Utilização de solução fitoterápica e óleo de Neem (Azadirachta indica) no pré e no pós–dipping

Laís Cristine Costa1, Gian Carlos Nascimento2, Selda Loase Salustiano Marques3, Melina Laura Moretti Pinheiro4, Sabrina Vargas Monteiro5, Maria Aparecida Vasconcelos Paiva Brito6, Ana Cardoso Clemente F. F. de Paula7, Rafael Bastos Teixeira8
1 - IFMG - campus Bambuí
2 - IFMG - campus Bambuí
3 - Instituto de Microbiologia Paulo de Góes – UFRJ
4 - IFMG - campus Bambuí
5 - IFMG - campus Bambuí
6 - da Embrapa Gado de Leite – Juiz de Fora
7 - IFMF - campus Bambui
8 - IFMG - campus Bambuí

RESUMO -

Objetivou-se com este estudo avaliar o efeito de duas soluções fitoterápicas à base de óleo de Nem como sanitizante no manejo de pré e de pós-dipping em vacas leiteiras. O trabalho foi desenvolvido no IFMG-Bí com duração de doze semanas, utilizando-se doze vacas lactantes. No manejo do pré e pós-dipping utilizaram-se as seguintes soluções: iodo, clorohexidina, solução fitoterápica e óleo de Neem. Foram coletadas duas amostras compostas de leite de cada animal para a avaliação da CCS e CTB. Os animais tratados com a solução de clorohexidina apresentaram a CCS superior em relação aos demais tratamentos. Não foi observada diferença significativa na CCS entre os animais tratados com as demais soluções. O tratamento que utilizou o iodo apresentou a menor CTB, apresentando diferença significativa aos demais tratamentos. A solução fitoterápica e o óleo de Neem mostraram ser eficiente no controle da CCS. Já para a CTB o iodo apresentou melhores resultados nas condições deste estudo.

Palavras-chave: mastite, óleo de Neem, sanitizante

Use of phytotherapic solution based on neem oil (Azadirachtaindica) in pre-and post-dipping

ABSTRACT - In this study the effect of two herbal solutions based on Neem oil were evaluated as a sanitizer during pre and post-dipping management of twelve dairy cows. The study was conducted at IFMG - Bí during twelve consecutive weeks. The following solutions were used for pre and post-dipping management: iodine; chlorhexidine; herbal solution and Neem oil. Every seven days two milk samples from each animal were collected for assessment of somatic cell count (SCC) and total bacterial count (TBC). Milk samples of the animals treated with chlorhexidine solution showed higher SCC compared to the other treatments. There was no significant difference in SCC between the animals treated with the other solutions. The milk TBC countings of animals treated with iodine solution were smaller, and no difference was observed among the others treatments. Herbal solution and Neem oil were shown to be efficient in the control of CCS. For TBC, iodine presented better results under the conditions of this study.
Keywords: mastitis, Neem oil, sanitizer


Introdução

As boas práticas de ordenha visam garantir a saúde da glândula mamária das vacas em lactação e são de extrema importância para diminuir a incidência de novas infecções intramamárias (IIM). Neste contexto, um procedimento recomendado é a desinfecção dos tetos antes e após a ordenha (WILLIAMSON; LACY-HULBERT, 2013). O Brasil detém uma vasta fonte de produtos naturais úteis para o uso na prevenção ou no tratamento de doenças, tanto do homem como dos animais. Os produtos naturais são obtidos, em grande parte, de espécies vegetais com valor terapêutico e estes são chamados de fitoterápicos (ALVES; ALVES, 2011). Os fitoterápicos têm sido utilizados na Medicina Veterinária para a prevenção e para o tratamento de parasitoses e enfermidades infecciosas, inclusive em tratamentos de IIM (TRONCARELLI et al., 2013). O desenvolvimento e o uso de produtos fitoterápicos busca evitar os possíveis efeitos indesejáveis  que as substâncias químicas provocam, como a possível presença de resíduos químicos no leite (AVANCINI et al., 2000; SCHIAVON et al., 2011). A realização deste estudo teve como objetivo avaliar o efeito de duas soluções fitoterápicas à base de óleo de Neem (Azadirachta indica) como sanitizantes no manejo de pré e de pós-dipping em vacas leiteiras.

Revisão Bibliográfica

Entre as doenças que acometem o gado leiteiro, a mastite é a que mais apresenta risco à saúde dos animais. A mastite é a inflamação da glândula mamária causada, principalmente, por bactérias e suas toxinas (HAMANN et al., 1994). Ela é caracterizada por ser uma doença multifatorial com etiologia complexa e causa diminuição da produtividade do rebanho e da qualidade do leite, o que proporciona prejuízos econômicos aos produtores (DILLON et al., 2015). Entre os procedimentos de higiene que têm proporcionado resultados satisfatórios para o controle da mastite e para a melhoria da qualidade do leite, o pré e pós-dipping têm-se destacado (NERO et al., 2009). O pré-dipping consiste na imersão do teto do animal em uma solução antisséptica antes da ordenha com a finalidade de diminuir a contaminação do leite e para prevenir o aparecimento de novas IIM, principalmente a ambiental. Já o pós-dipping é a imersão do teto, após a ordenha, em solução antisséptica e tem o objetivo de prevenir a mastite contagiosa. Entretanto, existem vários tipos de desinfetantes que podem apresentar diferentes níveis de eficiência e economia para o produtor (WILLIAMSON; LACY-HULBERT, 2013). Os parâmetros mais utilizados para avaliar a qualidade higiênica do leite são: a contagem de células somática (CCS) e a contagem total de bactérias (CTB). A CCS reflete o estado de saúde da glândula mamária, pois, o processo inflamatório causa aumento do número de células somáticas em função da migração de glóbulos brancos do sangue para o interior da glândula mamária (GARGOURI et al., 2013). Já a CTB é o parâmetro empregado para avaliar a qualidade microbiológica do leite. O resultado fornece indicação dos cuidados de higiene empregados na obtenção e no manuseio do leite na fazenda. Altos valores indicam falhas na limpeza dos equipamentos e na higiene da ordenha, leite proveniente de vacas com mastite e/ou problemas no armazenamento do leite (MOLINERI et al., 2012). A exigência pela qualidade dos alimentos de origem animal tem sido a cada dia maior. O uso de produtos químicos pode resultar na presença de resíduos no produto final, o que oferece risco à saúde dos consumidores (TRONCARELLI, et al., 2013). Entre as várias alternativas para o controle da mastite, o uso de fitoterápicos tem ganhado destaque. evita a eliminação de resíduos químicos no leite, é inócua aos ordenhadores e proporcionam menores impactos ambientais (SCHIAVON et al., 2011).  

Materiais e Métodos

O trabalho foi desenvolvido no setor de bovinocultura de leite do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, Campus Bambuí, com duração de doze semanas consecutivas, nos meses de abril a junho de 2013 (outono/inverno). Utilizaram-se doze vacas lactantes selecionadas de acordo com a produção de leite, número de lactações e número de dias em lactação, distribuídas em um delineamento em blocos casualizados. Foram utilizados no manejo de pré e de pós-dipping as seguintes soluções: 1) solução de iodo a 0,33% (pré-dipping) e 0,5% (pós-dipping); 2) solução de clorohexidina a 2,5%; 3) “solução fitoterápica”, isto é, à base de óleo de neem contendo extrato alcoólico de Baccharis trimera (Carqueja) e extrato alcoólico de Stryphnodendron adstringens (Barbatimão), e 4) óleo de Azadirachta indica (Neem). Duas amostras compostas de leite foram coletadas de cada animal para a avaliação da CCS e da CTB, a cada sete dias. As amostras foram enviadas em caixas isotérmicas com gelo, ao Laboratório de Qualidade do Leite da Embrapa Gado de Leite, Juiz de Fora/MG e foram analisadas por citometria de fluxo. Os resultados referentes a CCS (cel/mL) e CTB (UFC/mL) foram transformados para a função log10 e analisados pelo teste de Shapiro-Wilk, de variância e SNK a 5% de significância utilizando o programa estatístico R.

Resultados e Discussão

Os animais cujos tetos foram imersos em solução de clorohexidina apresentaram valores de CCS e de CTB no leite, superiores em relação aos demais tratamentos (p<0,05). Segundo Germanos; Germanos, (2003) os compostos clorados, por serem voláteis e por expressarem afinidade à matéria orgânica, devem ser conservados em recipientes escuros, em locais bem ventilados e em temperaturas amenas, para que não haja perda da sua ação antimicrobiana. Neste estudo, a solução de clorohexidina utilizada foi mantida na sala de ordenha (em temperatura ambiente) e acondicionada em frasco plástico translúcido. Este fato pode ter, possivelmente, diminuído a eficiência deste sanitizante, levando a uma alta CCS e CTB, quando comparado aos demais tratamentos. A CCS do leite após o tratamento utilizando a solução de iodo foi menor (5, 2918 log10cel/mL), mas não diferiu (p>0,05) da CCS do leite dos animais tratados com solução fitoterápica e óleo de Neem, que foram de 5,3416 e 5,4413 log10cel/mL, respectivamente (Tabela 1). Os resultados encontrados coincidem com os obtidos por Schiavon et al. (2011), que utilizaram extrato hidroalcoólico de Tagetes minuta L. na antissepsia dos tetos após a ordenha. Estes autores não observaram diferença (p>0,05) no escore do California Mastitis Test (CMT) e no número de novas IIM causadas por Staphylococcus spp., coagulase positivo e Streptococcus spp. quando comparado ao Iodo. Os animais tratados com a solução de iodo apresentaram menor CTB, com 4,3374 log10UFC/mL. Os tratamentos que usaram a solução de óleo de Neem, solução fitoterápica e a clorihexidina não diferiram entre si, e apresentaram valores de 4,6989; 4,7548 e 4,8376 log10UFC/mL, respectivamente. Williamson e Lacy-Hulbert (2013), em um estudo realizado na Nova Zelândia, constataram que a desinfecção dos tetos após a ordenha é eficiente para diminuir o número de IIM e, consequentemente, a CCS. Piepers et al., (2014), utilizando rebanhos na Bélgica, concluíram que a desinfecção dos tetos por imersão ou pulverização antes de acoplar a unidade de ordenha resultou em menor CTB e menor contagem de coliformes. Schiavon et al. (2011), concluíram que os extratos vegetais apresentam grande potencial para serem utilizados no pré e no pós-dipping, podendo substituir os produtos convencionais. Nesse contexto, o óleo de Neem é um composto natural que não possui ação residual, além de apresentar excelente biodisponibilidade e ação antimicrobiana (Mancebo et al., 2002).  

Conclusões

O uso da solução de iodo mostrou ser eficiente no controle da CCS e da CTB, nas condições deste estudo. Contudo, o trabalho apresentou resultados satisfatórios em relação ao uso da solução fitoterápica e do óleo de Neem como antissépticos no pré e no pós-dipping. As soluções fitoterápicas avaliadas apresentam ação antimicrobiana e boa biodisponibilidade por utilizar plantas fáceis de serem encontradas, o que as tornam uma alternativa promissora para os produtores, em especial os que produzem leite orgânico. Mediante aos resultados obtidos nesse estudo, novas pesquisas serão realizadas para avaliar as propriedades do Neem, da Carqueja e do Barbatimão com o intuito de desenvolver um produto tecnológico e que atinja os padrões de qualidade exigidos para a desinfecção de tetos.

Gráficos e Tabelas




Referências

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