Utilização de óleo de cravo na água de transporte de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus)

Rafael Rusth Costa Teixeira1, Magnus Augusto Coutinho Costa2, Sendy Moreira Reis3, Fabrício Eugênio Araújo4, André Luis Fialho Ladeira5, André Luiz Souza Modesto6, Érica Caroline de Almeida7, Ana Lúcia Salaro8
1 - Universidade Federal de Viçosa
2 - Universidade Federal de Viçosa
3 - Universidade Federal de Viçosa
4 - Universidade Estadual de Maringá
5 - Universidade Federal de Viçosa
6 - Universidade Federal de Viçosa
7 - Universidade Federal de Viçosa
8 - Universidade Federal de Viçosa

RESUMO -

Com o presente estudo objetivou-se avaliar a eficácia do óleo de cravo durante o transporte da tilápia do Nilo em diferentes densidades, por meio da taxa de mortalidade e glicose sanguínea. Utilizou-se delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 3X3, sendo três densidades de estocagem (20, 25 e 30 peixes/L), três concentrações de óleo de cravo (0,0; 5,0 e 10,0 mg/L) e três repetições. Os peixes foram acondicionados em sacos plásticos (2L de água e 3,5L de oxigênio) e transportados por oito horas. Não houve mortalidade dos peixes nos diferentes tratamentos. Houve efeito linear decrescente da glicemia sanguínea após o transporte dos peixes, independente da densidade e da concentração do óleo de cravo. Conclui-se que o óleo de cravo, nas concentrações de 5,0 e 10,0 mg/L, não foi capaz de amenizar as respostas de estresse causado na tilápia do Nilo durante o transporte.

Palavras-chave: densidade de estocagem, estresse, eugenol, glicemia sanguínea

Use of clove oil in Nile tilapia transport water (Oreochromis niloticus)

ABSTRACT - The study aimed to evaluate the effectiveness of clove oil during the transport of Nile tilapia at different densities, by means of mortality and blood glucose. A completely randomized design in a 3X3 factorial scheme was used, with three storage densities (20, 25 and 30 fish / L), three clove oil concentrations (0.0, 5.0 and 10.0 mg / L) and three replicates. The fish were packed in plastic bags (2L of water and 3.5L of oxygen) and transported for eight hours. There were no fish mortalities in the different treatments. There was a linear decreasing effect of blood glucose after fish transport, regardless of the density and concentration of clove oil. It was concluded that clove oil, at concentrations of 5.0 and 10.0 mg / L, was not able to alleviate the stress responses caused in Nile tilapia during transport.
Keywords: storage density, stress, eugenol, blood glucose


Introdução

Durante o transporte, os peixes são expostos a diversos estímulos (Iversen et al., 2005), os quais podem ser estressantes aos animais (Silveira et al., 2009). Altas densidades de estocagem durante o transporte também podem levar os peixes ao estresse (Ibrahim et al., 2015) em função da maior demanda por oxigênio dissolvido e maior excreção de amônia na água pelos peixes (Oliveira et al., 2009). Na tentativa de se evitar o estresse dos peixes durante o transporte, o óleo de cravo vem se destacando (Inoue et al., 2011; Silva-Souza et al., 2015) em função da segurança, não toxicidade e pela rápida metabolização pelo organismo, não deixando resíduos na carcaça dos animais (Wagner et al., 2002).

Revisão Bibliográfica

Os peixes ao serem manejados estão sujeitos a variados estímulos estressores. O manejo do transporte pode levar os peixes à uma condição de estresse (Iversen et al., 2005; Silveira et al., 2009). O estresse é uma condição onde a homeostase interna do animal é afetada negativamente por conta de um fator causador de estresse. As respostas a esses fatores em teleósteos podem ser manifestações primárias, secundárias e, em casos extremos, terciárias (Barton et al., 2002; Portz et al., 2006). Como resposta primária ao estresse verifica-se a liberação de catecolaminas e corticosteroides na corrente sanguínea (Mazeaud et al., 1977), em consequência ocorre o aumento da glicose sanguínea através da intensificação da hidrólise do glicogênio hepático (Barton, 2002). Desta forma, a glicemia é um dos parâmetros sanguíneos analisados no intuito de verificar as respostas secundárias ao estresse. Analisando os parâmetros hematológicos em tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) expostas ao ar (Silva et al., 2012) ou submetidas ao manejo de biometria (Simões et al., 2010), observaram aumento da glicemia logo após a exposição ao estresse. No intuito de amenizar o estresse sofrido pelos peixes durante o manejo de transporte a adição do óleo de cravo vem sendo estudada (Soares et al., 2009; Akar et al., 2011). Em estudo realizado com a tilápia azul (Oreochromis aureus) em transporte por 72 horas, a adição de 0,2 e 1,0 mg/L de eugenol foi responsável pela atenuação do aumento dos níveis de glicose sanguínea em relação ao grupo controle.  

Materiais e Métodos

O estudo foi realizado no Laboratório de Bioclimatologia e Nutrição de Peixes do Setor de Piscicultura da Universidade Federal de Viçosa, sendo aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais de Produção, CEUAP-UFV, processo nº 33/2016. Foi utilizado delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 3X3, sendo três densidades de estocagem (20, 25 e 30 peixes/L) e três concentrações de óleo de cravo (0,0; 5,0 e 10 mg/L) e três repetições. Juvenis de tilápia do Nilo (4,0 ± 1g) passaram por período de 24 horas de jejum e em seguida foram embalados em sacos plásticos (40x60cm) contendo (2L de água e 3,5L de oxigênio), de acordo com cada tratamento. Os peixes foram transportados em porta-malas por oito horas. Após os transporte, os peixes foram transferidos para aquários de recuperação (20 L) dotados de aeração constante e recirculação de água. Antes do transporte, oito peixes foram eutanasiados com óleo de cravo (400 mg/L). Em seguida realizou-se a coleta de sangue por meio de corte na região do pedúnculo caudal. O sangue foi transferido para tiras reagente do aparelho monitor digital Accutrend® Plus Roche. O mesmo procedimento foi realizado em quatro peixes por tratamento, imediatamente, 12 e 24 horas após o transporte de. Também foi quantificada a taxa de mortalidade dos peixes nos tempos imediatamente, 12 e 24 horas após-transporte. Para avaliar o efeito da densidade, do óleo de cravo e dos tempos 0, 12 e 24 horas após transporte sobre a glicemia sanguínea dos peixes, foi realizada análise de variância Three-Ways seguida de regressão ao nível de 5% de probabilidade. Para comparar os valores de glicemia sanguínea antes do transporte e nos três tempos após o transporte utilizou-se o teste tukey (1% de probabilidade). Todos as análises estatísticas foram realizadas utilizando o software StatPlus Pro 5.9.8.

Resultados e Discussão

Observou-se ausência de interação entre densidade/óleo de cravo/tempo; densidade/óleo de cravo; densidade/tempo e do óleo de cravo/tempo após o transporte sobre a glicemia sanguínea. Também não houve efeito da densidade e do óleo de cravo na glicemia sanguínea dos peixes. Houve efeito linear decrescente (y = - 1,0208x + 66,473) na glicemia sanguínea dos peixes em função do tempo após o transporte (Figura 1). Houve diferença significativa na glicemia sanguínea apenas imediatamente após o transporte (70,12 mg/dL) quando comparados com os tempos antes, 12 e 24 horas (42, 46,93, 45,62 mg/dL), respectivamente, independente da concentração de óleo de cravo e densidade de estocagem. Não foi observada mortalidade dos peixes durante e após o transporte dos mesmos nos diferentes tratamentos. O aumento da glicemia sanguínea imediatamente após o transporte indica situação de estresse sofrida pelos peixes. A resposta primária ao estresse é a liberação de catecolaminas e corticosteroides na corrente sanguínea (Mazeaud et al., 1977). Como consequência ocorre aumento da glicose sanguínea em função do aumento da hidrólise do glicogênio hepático (Barton, 2002), disponibilizando energia para a manutenção dos processos metabólicos. A ausência de diferença significativa da glicemia sanguínea dos peixes dos diferentes tratamentos 12 e 24 horas após o transporte indica que as concentrações de 5,0 e 10,0 mg/L não foram capazes de minimizar o estresse dos peixes. As concentrações de 0,0; 2,0 e 5,0 mg de óleo de cravo também não levaram a diferenças na glicemia sanguínea de juvenis (9 g) de tilápia do Nilo (Oliveira et al, 2009). Em contrapartida, concentrações de 0, 2 e 1,0 mg/L de óleo de cravo minimizaram os efeitos de estresse da tilápia azul (Oreocrhomis aureus) quando transportada por 72 horas (Akar et al., 2011). O reestabelecimento da homeostasia dos peixes pode variar de espécie para espécie e também do tipo de estresse sofrido (Portz et al., 2006). A sobrevivência dos peixes, assim como, e o reestabelecimento dos níveis de glicose sanguínea dos peixes após 12 e 24 horas da realização do transporte, indicam que os mesmos foram capazes de se recuperarem do estresse sofrido em função do transporte, independente das concentrações de óleo de cravo e da densidade de estocagem.

Conclusões

Conclui-se que o óleo de cravo, nas concentrações de 5,0 e 10,0 mg/L, não foi capaz de amenizar as respostas de estresse causado na tilápia do Nilo durante o transporte.

Gráficos e Tabelas




Referências

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