Utilização de gonadotrofina coriônica equina e cipionato de estradiol em protocolos de inseminação artificial em tempo fixo para vacas Gir lactantes

Camila de Moraes Raymundo1, Rodrigo Sulhadonik Silveira2, André Penido Oliveira3, Juliana Jorge Paschoal4, Leonardo de Oliveira Fernandes5
1 - Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu)
2 - Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG)
3 - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)
4 - Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu)
5 - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)/ Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu)

RESUMO -

O objetivo do presente trabalho foi avaliar o índice de concepção de vacas Gir lactantes submetidas a dois diferentes protocolos de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), correlacionando a esse índice a prenhez, os dias em lactação (DEL), presença ou ausência de corpo lúteo (CL), escore de condição corporal (ECC) e habilidade de transmissão predita para produção de leite (PTA). Foram avaliadas 19 vacas da raça Gir Leiteiras, multíparas e lactantes, submetidas a dois protocolos de IATF distintos, em que apenas um dos protocolos (T1) fazia o uso dos hormônios gonadotrofina coriônica equina (eCG) e cipionato de estradiol (ECP). Houve correlação negativa para as variáveis Tratamento e Prenhez, onde as vacas submetidas ao T1 obtiveram maiores índices de prenhez. No entanto, para as demais variáveis não houveram correlações. Protocolos de IATF utilizando-se cipionato de estradiol e gonadotrofina coriônica equina melhoram a taxa de prenhez de vacas Gir Leiteiro.

Palavras-chave: Estro, hormônio, lactação, ovulação, Zebu

Use of equine chorionic gonadotropin and estradiol cypionate in fixed-time artificial insemination protocols for lactating Gir cows

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the conception rate of lactating dairy Gir cows submitted to two different protocols of Fixed Time Artificial Insemination (FTAI), correlating pregnancy rate, days in milk (DEL), presence or absence of corpus luteum (CL), body condition score (BCS) and predicted transmitting ability for milk production (PTA). It was evaluated 19 multiparous lactating dairy Gir cows, submitted two protocols of FTAI, where only one of the protocols (T1) was used chorionic gonadotropin (eCG) and estradiol cypionate (ECP). There was a negative to T1 correlation to the variables Treatment and Pregnancy, where cows submitted had higher pregnancy rates. However, there were no correlations in other variables. The pregnancy rate of dairy Gir cows was greater on FTAI protocols using ECP and eCG hormones.
Keywords: Estrus, hormone, lactation, ovulation, Zebu


Introdução

Em sistemas de produção leiteira, características produtivas e reprodutivas são marcadas pelo antagonismo. Vacas leiteiras têm baixa eficiência reprodutiva, resultando em intervalo entre partos (IEP) prolongados. Baixa taxa de detecção de cio, baixa taxa de serviço e de prenhez seriam as razões para tal ineficiência (LEBLANC, 2010). Para melhoria desses índices, pode-se destacar a utilização de reprodutores provados a fim de se melhorar o material genético do rebanho (ARRUDA, 2016), assim, a Inseminação Artificial (IA) permite maior utilização desses animais. No entanto, a disseminação da técnica de IA pode ser dificultada pelos custos e falhas associados à observação de cio. Diante da necessidade em se adotar processos de precisão aos variados sistemas de produção, buscando-se excelência, a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) se apresenta como alternativa para alcançar índices satisfatórios em reprodução, além de dispensar a necessidade de observação do estro. Porém, para o sucesso da técnica, é importante avaliar o tipo de protocolo a ser empregado em cada rebanho. Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a utilização de dois diferentes protocolos de IATF, com a utilização ou não de gonadotrofina coriônica equina (eCG) e cipionato de estradiol (ECP), sobre a taxa de prenhez em vacas multíparas lactantes, da raça Gir, a partir de 45 dias pós-parto.

Revisão Bibliográfica

Os principais fatores que afetam a taxa de prenhez em vacas lactantes são condição corporal ao parto e perda desta condição corporal no pós-parto, identificações de cio, infecções, estresse térmico e retorno a ciclicidade (SARTORI, 2007). Os protocolos de IATF visam a indução de uma nova onda de crescimento folicular, sincronização de estro e ovulação simultaneamente em todos os animais, possibilitando-se ter controle da duração do crescimento folicular até o estágio pré ovulatório (SÁ FILHO et. al., 2010). Progesterona (P4) e estradiol (E2) atuam como hormônios reguladores da síntese e liberação de gonadotrofina por meio dos eventos fisiológicos de “feedback” positivo e negativo (MOURA, 2013). E2 e seus análogos são empregados afim de promover controle do ciclo estral, pois, na ausência de P4, estimulam a liberação do hormônio liberador das gonadotrofinas (GnRH) e hormônio luteinizante (LH), e causam ovulação do folículo dominante (MOENTER; CARATY; KARSCH, 1990). Dentre os principais ésteres, estão benzoato de estradiol (BE) e ECP, que possuem meia vida distintas. Crepaldi et. al. (2008) afirmam que a administração de ECP simultânea a retirada do implante de P4 promove ovulação sincronizada cerca de 72 horas após o uso, fato que é semelhante à administração de BE 24 horas após a remoção da P4, porém tal alteração possibilita eliminar o manejo adicional para administração do BE. De acordo com Baruselli et. al. (2008), o eCG seria o único capaz de se ligar aos receptores de LH e hormônio folículo estimulante (FSH), promovendo crescimento, maturação folicular e ovulação. Gottschall et. al. (2012) ressaltam que os resultados da IATF dependem de variáveis, como situação corporal das fêmeas, hormônios, desempenho estral e qualidade do aparelho reprodutivo. Moura (2013), avaliando a indução da ovulação em vacas mestiças Holandês x Zebu, agrupadas em três grupos quanto ao escore de condição corporal (ECC), verificou que vacas de baixo ECC diminuem as taxas de ovulação e prenhez, em relação às vacas de melhor ECC. Diante do exposto, a IATF seria uma ferramenta útil para o aumento da utilização da IA por descartar a observação de cio e programar, em um mesmo período, uma grande quantidade de vacas inseminadas (ARRUDA, 2016). Os hormônios utilizados nos protocolos ainda seriam uma alternativa para a retirada de vacas do período de anestro pós parto.

Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado no Campo Experimental Getúlio Vargas, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG – OESTE), localizada no município de Uberaba – MG. Foram avaliadas 19 vacas, multíparas lactantes da raça Gir, de diferentes dias em lactação, compreendidos entre 45 e 145 dias. O período experimental foi de 42 dias, com início em dezembro de 2015 e término em janeiro de 2016. No início do experimento, as fêmeas foram submetidas à ultrassonografia para avaliação da condição reprodutiva em que se encontravam. Selecionou-se as vacas que não apresentavam patologias nos ovários, útero e mínimo de 45 dias pós-parto. Durante a avaliação, foram coletadas as informações de data do último parto e presença ou não do corpo lúteo. O ECC foi realizado por um avaliador, com pontuação de 1 a 9, sendo 1 atribuído a animais debilitados e 9, a pontuação para animais obesos. Os dados obtidos dos animais submetidos à avaliação, estão apresentados na Tab. 1. Os protocolos de IATF foram organizados de maneira que a IA ocorresse no mesmo dia para ambos, ou seja, o tratamento 1 (T1) teve início em 10 de dezembro de 2015, com duração de 13 dias e o tratamento 2 (T2) iniciou em 16 de dezembro de 2015, com duração de 7 dias, sendo a IA na data de 23 de dezembro de 2015 para ambos. Os animais foram submetidos aleatoriamente para um de dois protocolos. Para o T1, utilizou-se as seguintes doses hormonais: Dia 0: P4 + 2 ml E2; Dia 11: 2 ml eCG + 1 ml ECP + 2 ml PGF; Dia 13: IA + 2 ml GnRH. Para o T2, foram utilizadas as seguintes doses: Dia 0: P4 + 2 ml E2; Dia 5: 2 ml PGF; Dia 7: IA + 2 ml GnRH. Após 28 dias da IA, no dia 20 de janeiro de 2016, os animais foram submetidos à ultrassonografia para diagnóstico de gestação. Para avaliar a relação entre tratamentos, prenhez, DEL, CL, ECC e PTA, os dados foram submetidos ao teste de correlação de Pearson através do software SAS (2013), a 5% de significância.

Resultados e Discussão

No presente estudo, houve correlação (p < 0,05) negativa para as variáveis Prenhez e Tratamento, em que o tratamento atribuído com valor máximo (T2), apresentou menor a taxa de prenhez em relação ao T1 (Tab. 2). As demais variáveis não apresentaram correlação entre si (p > 0,05). Entre os tratamentos, houve diferença quanto ao uso dos hormônios eCG e ECP, utilizados apenas no T1. De característica singular aos demais, a eCG é um hormônio que em ação FSH promove crescimento e maturação dos folículos, e em atividade LH promove ovulação, expressando assim sua função biológica em ambas atividades. Em revisão realizada por Sá Filho et. al. (2010), a eCG seria responsável por aumentar o diâmetro folicular pré-ovulatório, melhorar a taxa de ovulação e ainda aumentar as concentrações plasmáticas de P4 na fase luteal decorrente. De acordo com Baruselli et. al. (2008), o eCG, administrado em fêmeas, estimula crescimento folicular e ovulação até mesmo em fêmeas com comprometimento na liberação de gonadotrofinas; em rebanhos com baixa taxa de ciclicidade, em animais com condição corporal comprometida e ainda recém paridos. Baruselli et. al. (2003), avaliando o efeito da eCG no momento da remoção do implante de P4 (D8), em vacas Nelore com 60 a 90 dias pós parto, observaram maior taxa de prenhez nas vacas tratadas com eCG em relação às não tratadas (51,9 e 38,8 %; P < 0,05). Prata et. al. (2014), utilizando vacas mestiças lactantes (Bos taurus taurus x Bos taurus indicus) submetidas ao tratamento com 400 UI de eCG, avaliando o efeito sobre a fertilidade, concluíram maiores taxas de prenhez aos 30 dias pós parto (36,0 e 15,0 %; P < 0,01) e aos 60 (26,5 E 10,2%; P < 0,01), indicando que a dose pode ser utilizada com sucesso nos protocolos para IATF em vacas mestiças. Reis, et. al. (S.d.) avaliaram em 43 vacas mestiças (Girolando), multíparas e lactantes, protocolos de IATF envolvendo BE ou ECP, administrados 24 horas após a retirada do implante de P4 e no momento da remoção do implante, respectivamente. Concluíram que ambos os indutores da ovulação podem ser utilizados na IATF de vacas Girolando. Henrique, et. al. (2012), ao analisarem a dinâmica ovariana e taxa de concepção de fêmeas Nelore submetidas à IATF utilizando BE ou ECP como indutores de ovulação, concluíram que ambos apresentam eficiência semelhante em relação à dinâmica folicular, porém o ECP proporciona protocolos mais simplificados pelo fato de reduzir o número de manejos.

Conclusões

Protocolos de IATF utilizando-se cipionato de estradiol e gonadotrofina coriônica equina melhoram a taxa de prenhez de vacas Gir Leiteiro em diferentes dias em lactação. Nas condições do presente experimento os dias em lactação, presença ou não de corpo lúteo, condição corporal e produção de leite não influenciaram as taxas de prenhez.

Gráficos e Tabelas




Referências

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