Utilização de plantas nativas e adaptadas na alimentação de cabritos em aleitamento

Ariana Vieira Alves1, Aline Silva de Santana2, José Felipe Napoleão Santos3, George Menezes da Silva Santos4, Ellio Celestino de Oliveira Chagas5, Carla Wanderley Mattos6, João Bandeira de Moura Neto7
1 - Universidade Federal do Vale do São Francisco
2 - Universidade Federal do Vale do São Francisco
3 - Universidade Federal de Campina Grande - Patos
4 - Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologias do Sertão Pernambucano
5 - Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologias do Sertão Pernambucano
6 - Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologias do Sertão Pernambucano
7 - Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologias do Sertão Pernambucano

RESUMO -

O Nordeste brasileiro tem o maior quantitativo de caprinos do Brasil, porém tem baixas taxas de produção. Uma das razões para este baixo desempenho é a sazonalidade da produção forrageira, com disponibilidade de alimentos na estação chuvosa e escassez na estação seca, e muitas vezes estes animais alimentam-se apenas de plantas da Caatinga. Objetivou-se avaliar o desempenho de caprinos em aleitamento confinados recebendo dietas preparadas a partir de recursos forrageiros produzidos e disponíveis na região. Foram utilizados 30 cabritos lactentes, sem padrão racial definido, divididos em três grupos, mantidos em baias coletivas, cada grupo um tratamento. Os tratamentos referem-se a três fontes de forragem, feno: capim buffel, Maniçoba e Leucena em dietas completas com relação volumoso: concentrado 30:70 na matéria seca. Conclui-se que as três fontes de volumoso se mostraram viáveis para alimentação de cabritos, sendo o feno de maniçoba o que demonstrou melhores resultados.

Palavras-chave: Cabritos, creep-feeding, feno, forrageiras tropicais, precocidade

Use of native and adapted plants in the feeding of suckling kids goats

ABSTRACT - The Brazilian Northeast has a larger quantity of goats in Brazil, but has low production rates. One of the reasons for this low performance is a seasonality of forage production, with the availability of food in the rainy season and scarcity in the dry season, and these animals often feed only on the Caatinga. The objective with this study was to evaluate the performance of confined lactating goats receiving diets prepared from forage resources produced and available in the region. We used 30 kids goats infants, with no defined racial pattern, divided into three groups, kept in collective collections, each group a treatment. The treatments refer to three fodder sources, hay: buffel grass, maniçoba and leucena in complete diets with voluminous ratio: concentrate 30:70 In dry matter. It is concluded that as three sources of bulky were viable for feeding goats, being the maniçoba hay or that showed better results.
Keywords: Goats, creep-feeding, hay, tropical forages, precocity


Introdução

O Brasil possui cerca de 8.851.879 de caprinos, sendo que a região Nordeste detém aproximadamente 91,6% deste rebanho (IBGE 2014). Porém, apesar desse grande número, apresenta baixos índices produtivos, justificados pela estacionalidade da produção, baixa qualidade e disponibilidade de forragens na caatinga no período seco entre outros motivos. Deste modo, o crescimento dos animais apresenta inconstâncias no desempenho, a consequência disso é a baixa produtividade do rebanho, afetando a produção leiteira, reprodução e idade ao abate. Por esse motivo é importante estudar sistemas de produção que incluam espécies adaptadas a região e que forneçam alimentos durante um período mais prolongado, diminuindo os problemas com a falta de forragem no período seco (SANTANA NETO; OLIVEIRA; VALENÇA, 2015), além de fazer a utilização de plantas nativas que costuma ser mais resistentes e são recursos acessíveis ao pequeno produtor. Com o presente experimento objetivou-se avaliar a influência da utilização de forrageiras nativas e adaptadas na alimentação de cabritos em aleitamento, sobre o ganho de peso e conversão alimentar a fim de obter uma alimentação alternativa para o uso no creep feeding.

Revisão Bibliográfica

A maniçoba (Manihot glaziovii) é um exemplo de planta nativa que tem alto potencial na utilização na alimentação de caprinos, é considerada uma forrageira com boa palatabilidade, além de ser bastante procurada por animais em pastejo, possuindo um teor de PB de 20,88% e também boa digestibilidade in vitro da matéria seca (62,30%) (ARAÚJO et al. 2004) além de apresentar boa resistência à seca. Plantas exóticas como o capim buffel e a leucena tiveram uma ótima adaptação a região semiárida. O capim buffel (Cenchrus ciliaris), segundo Medeiros & Dubeux Junior (2008), apresenta maior resistência ao déficit hídrico entre as gramíneas cultivadas nas regiões secas, devido à sua adaptações morfofisiológicas, e apresenta atributos favoráveis para ser conservado na forma de feno, por sua alta relação folha: colmo, caules finos e cutícula estreita. A Leucena (Leucaena leucocephala) leguminosa arbustiva, que apresenta raízes profundas, característica que lhe confere excelente tolerância à seca. Altamente palatável, produz elevadas quantidades de forragem com altos teores de proteína e minerais, sendo, portanto, uma alternativa de baixo custo para a substituição parcial dos produtos comerciais comumente utilizados na suplementação animal (COSTA, 1987). Sabendo que a alimentação tem um peso significativo na viabilização dos sistemas pecuários, é importante o estabelecimento de reservas forrageiras estratégicas. As práticas de conservação de forragens, na forma de silagem ou feno, amplamente difundidas e pesquisadas, têm sido aplicadas com o objetivo de atenuar o problema da escassez de forragens no período de estiagem (SILVA et al. 2014), diminuindo os efeitos negativos do desempenho animal e melhorando assim a produtividade da atividade pecuária.

Materiais e Métodos

A condução do presente experimento se deu nas instalações da unidade de ensino e produção de caprinovinocultura do Instituto Federal do Sertão Pernambucano, Campus Petrolina, Zona Rural. O período experimental foi de dois meses.

            Foram utilizados 30 cabritos lactentes, sem padrão racial definido, com peso vivo inicial de 7,0 ± 0,24 Kg, submetidos a um delineamento experimental em blocos casualizados com 10 repetições e três tratamentos. Os tratamentos avaliados referem-se a três fontes de volumosos: T1 - Feno de capim buffel, T2 - Feno de Maniçoba, e T3 - Feno de Leucena, na ração completa com relação de 70% de concentrado: 30% de volumoso na matéria seca. Os animais foram pesados identificados e alojados em baias coletivas, providas de comedouro e bebedouro. As dietas foram fornecidas à vontade, duas vezes ao dia, e foram formuladas de forma a serem isoproteícas e isoenergéticas conforme recomendações dos sistemas de requerimentos nutricionais para caprinos e ovinos (NRC, 2007), com objetivo de ganho de peso diário de aproximadamente 150 g/dia (Tabela 1).

            Ao final do dia as sobras eram coletadas, e matrizes eram colocadas junto aos cabritos para o aleitamento. O desmame foi realizado após 15 dias do início do período experimental.

            Foram avaliados consumo, ganho de peso e conversão alimentar dos cabritos. Para as variáveis ganho médio de peso e ganho de peso diário, foram realizadas pesagens dos animais ao início e final do experimento. Para análise de consumo foi feito controle diário da quantidade de alimento ofertada e das sobras de forma que estas tivessem um mínimo de 10%. E a conversão alimentar foi adquirida por meio da equação: CA= Consumo Alimentar Médio/ Ganho de Peso Médio.

            Os dados obtidos foram estatisticamente tratados com o auxílio do programa estatístico SISVAR por meio de análise de variância, quando significativo foi utilizado o teste de Tukey com 5% de probabilidade.



Resultados e Discussão

Os dados referentes às variáveis analisadas, consumo, ganho de peso e conversão alimentar estão representados na Tabela 2, sendo que com exceção da variável conversão alimentar as demais apresentaram diferenças estatísticas entre os tratamentos. Para as variáveis ganho médio de peso e ganho de peso diário foi observado que o tratamento feno de maniçoba destacou-se apresentando ganho médio de peso diário de 160 g/animal, superando o objetivo inicial de ganho diário de 150g/animal. Os ganhos do tratamento feno de maniçoba foram superiores aos do tratamento feno de capim buffel, e o tratamento feno de leucena se mostrou estatisticamente semelhante à ambos. Os resultados do presente trabalho são superiores aos encontrados por Barreto et al. (2011), que em dietas com 70% de feno de maniçoba obteve ganho de peso diário de 0,120 Kg, por Camurça et al. (2002) que obteve ganho diário de 0,089 Kg e CA de 9,87:1 utilizando feno de capim buffel; e por Gurgel et al. (1992) que obteve ganhos de 0,028 Kg utilizando feno de leucena. Assim como Moreira et. al. (2008), observou-se que o feno de maniçoba é viável para compor rações para caprinos em crescimento com elevada proporção de concentrado. Ainda se observou que o feno de leucena e capim buffel também são soluções viáveis na alimentação de caprinos na região nordeste, visto que são plantas nativas ou adaptadas de baixo custo, alto nível nutricional e disponibilidade, obtendo-se animais precoces e de carne qualificada.

Conclusões

Os fenos das três fontes de forragem em dietas completas são viáveis ​​no uso de rações para caprinos em aleitamento, sendo a melhor opção o feno de maniçoba, proporcionando melhor consumo, ganho de peso e precocidade ao abate.

Gráficos e Tabelas




Referências

BARRETO, Lígia Maria Gomes et al. Comportamento ingestivo de caprinos das raças Moxotó e Canindé em confinamento recebendo dois níveis de energia na dieta. Revista Brasileira de Zootecnia, Areia, v. 40, n. 4, p.834-842, mar. 2011. CAMURÇA, Daniel Aguiar et al. Desempenho Produtivo de Ovinos Alimentados com Dietas à Base de Feno de Gramíneas Tropicais. Revista Brasileira de Zootecnia, Sobral, v. 31, n. 5, p.2113-2122, nov. 2002. COSTA, N. de L. Recomendações técnicas para o cultivo de leucena. Porto Velho: EMBRAPA-UEPAE, 1987. 8 p. (Comunicado Técnico, 50). IBGE. Produção da pecuária municipal. Rio de Janeiro v. 42,p.1-39, 2014.PDF GURGEL, M.M.; SOUZA, A.A.; LIMA,F.de A. M. Avaliação de feno de leucena no crescimento de cordeiros Morada Nova em confinamento. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 2, p.1519-1526,1992. MEDEIROS H.R.; DUBEUX JUNIOR, J.C.B. Efeitos da fertilização com nitrogênio sobre a produção e eficiência do uso da água em capim buffel. Revista Caatinga, v.21, n.3, p.13-15, 2008. MOREIRA et. al. Alternativas de volumosos para caprinos em crescimentoRev. Bras. Saúde Prod. An., v.9, n.3, p. 407-415, jul/set, 2008 SILVA, Thiago Carvalho da et al. Conservação de forrageiras xerófilas. Revista Eletrônica de Veterinária, Viçosa, v. 15, n. 3, p.1-10, nov. 2014 SANTANA NETO, José Adelson; OLIVEIRA, Vinicius da Silva; VALENÇA, Roberta de Lima. Leguminosas adaptadas como alternativa alimentar para ovinos no semiárido. Revista de Ciências AgroveterináriasLages, v. 14, n. 2, p.191-200, 13 fev. 2015.