção de leite

Marcus Roberto Góes Ferreira Costa1, Joana Angélica Matias de Lima2, José Lopes Viana Neto3, Danilo Leite Fernandes4, Carlos Sérgio Teixeira Rocha5, Antonio de Sousa Brito Neto6, Werner Aguiar Gomes do Vale7, Alexon Reis Menezes dos Santos8
1 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Crato
2 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Crato
3 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Crato
4 - Universidade Federal do Cariri
5 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Crato
6 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Crateús
7 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Crato
8 - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Crato

RESUMO -

Foi avaliado o efeito do uso dos óleos de macaúba, pequi e soja sobre o consumo e a digestibilidade da matéria seca e a produção em vacas leiterias. Para tal avaliação utilizou-se três tratamentos onde estes diferiram entre si quanto ao tipo de óleo vegetal (macaúba, pequi e soja) utilizado na ração concentada à um nível de 2%. Os tratamentos foram distribuídos em um delineamento experimental em quadrado latino duplo 3×3, utilizando-se seis vacas adultas multíparas sem padrão racial definido no terço final da lactação. Com relação ao consumo e digestibilidade da matéria seca não foi observado diferença significativa (P>0,05), sendo as médias de 15,60 kg e 70,79%, respectivamente. Com relação a produção de leite a ração contendo óleo de pequi foi a que proporcionou maior produção (P<0,05), com uma média de 6,71 litros por dia. O óleo de pequi é uma excelente opção a ser utilizado em ração concentrada para vacas leiterias sem comprometer o consumo e a digestibilidade da matéria seca.

Palavras-chave: lipídeos, macaúba, nutrição de ruminantes, pequi

Use of vegetable oils from native plants of Cariri cearense in diets of dairy cows: intake and digestibility of dry matter and milk production

ABSTRACT - The effect of the use of macaúba, pequi and soybean oils on the intake and digestibility of dry matter and productions in dairy cows was evaluated. For this evaluation, three treatments were used in which they differed according to the type of vegetable oil (macaúba, pequi and soybean) used in the concerted diet at a level of 2%. The treatments were distributed in a 3x3 double latin square experimental design, using six multiparous adult cows with no defined racial pattern in the final third of lactation. Regarding dry matter intake and digestibility, no significant difference (P> 0.05) was observed, with averages of 15.60 kg and 70.79%, respectively. In relation to the production of milk, the diet with pequi oil was proportion to the highest production (P <0.05), with a mean of 6.7 liters per day. The pequi oil is an excellent option to be used in concentrated ration for dairy cows without compromising the consumption and dry matter digestibility.
Keywords: macaúba, ruminant nutrition, pequi


Introdução

A bovinocultura leiteira apresenta-se com uma atividade de grande importância no agronegócio da região do Cariri Cearense, onde se localiza um dos principais mercados consumidores de leite e seus derivados em virtude da alta densidade demográfica local. De acordo com o manejo do rebanho em fazendas produtoras de leite bovino, no terço final da lactação as vacas apresentam um decréscimo em sua de produção. Nesta fase o produtor pode reduzir a quantidade de ração concentrada para reduzir os custos destes animais, pois estes não responderão positivamente ao aporte de nutrientes sobre sua produção de leite. Ao mesmo tempo, não pode descuidar-se da nutrição desta categoria de animais pois é necessário que o escore corporal seja recuperado para que a vaca esteja apta a ser acasalada ou ser inseminada. O uso de aditivo nesta fase poderá proporcionar um melhor aproveitamento do volumoso fornecido em detrimento a supressão da oferta de ração concentrada. Desta forma surge a possibilidade de utilização de óleos vegetais como aditivo à ração concentrada para proporcionar estes efeitos benéficos sobre a fermentação ruminal. Uma opção interessante são óleos vegetais regionais, como o de pequi e macaúba, frutos típicos da região do Cariri Cearense, onde sua produção já está associada a cultura regional. Desta forma os óleos de pequi e macaúba apresentam características interessantes para serem utilizados como aditivos na ração de vacas leiteiras na região do Cariri Cearense.

Revisão Bibliográfica

A suplementação da dieta de ruminantes com lipídios é realizada para aumentar a densidade energética da dieta, geralmente com baixo custo, e para manipular a fermentação ruminal através da alteração na digestão e absorção dos nutrientes. De acordo com Jenkins (1993), a digestão dos carboidratos fibrosos pode ser reduzida em até 50% com a adição de menos de 10% de lipídios na dieta. Assim, tem-se a recomendação geral de que a gordura não exceda 6 a 7% da MS da dieta (JENKINS, 1993; DOREAU et al., 1997). A suplementação com lipídios tem sido explorada também como uma estratégia promissora para a redução na produção de metano (REIS et al., 2006).  Tal fato se deve ao efeito tóxico dos ácidos graxos livres, principalmente os poli insaturados, nas bactérias metanogênicas e protozoários (MACHMÜLLER e KREUZER, 1999; DOHME et al., 2000). A utilização de lipídios para a manipulação ruminal pode representar uma vantagem em relação aos ionóforos, por persistir o efeito mesmo após longos períodos de suplementação (REIS et al., 2006). Ainda segundo Reis et al. (2006), a suplementação com lipídios tem sido explorada também para manipular a qualidade dos produtos de origem animal. Com a pressão da área médica para redução total do consumo de gorduras saturadas e o uso crescente de gorduras animais e vegetais para aumentar a densidade energética das rações de vacas leiteiras, há um grande empenho para a modificação dietética da gordura do leite e da carne. O Caryocar brasiliense, ou pequi, é um fruto de grande interesse econômico tendo em vista que o óleo presente nele tem aplicações na medicina, na fabricação de cosméticos e na indústria petroquímica (BARBALHO et al. 2013). Em relação ao óleo, tanto na polpa como na amêndoa do pequi, pode ser observado o predomínio dos ácidos graxos insaturados, Lima et al. (2007) encontraram valores de 61% e 52%, respectivamente. Barbalho et al. (2013) descreveram que o óleo da amêndoa do pequi apresentou 15,07% de ácido palmítico (C16:0) e 31,01% de ácido oleico (C18:1). Em outro trabalho Deus (2008) caracterizou o óleo da amêndoa de pequi contendo quantidades interessantes de vitamina A (650 mcg/g) e vitamina B2 (360 mcg/g), além de apresentar 41,1% de ácido palmítico e 54% de ácido oleico. A palmeira Macaúba (Acrocomia aculeata), é uma espécie abundante na região do Cariri, produz frutos com dois tipos de óleos diferenciados pelos seus perfis graxos e conteúdo vitamínico-nutricional, merecendo destaque pelo potencial de produtividade industrial e, também, comercial devido às suas características sensoriais específicas (CALLEGARI et al., 2014). Com relação a caracterização do perfil de ácidos graxos do óleo da macaúba, Pimenta et al (2010) encontraram quantidades significativas de ácido láurico, C12:0, (41,42%) e oleico (29,22%). Conforme apresentado acima, os óleos de pequi e macaúba apresentam-se com características interessantes para serem utilizados como aditivos na ração de bovinos leiteiros.

Materiais e Métodos

O experimento foi desenvolvido no setor de bovinocultura do IFCE, campus Crato, no município de Crato, CE. Foram utilizadas seis vacas adultas multíparas sem padrão racial definido. Para não haver distinção no estágio fisiológico da lactação, o que afetaria a produção, todas as vacas utilizadas estavam no terço final da lactação. Os animais foram alocados em baias individuais providas de cochos e bebedouros e receberam a alimentação na forma de ração total composta por capim elefante in natura picado e ração concentrada a base de milho em grão moído, farelo de soja, núcleo mineral-vitamínico e óleo vegetal, sendo este incluso a 2% da ração concentrada (Tabela 1). O fornecimento dos alimentos foi administrado duas vezes ao dia às 07:00 e 15:00, em uma relação volumoso:concentrado de 75:25. Diariamente foram feitas pesagens do capim e da ração concentrada oferecidos e das sobras para a determinação do consumo de matéria seca. As formulações das rações concentradas foram baseadas na composição do capim elefante e conforme as recomendações do NRC (1989) para atender as exigências nutricionais, obtendo ao final dietas isoproteicas e isoenergéticas. Os tratamentos avaliados constituíram-se do tipo de óleo vegetal incluso na ração concentrada, no caso foram utilizados os óleos de macaúba, pequi e soja, compondo assim três tratamentos distribuídos em um delineamento experimental tipo quadrado latino duplo 3 x 3. O ensaio experimental constou de três períodos experimentais de 23 dias, sendo 16 dias de adaptação e sete para coleta de dados. As amostras do fornecido, das sobras e das fezes foram coletadas durante os sete dias de coleta e acondicionadas em freezer à -5ºC, e ao final de cada período as amostras foram descongeladas e misturada, formando uma amostra composta por animal/tratamento/período. Para a determinação do consumo da matéria seca as amostras compostas dos alimentos fornecidos e das sobras foram descongeladas e analisadas em um determinador de umidade para determinação da matéria seca. Na determinação da digestibilidade foi mensurada a produção fecal média através da pesagem das fezes recolhidas do piso da baia em um período de 24 horas nos dias de coleta e com base no teor de matéria seca destas obteve-se o coeficiente de digestibilidade da matéria seca. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o procedimento GLM do Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas - SAEG (UFV, 2001).

Resultados e Discussão

Os resultados obtidos para as variáveis consumo de matéria seca, coeficiente de digestibilidade e produção de leite estão apresentados na Tabela 2. Os valores obtidos para o consumo de matéria seca não diferiram entre si (P>0,05), mostrando que os óleos vegetais utilizados não afetaram esta variável e que o teor de lipídeo não depreciou a capacidade da digestão da fibra no rúmen. O valor médio para esta variável foi de 15,06 kg, próximo ao relatado por Eifert et al. (2006), que foi de 17,8 kg para animais alimentados com ração concertada contendo 2,25% de óleo de soja. A inclusão de óleo vegetal na ração dos animais avaliados também não influenciou a digestibilidade da matéria seca, não diferindo significativamente (P>0,05) entre os tratamentos, sendo o valor médio igual a 70,79%, indicando que a população microbiana gram-positiva foi pouco alterada pela presença do óleo, possivelmente em razão do nível de óleo utilizado (EIFERT et al., 2006). O valor obtido para o coeficiente de digestibilidade da matéria seca nesta pesquisa ficou próximo ao relatado por Eifert et al. (2005), que foi 70,02%, corroborando ao que os autores relataram quanto ao teor de óleo das rações. Com relação a produção de leite observou-se uma maior produção (P<0,05) para o tratamento contendo óleo de pequi o que pode ser explicado por um efeito benéfico que o óleo de pequi pode ter propiciado às bactérias fibrolíticas do rúmen, elevando a capacidade do aproveitamento da celulose e desta forma aumentando a disponibilidade de energia para a glândula mamária, refletindo em uma maior produção.

Conclusões

A utilização do óleos de macaúba, pequi e soja em rações para vacas no final da lactação apresentaram-se como uma alternativa viável para elevar o teor energético da dieta, sem comprometer o consumo e a digestibilidade da matéria seca. O óleo de pequi possibilitou um aumento na produção de leite dos animais, mostrando-se como um promissor ingrediente para rações concentrada de vacas leiterias.

Gráficos e Tabelas




Referências

BARBALHO, T.C.S.; PINHEIRO, A.D.T.; LUCENA, I.L. Caracterização físico-química do óleo de pequi (Caryocar brasilienses Camb.) In.: 53º Congresso Brasileiro de Química. Rio de Janeiro. 2013. CALLEGARI, F.C.; CREN, E.C.; ANDRADE, M.H.C. Perspectivas da utilização dos óleos da macaúba (Acrocomia aculeata (Jacq.)) no desenvolvimento de cosméticos. Anais... XX Congresso Brasileiro de Engenharia Química. Florianópolis. 2014. DEUS, T.N. Extração e caracterização de óleo do pequi (Caryocar brasiliensis Camb.) para o uso sustentável em formulações cosméticas óleo/água (O/A). Dissertação de Mestrado. Universidade Católica de Goiás. Goiânia. 2008. DOHME, F. et al. Comparative efficiency of various fats rich in medium-chain fatty acids to suppress ruminal methanogenesis as measured with RUSITEC. Canadian Journal of Animal Science, v.80, p.473–482, 2000. DOREAU, M.; CHILLIARD, Y.  Digestion and metabolism of dietary fat in farm animals. British Journal of Nutrition, v.78 (Suppl.1), p.S15–S35, 1997. EIFERT, E.C.; LANA, R.P.; LANNA, D.P.D.; LEOPOLDINO, W.M.; OLIVEIRA, M.V.M.; ARCURI, P.B; CAMPOS, J.M.S.; LEÃO, M.I.; VALADARES FILHO, S.C. Consumo, produção e composição do leite de vacas alimentadas com óleo de soja e diferentes fontes de carboidratos na dieta. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.1, p.211-218, 2006. EIFERT, E.C.; LANA, R.P; LEÃO, M.I.; ARCURI, P.B; VALADARES FILHO, S.C.; LEOPOLDINO, W.M.; OLIVEIRA, J.S.; SAMPAIO, C.B. Efeito da combinação de óleo de soja e monensina na dieta sobre o consumo de matéria seca e a digestão em vacas lactantes. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, n.1, p.297-308, 2005. JENKINS, T. C.  Lipid Metabolism in the Rumen.  Journal of Dairy Science, v.76, p.3851-3863, 1993. LIMA, A.; SILVA, A.M.O.; TRINDADE, R.A.; TORRES, R.P.; MANCINI-FILHO, J. Composição química e compostos bioativos presentes na polpa e na amêndoa do pequi (Caryocar brasiliense Camb.). Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.29, n.3, p.695-698, 2017. MACHMÜLLER, A.; KREUZER,.  Methane suppression by coconut oil and associated effects on nutrient and energy balance in sheep. Canadian Journal of Animal Science, v.79, p.65-72, 1999. NUTRIENTS REQUIREMENTS OF DAIRY CATTLENRC. National Research Council. 6th. Washington: National Academy Press, 1989. REIS, R.A.; MORAIS, J.A.S.; SIQUEIRA, G.R. Aditivos alternativos para a alimentação de ruminantes. Anais... II Congresso Latino-Americano de Nutrição Animal (II CLANA), São Paulo. 2006. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA. Sistema de análises estatísticas e genética-SAEG. Viçosa, 1995.