Utilização de Farinha de Feno de Alfafa Peletizado na Alimentação de Abelhas Apis mellifera

Jonhatan Magalhães Barcelos1, Josoé Meira Strücker2, Luiz Eduardo Avelar Pucci3, Danilo Freitas da Silva4, Lusma Gadea de Mello5, Ricardo Piffer6, Rafael Pasquali7, Cristiéli Muller de Amorin8
1 - Universidade Federal de Santa Maria
2 - Universidade Federal de Santa Maria
3 - Universidade Federal de Santa Maria
4 - Universidade Federal de Santa Maria
5 - Universidade Federal de Santa Maria
6 - Universidade Federal de Santa Maria
7 - Universidade Federal de Santa Maria
8 - Universidade Federal de Santa Maria

RESUMO -

A produção apícola está diretamente ligada à produção vegetal (floradas), na falta destes recursos há necessidade de intervenção pelo apicultor. Neste sentido, uma das soluções é a utilização da alimentação artificial. A alfafa se encontra como recurso de vista econômico viável em comparação a outros alimentos artificiais mais utilizados para suprir a necessidade proteica. Assim, buscou-se avaliar a utilização do feno de alfafa nas dietas de abelhas Apis mellifera visando à substituição de fontes proteica convencional cujos custos são elevados. Foram utilizados nesse experimento quatro tratamentos, sendo T1- açúcar invertido, T2- farelo de feno de alfafa peletizada, T3- leite em pó e T4-testemunha. Os resultados para ganho de áreas de cria, pólen e mel não apresentaram diferenças significativas entre os tratamentos. Contudo, a utilização de farinha de feno de alfafa na alimentação de abelhas traz benefícios ao apicultor, através do custo-benefício.

Palavras-chave: Alimentação artificial, Apis mellifera, Feno de alfafa

Use of Pelleted Alfalfa Hay Flour in Bee Feeding Apis mellifera

ABSTRACT - Bee production is directly linked to plant production (flowering), in the absence of these resources there is need a beekeeper intervention. In this sense, one of the solutions is the use of artificial feeding. Alfalfa is a viable economic resource compared to other artificial foods most commonly used to meet protein requirements. Thus, the objective of this study was to evaluate the use of alfalfa hay in Apis mellifera bee diets, aiming at the substitution of conventional high costs protein sources. Four treatments were used in this experiment: T1-inverted sugar, T2-pelleted alfalfa hay meal, T3-powdered milk and T4-control. The results for gain of breeding areas, pollen and honey did not present significant differences between the treatments. However, the use of alfalfa hay meal in bee feeding benefits the beekeeper through cost-benefit.
Keywords: Artificial feeding, Apis mellifera, Alfalfa hay


Introdução

A atividade apícola vem apresentando um bom índice de crescimento no cenário nacional nos últimos anos, embora seja uma atividade secundária na maioria das propriedades rurais. O Brasil obteve produção de 38.764 toneladas de mel no ano de 2009, apresentando uma taxa de crescimento de 96,26 % em dez anos de produção. Em outro cenário, a região sul, especialmente no ano de 1999 obteve produção anual 11.869 toneladas e em 2009, 16.501 toneladas, com uma taxa de crescimento de 39,02 % (SEBRAE, 2011). A dieta das abelhas tem como principal fonte as floradas cultivadas ou silvestres, sendo principais elementos da dieta, o néctar e o pólen. Quando armazenados em grandes quantidades, as abelhas conseguem manter-se durante os períodos de escassez e ainda continuar o desenvolvimento da colônia, assim, quanto mais abelhas estiverem na colmeia, mais elas vão conseguir manter a temperatura constante dentro da mesma, em média 37º C, evitando o enfraquecimento e morte da colmeia. No Estado do Rio Grande do Sul a estação de inverno influencia negativamente a produção apícola, afetando a produção e a sobrevivência da colmeia. Para evitar isso, o apicultor deve disponibilizar ás colmeias alimentos artificiais de fonte proteica e energética, visando garantir que o enxame possa se manter forte e apto para a próxima safra apícola, suprindo a deficiência do alimento natural, não perdendo tempo para se fortalecer da ausência de flores e começando a produção já no início das novas floradas. Sabendo que a apicultura é uma fonte de renda para pequenos agricultores com baixo poder aquisitivo para suplementação das colmeias em períodos de entressafra, se busca aplicar uma tecnologia ao alcance deste público, com baixos custos e com resultados semelhantes aos alimentos já conhecidos na atividade. A alfafa contém em sua composição, nutrientes em quantidades semelhantes ao pólen, mas com o preço inferior comparado aos alimentos utilizados há mais tempo, podendo ser viável a utilização pelos pequenos apicultores. Seguindo por estes parâmetros de estudo com alimentos alternativos, buscou-se avaliar a utilização do feno de alfafa nas dietas de abelhas Apis mellifera, como fonte de alimento proteico, por ser um produto de fácil aquisição ou até mesmo de fácil produção no estado do Rio Grande do Sul, visando à substituição da fonte proteica convencional como pólen, leite em pó e farelo de soja, cujos custos de confecção e fornecimento são elevados.

Revisão Bibliográfica

Os alimentos artificiais mais utilizados na atividade apícola são o farelo de soja e leite em pó, por apresentarem grande disponibilidade e fácil acesso pelos produtores. Estes alimentos são os mais usuais para suprir a fonte proteica, onde o farelo de soja tem em média 45% de proteína bruta (PB), e o leite em pó em torno de 20% de PB. O nível ótimo de desenvolvimento das colônias ocorre quando se fornecem 20% a 23% de proteína bruta (PEREIRA, 2005). Como fontes energéticas, podem ser utilizados os alimentos alternativos encontrados ou produzidos dentro da própria propriedade, como é o caso do melado, rapadura e outros resíduos de sobras e que podem ser disponibilizadas as abelhas, tendo custos quase nulos. Também podem ser utilizados produtos regionais, como por exemplo, a farinha de vagem de algaroba, produzida pelos agricultores na região nordeste do país, promovendo o aumento da área de alimento em até 280% e a área de cria em até 58% em colônias de Apis mellifera (PEREIRA, 2010). Alimentos como a rapadura e alguns extratos de plantas, se encaixam dentre os demais alimentos como uma forma de amenizar custos. Nesse contexto, a alfafa, por conter uma elevada quantidade proteica pode ser utilizada na alimentação artificial como fonte proteica para as abelhas visando suprir a falta de pólen. As abelhas que consomem polén de maior teor proteico conseguem alimentar um número maior de larvas, em comparação com abelhas que consomem polén de teor proteico mais baixo, porém na mesma quantidade (SALOMÉ, 2009).  

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no interior do município de Condor/RS, no período de 20 de julho a 20 de setembro de 2016, totalizando o período experimental de dois meses, onde durante este período foram disponibilizadas semanalmente, em alimentadores de cobertura, as dietas correspondentes a cada um dos quatro tratamentos, sendo: T1-500 g de açúcar invertido, T2-350 g de açúcar invertido + 150 g de farelo de feno de alfafa peletizada, T3-350 g de açúcar invertido + 150 g de leite em pó e T4-sem nenhum tipo de alimento (testemunha). O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado (DIC), realizando quatro repetições por tratamento, totalizando 16 colmeias. A alfafa foi utilizada na forma de “pellet”, sendo necessária a moagem. O custo das dietas de cada tratamento está apresentado na Tabela 1. Para avaliar o desempenho da colmeia foi utilizado o método de mapeamento de Al-Tikrity et al. (1971), onde avaliou-se a área de mel, área de pólen e área de cria. A retirada das amostras foi realizada através de sacos plásticos transparentes e caneta permanente, demarcando as áreas do favo sobre o plástico, todas devidamente identificadas. As áreas foram mensuradas (cm²) no programa “Image J”. A amostragem foi realizada ao início e no final do experimento, após dois meses de uso dos tratamentos, coletando as áreas de todos os quadros de ninho das colmeias utilizadas. Este período foi suficiente para se obter dados como ganho de área de cria, levando em consideração que a fase de larva a inseto adulto de uma abelha é de 21 dias. Os dados obtidos foram submetidos a teste de normalidade SHAPIRO-WILK e teste de homogeneidade de variância BARTLETT assim foram então submetidos a ANOVA, não sendo necessárias as comparações múltiplas de TUKEY, pois os tratamentos não diferiram entre si, considerando o nível de 5% de significância.

Resultados e Discussão

Através do mapeamento e a avaliação das áreas analisadas, obteve-se resultados positivos, ou seja, ganhos positivos por áreas através dos tratamentos. O resultado está dentro do esperado, embora houve perda de quatro parcelas, aumentando o erro experimental. As parcelas perdidas foram uma de cada tratamento. A partir dos resultados obtidos pode-se concluir, analisando os dados da Tabela 2 que os tratamentos não diferiram entre si, não observando influência significativa entre as áreas analisadas e os tratamentos. O açúcar invertido por ser um alimento estimulante para a reprodução da rainha, assim como o mel, influenciou na área de cria, mas através das análises estatísticas não houve diferença significativa no presente estudo. Castagnino et al. (2006) utilizando um suplemento proteico denominado Promotor L® , associado ao açúcar invertido não observaram resultado satisfatório para o crescimento do enxame quando comparado com os enxames alimentados somente com açúcar invertido. O promotor L ® é um composto, que une aminoácidos e vitaminas, sendo utilizado na nutrição animal. Com os resultados positivos e sem grandes variações entre os tratamentos, embora com pequena significância, a farinha de feno de alfafa atinge as expectativas sobre a influência na produção de alimentos e na reprodução da rainha. A influência ambiental é um fator de grande impacto sobre a pesquisa com seres vivos, no caso de abelhas Apis Mellifera, a relação com as floradas na região sul do Brasil sofre o impacto do inverno, onde neste período as floradas são escassas, mas ao final do mês de agosto, o clima frio já apresenta intensidade inferior em relação ao mês de maio, a partir deste mês podem-se observar algumas pequenas floradas. Ao encontrar alimento na natureza as abelhas deixam de se alimentar dos alimentos artificiais, podendo assim, ter influenciado no desempenho das áreas esperadas, pois não foi mensurado o consumo das dietas. Ao avaliar os quadros de cria, buscou-se observar quadros com cria fechada e aberta e a presença de pólen e mel, pois são indicativos que a alimentação esta sendo consumida pelas abelhas, pois as mesmas buscam armazenar o alimento. Quadros com crias indicam que a rainha esta realizando a postura, em larga escala pode-se afirmar que há disposição de alimento, ou seja, proteína para a rainha que corresponde à sobra de alimento com o aumento da postura, consequentemente aumentando a população da colmeia. Já a disposição de pólen próximo às crias demonstra claramente a abundância de alimento dentro da colmeia. A intenção de medir o tamanho da área de cria e pólen é de poder analisar o quanto este alimento influenciou no desenvolvimento e sobrevivência dentro da colmeia. Apesar de não haver diferenças significativas entre os tratamentos para ganhos de áreas, pode-se observar um menor custo da dieta que possui farinha de feno de alfafa na sua composição em relação às outras dietas (Tabela 1).

Conclusões

Com base neste estudo, pode-se afirmar que o uso de farinha de feno de alfafa na alimentação de Apis mellifera não causa nenhum prejuízo à sanidade das abelhas e trás benefício aos apicultores, como o custo com alimentação, por exemplo.

Gráficos e Tabelas




Referências

  AL-TIKRITY et. al., A new instrument for brood measurement in a honey bee colony. American Bee Journal, v.111, p.20-26, 1971. CASTAGNINO G.L. et al. Desenvolvimento de núcleos de apis mellifera alimentados com suplemento aminoácido vitamínico, promotor l. Curso de Zootecnia UFSM, Santa Maria-RS, Brasil, 2006. PEREIRA, F. M., Alimentação de enxames por conta dos períodos de escassez na caatinga. Fortaleza: UFC, 2005. PEREIRA, F. M., Alternativas de alimentação para abelhas, 2010, disponível em: <http://www.alice.cnptia.embrapa.br/handle/doc/872929>, acesso em: 4 de abr. 2016. SALOMÉ, J. A. Manutenção de colmeias frente às pressões ambientais. Knowtec Ltda / SEBRAE, 2009 (Relatório Análitico). SEBRAE, Boletim setorial do agronegócio 2011, disponível em: <http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/boletim-apicultura.pdf>, acesso em: 4 de abr. 2016.