UTILIZAÇÃO DE APIS MELLIFERA AFRICANIZADA NA POLINIZAÇÃO DE CORIANDRUM SATIVUM (COENTRO)

Joanni da Cruz Gomes1, Franckin Amaro de Souza2, Antonia de Maria Filha Ribeiro3, Cinara da Cunha Siqueira Carvalho4
1 - Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
2 - Universidade Federal Rural do Sémi-Àrido
3 - Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
4 - Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes

RESUMO -

Os polinizadores são componentes essenciais para o funcionamento dos ecossistemas em geral, 75% das culturas e 80% das espécies de plantas com flores dependem da polinização entomófila e as abelhas são os principais polinizadores bióticos da natureza. A utilização de abelhas africanizadas como polinizadoras é considerado um dos métodos mais baratos pela facilidade de reprodução das colméias. O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho das abelhas africanizadas na polinização de coentro. Utilizou-se 120 enxames de Apis mellifera, onde distribuiu-se quatro colméias por hectare, dessas foram selecionadas cinco, das quais receberam os coletores de pólen. As malhas dos coletores foram colocadas às 6:15 h e retiradas às 12:15 h Conclui-se neste estudo que o horário de maior coleta de pólen foi entre 06:15 h e 08:15 h (horário de maior visitação), portanto o melhor horário para polinização. O pólen dominante na coleta foi de Coriandrum sativum comprovando a eficiência da Apis.

Palavras-chave: Polinização, Apis mellifera, Coentro

USE OF AFRICANIZED APIS MELLIFERA IN THE POLLINATION OF CORIANDRUM SATIVUM (CORIANDER)

ABSTRACT - Pollinators are essential components for ecosystem functioning in general, 75% of crops and 80% of flowering plant species depend on entomophilic pollination, and bees are the main biotic pollinators in nature. The use of Africanized bees as pollinators is considered one of the cheapest methods for the ease of reproduction of the hives. The objective of this work was to evaluate the performance of africanized bees in pollination of coriander. A total of 120 clusters of Apis mellifera were used, where four hives were distributed per hectare, five of which were selected from which the pollen collectors were collected, the collector mesh was placed at 6:15 and withdrawn at 12:15 h. In this study, the time of highest pollen collection was between 06:15 and 08:15 (the most visited time), thus the best time for pollination. The dominant pollen in the collection was Coriandrum sativum proving the efficiency of Apis.
Keywords: Pollination, Apis mellifera, Coriander


Introdução

A espécie Coriandrum sativum (coentro) pertencente à família das Apiacea e é uma hortaliça-condimento de ciclo anual, sendo uma espécie de polinização cruzada, realizada principalmente por insetos. No Brasil, o coentro é amplamente consumido como condimento e é a segunda hortaliça folhosa em importância para o Brasil, perdendo somente para a alface (WANDERLEY & NASCIMENTO, 2008; BERTINI et al., 2010). Em 2009, a produção nacional foi de 580.389 toneladas e a área plantada de 36.670 ha (HORTIVALE, 2011). A polinização é essencial para a manutenção da diversidade de espécies de plantas e provê alimentos para humanos e animais (BUCHMANN&NABHAN 1996). A utilização de abelhas africanizadas (Apis mellifera) como polinizadoras é viável devido à facilidade de reprodução das colméias, a existência na naturaza e possibilitada captura, bem como o grande número de de abelhas existentes por colméias e que em busca de alimentos, efetuam a polinização (FREE, 1970). No entanto, as abelhas são pouco valorizadas como polinizadores no Brasil, em países, como os Estados Unidos, os apicultores recebem por colméias para polinizar grandes culturas (NOGUEIRA COUTO, 1994). A abelha africanizada brasileira possui características que faz com que sejam superiores as Européias, por serem muito mais ativas e permanecerem na cultura por mais tempo, são melhores polinizadoras (BASUALDO; BEDASCARRASBURE; DE JONG, 2000). O objetivo do trabalho é avaliar o desempenho das abelhas africanizadas na polinização de coentro.

Revisão Bibliográfica

Uma cultura de grande importância social e econômica para o Brasil e vários outros países da América Latina, pois pode ser produzida durante o ano todo, agregando renda a vários produtores, devido à demanda do mercado. Dados de pesquisa de mercados de sementes e hortaliças, em 2009, a produção foi de 580.389 toneladas e a área plantada de 36.670 ha, segundo HORTIVALE (2011). Segundo dados científicos as espécies e cultivares de sementes de hortaliças mais vendidas são: o coentro com 100% das vendas das sementes (Grupo 1); seguida da abóbora rasteira, Alface, Beterraba, Cenoura, Couve-brócolos, Melancia, Melão, Pimentão, Pimenta e Tomate com 85% (Grupo 2); Cebolinha, Couve-flor, Couve-manteiga e Pimenta com um percentual 70% (Grupo 3); Abobrinha italiana, Berinjela, Maxixe, Rabanete e Repolho com 55% (Grupo4); a Couve, feijão-vagem, Milho verde e Rúcula que alcança 40% (Grupo 5); Acelga verdadeira, Couve chinesa, Espinafre-da-Nova Zelândia, Ervilha, Jiló, Nabo e Salsa (25%) (Grupo 6); por fim, a Alcachofra, Almeirão, Agrião, Aspargo, Chicória, Espinafre verdadeiro, Moranga e Mostarda de folha com 10% das vendas (Grupo 7), respectivamente. A venda das sementes segue o padrão das hortaliças mais produzidas nas maiorias áreas de hortaliças destas cidades que são em Pombal: Alface, coentro e cebolinha, e também folhosas (CASIMIRO, 2010). Os polinizadores são os componentes essenciais para o funcionamento dos ecossistemas em geral, sendo responsáveis pela manutenção e sobrevivência das diversidades de várias espécies e plantas. Cerca de 75% das culturas e 80% das espécies de plantas com flores dependem da polinização animal, e as abelhas são os principais polinizadores bióticos da natureza (SHEPERD et al, 2003; RICKETTS et al, 2008). O papel das abelhas na agricultura tem se destacado nas últimas décadas, devido ao fato de cada vez mais, vim se tornando dependente da polinização no mundo inteiro, já que nos países em desenvolvimento representa mais de dois terços da agricultura mundial, e é 50% mais dependente da polinização que a agricultura nos países desenvolvidos (AIZEN et al, 2008). A nossa abelha africanizada apresenta algumas características que fazem com que elas sejam superiores as Europeias, por serem muito mais ativas na coleta de pólen e permanecerem na cultura por muito mais tempo, tornando-as boas polinizadoras (BASUALDO; BEDASCARRASBURE; DE JONG, 2000).

Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado no campo de produção de sementes básicas de coentro variedade português, localizado no município de Matias Cardoso, MG, as margens do Rio São Francisco, com início do plantio em abril. Área semeada de 30 ha, irrigada por  pivô central. Quando 15 % da área total estava florida, foram colocadas quatro colméias/ha, totalizando 120 colméias de Apis mellifera. As colméias eram de um apicultor da região e foram instaladas a 10 metros da bordadura da cultura, no início da mata. Dentre as 120 colméias, cinco foram escolhidas, baseadas na quantidade de quadros com crias operculadas. Cada colméia recebeu um coletor de pólen, e as malhas dos coletores ficaram de 06h:15min às 12h:15min. No final das coletas (14/09, 22/09 e 02/10), os grãos de pólen eram identificados, para posterior separação de cor e contagem. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente ao acaso, com sete tratamentos (coletas pólens às 06:15h; 07:15h; 08:15h; 09:15h; 10:15h; 11:15h; 12:15h) e três repetições (dias 14/09; 22/09; 02/10). As análises palinológicas foram realizadas no laboratório do departamento de Entomologia da Universidade Federal de Viçosa, onde as plantas foram prensadas, numeradas e identificadas com o pólen coletado. O método usado para preparação das amostras de pólen apícola foi o clássico europeu de Maurizio e Louveaux (1965), com algumas modificações (BART et al., 2006): Através da metodologia descrita, analisou-se as amostras, levando em consideração os tipos polínicos encontrado nas lâminas, foram contados para efeito da análise quantitativa, identificando os polens presente. Prosseguiu-se então com as análises quantitativas, onde os grãos das diferentes espécies foram agrupados em frequências relativas, de acordo com a metodologia. Considerou-se pólen Dominante quando determinada espécie representava mais de 45%, pólen Acessório de 16 a 45%, pólen Isolado 3 a 15% e pólen Raro ou Esporádico até 3%. Os dados coletados foram submetidos à análise de variância.

Resultados e Discussão

Nos horários entre 06h:15mine 08h:15min houve uma maior coleta de pólen com predominância de coentro (coloração roxa) com significância a 5% de probabilidade. A partir de 10h15minda manhã, as abelhas diminuem a coleta de pólen de coloração roxa, passando a verificar outros polens na dominância Trapoeraba (Commelina erecta), Angico branco (Anadenanthera falcata), picão preto (Bidens pilosa), Angico monjolo (Piptadenia moniliformis). Os horários possuem efeitos significativos sobre o número de polens coletados durante os três dias, sendo que às 07h:15min e 08h:15min  as visitas foram predominante no coentro, ou seja, é o melhor horário para utilização da Ápis indicando que após as 10h15min a coleta de pólen diminui gradativamente (Tabela 1). Tabela 1- Número de pólen coletados em diferentes dias e horários Observou-se que no dia 02/10 no horário entre 07:15 e 08:15, que o pivô estava ligado, o que ocasionou uma alteração (diminuição) da quantidade de abelhas no momento em que a água molha a cultura (abelhas com asas molhadas e paralisadas) e no horário seguinte um aumento maior de abelhas e isto se nota-se pela quantidade de pólen. Já os horários de 11:15 e 12:15 a coleta de pólen foi menor em relação aos outros tratamentos,  isso mostra que o conhecimento  do horário de visita das abelhas é um dado importante para entender a dinâmica da interação planta e polinizador efetivo. As plantas identificadas em torno da cultura foram: Trapoeraba, Angico branco, Piriquiteira, Picão preto e Angico Monjolo, cariru de porco, mas nem todas as plantas floradas o pólen foi encontrado nas lâminas. De acordo com análise palinológica, os grãos de pólen foram contados e classificados, (Tabela 2). Observou-se que coentro foi dentre as culturas a que houve maior coleta de pólen sendo este considerado o pólen dominante (> 40% de toda coleta ). As culturas de Trapoeraba e Angico branco, Picão preto e o Angico monjolo, foram considerados de acordo a quantidade de pólen coletada de pólen acessório, isolado e raro ou esporádico respectivamente.

Conclusões

O horário de maior coleta de pólen foi entre 07:15 h e 08:15 h da manhã, sendo o horário de maior visitação das plantas, portanto, o melhor horário para polinização. Os polens coletados e analisados, considerado pólen dominante na coleta, comprovaram a eficiência da Apis na coleta de pólen de Coriandrum sativum.  

Gráficos e Tabelas




Referências

WANDERLEY JÚNIOR, L. J. G; NASCIMENTO, W. M.Produção de sementes de coentro. 2008. Disponível em:<http://www.abhorticultura.com.br>. Acesso em: 10 abr. 2008. HORTIVALE - Sementes do Vale. Disponível em <http://www.hortivale.com.br>. Acessoem: 18 maio 2013. BUCHMANN, S.L. ; NABHAN, G.P. 1996.The Forgotten PollinatorsIsland Press, Covelho, CA. 292p CASSIMIRO, D. L. Perfil socioeconômico dos produtores de hortaliças e caracterização dos sistemas irrigados de Sousa-PB. Monografia (Graduação em Agronomia) Universidade Federal de Campina Grande. Pombal - PB. 2010. RICKETTS, T. et al. Landscape effects on crop pollination services: are there general patterns? Ecology Letters, v. 11, n. 5, p. 499-515, 2008. SHEPHERD, M.; BUCHMANN, S.; VAUGHAN, M.; BLACK, S. Pollinator conservation handbook. The Xerces Society, Portland, Oregon, 145p. FREE, J. B., 1970, Insect Pollination of Crops, 2ed, London Academic Press, 544p.1970 NOGUEIRA-COUTO, R. H. Polinização com abelhas africanizadas. In: ENCONTRO SOBRE ABELHAS,1. Anais… 1994. p. 101-117. 1994. BASUALDO, M.; BEDASCARRASBURE, E.; DE JONG, D. Africanized honey bees(Hymenoptera: Apidae) have a greater fidelity to sunflowers than European bees. Journal of Economic Entomology, v. 93, n. 2, p. 304-307, 2000. MAURIZIO, A.; LOUVEAUX J. Pollens de plantesmelliferesd'Europe.Paris, UGAF. Apidologie. v.1,p.193-209. 1965.