Valores de lisina digestível sobre características de carcaça de frangos de corte de menor potencial genético para crescimento criados em semiconfinamento abatidos aos 84 dias de idade.

Eduardo Souza do Nascimento1, Cristina Amorim Ribeiro de Lima2, Wagner Azis Garcia de Araújo3, Rooner Joaquim Mendonça Brasil4, Noédson de Jesus Beltrão Machado5, Felipe Dilelis de Resende Sousa6, Cleriston Andrade Machado7, Marcos Antonio Nascimento Filho8
1 - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais/IFNMG
2 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
3 - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais/IFNMG
4 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
5 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
6 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
7 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
8 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ

RESUMO -

Objetivou-se determinar a exigência de lisina digestível sobre características de carcaça de frangos de corte de menor potencial genético para crescimento criados em semiconfinamento abatidos aos 84 dias de idade. Foram criados300 frangos de corte machos, dos 35 aos 84 dias de idade, da linhagem EMBRAPA 041, distribuídos em 20 unidades experimentais em delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos (0,586; 0,746; 0,906; 1,066 e 1,226% de lisina digestível), quatro repetições e quinze frangos por unidade experimental. Para obtenção das características de carcaça foram abatidos seis frangos por repetição aos 84 dias de idade. Foram observados efeitos quadráticos para rendimento e peso absoluto de carcaça, efeito linear para rendimento de peito e não houve influência dos níveis de lisina sobre a gordura abdominal. Podem ser recomendadas para o máximo rendimento de carcaça aos 84 dias de idade rações com 0,957% de lisina digestível.

Palavras-chave: aminoácidos, Embrapa 041, exigência nutricional

Digestible lysine values on carcass characteristics of broiler chickens with lower genetic potential for growth in semi-confined systemsslaughtered at 84 days of age.

ABSTRACT - The aim of this study was to determine the digestible lysine requirement under carcass characteristics of broiler chickens with lower genetic potential for growth in a semi-confined systemslaughtered at 84 days of age. A total of 300 male broilers of the EMBRAPA 041 lineage were distributed in 20 experimental units in a completely randomized design, with five treatments (0.586, 0.766, 0.906, 1.066 and 1.226% digestible lysine), four replicates and fifteen chickens per experimental unit. To obtain the carcass characteristics were slaughtered six chickens per repetition at 84 days old. Quadratic effects were observed for absolute weight and carcass yield, linear effect for chest yield and there was no influence of lysine levels on abdominal fat. For the maximum carcass yield at 84 days old, rations with 0.957% digestible lysine can be recommended.
Keywords: amino acids, Embrapa 041, nutritional requirements


Introdução

As carcaças dos frangos e os seus cortes são o produto final do sistema de produção, sendo suas características fundamentais para a remuneração. A lisina está diretamente relacionada à síntese e deposição de proteína muscular, sendo que em torno de 7,5% de toda proteína da carcaça é composta por lisina (SKLAN & NOY, 2004), ou seja, dietas limitantes em lisina podem prejudicar a deposição muscular e as características da carcaça.

Conhecer a exigência de lisina é fundamental para nutrir adequadamente as aves, uma vez que é o segundo aminoácido limitante para frangos de corte alimentados com rações formuladas à base de milho e farelo de soja (FARIDI et al., 2013). No entanto poucos são os dados na literatura obtidos com linhagens de menor potencial genético para crescimento, sendo geralmente extrapolados para a formulação de rações os dados obtidos com frangos de alto potencial genético para crescimento.

Diversos autores, ao avaliarem as características de carcaça de frangos de corte alimentados com rações de diferentes níveis de lisina, observaram influência sobre o rendimento de carcaça (Nascimento et. al., 2009), rendimento de peito (Costa et al., 2006) e o percentual de gordura abdominal (Trindade Neto et al., 2009).

O objetivo neste estudo foi determinar a exigência de lisina digestível, dos 35 aos 84 dias de idade, para as características de carcaça de frangos de corte de menor potencial genético para crescimento criados em semiconfinamento abatidos aos 84 dias de idade.



Revisão Bibliográfica

A lisina é considerada o aminoácido essencial mais termolábil em virtude da reatividade do grupo épsilon amino (BAKER, 1994). Em condições de alta temperatura e umidade, o grupo amino livre pode reagir com um grupo carbonila livre de açucares redutores como a glicose e lactose por exemplo, na chamada ligação de Maillard (ROBBINS & BAKER, 1980), o que tornaria a lisina indisponível. De acordo com Champe et al. (2009) é um aminoácido classificado como cetogênico. Após a digestão da fração protéica dos alimentos, a absorção de lisina ocorre nos enterócitos, mais especificamente em canais que estão presentes na região apical dessas células e posteriormente carreada para o sangue a partir da membrana basolateral dos hepatócitos (MATTEWS, 2000).

Dentre as principais funções orgânicas da lisina, pode-se destacar a síntese de proteína para deposição muscular (LANA et al., 2005). Outras funções atribuídas a lisina são: síntese de colágeno, necessário para formação do tecido conectivo da matriz óssea, pois é precursora da hidroxilisina (SANDEL & DANIEL, 1998);constituinte da elastina e precursora da carnitina, responsável pelo transporte intracelular dos ácidos graxos de cadeia longa na mitocôndria para serem catabolizados na b-oxidação (CHAMPE et al., 2009); componente das histonas, que são proteínas encontradas junto ao DNA (LEHNINGER et al., 1993).

Para o atendimento dessas funções orgânicas, é necessário o fornecimento de lisina que possa atender as exigências do animal para esse aminoácido, porém a estimativa dos requerimentos nutricionais podem variar de acordo com o parâmetro avaliado, como o ganho de peso, rendimento de peito, conversão alimentar, e gordura abdominal (LECLERCQ et al., 1998), e fatores como raça, linhagem, sexo, consumo de ração, teor de proteína e energia da ração, disponibilidade dos nutrientes, condições ambientais, estado sanitário, além da digestibilidade dos alimentos utilizados na formulação das rações (LANA et al., 2005).



Materiais e Métodos

Todos os procedimentos foram aprovados pelo CEUA/UFRRJ, protocolo 23083.011133/2014-48. Foram adquiridos 800 pintos de corte machos (um dia de idade) da linhagem comercial “EMBRAPA 041”. As exigências nutricionais foram estabelecidas de forma a atender no mínimo as recomendações do manual da linhagem (FIGUEIREDO et al., 2006). Foram utilizados 300 frangos de corte, com peso inicial médio de 987 g. Os frangos foram distribuídos em 20 unidades experimentais em um delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos (0,586; 0,746; 0,906; 1,066 e 1,226 % de lisina digestível), quatro repetições e quinze frangos por unidade experimental. Os tratamentos foram obtidos a partir da adição de L-lisina HCL (78% de pureza) em substituição ao amido de milho da dieta basal. Os frangos foram alojados em um abrigo de 1,85 X 2,20 m, contendo cama de maravalha, um comedouro tubular, um bebedouro tipo copo e um bebedouro externo tipo cocho, tendo o abrigo acesso a dois piquetes de 10x10 m separados por tela. Foi realizado o rodízio dos piquetes de acordo com as condições de crescimento da forrageira Tifton 85 (Cynodonnlemfuensis x C. dactylon). Os frangos tiveram livre acesso aos piquetes durante todo período experimental. Aos 84 dias de idade, seis frangos por repetição, passaram por jejum de oito horas, e posteriormente ao jejum foram pesados, abatidos, sangrados, escaldados, depenados e eviscerados. As carcaças foram pesadas para avaliação do peso da carcaça. Foram avaliados os pesos absolutos e rendimentos de carcaça, vísceras comestíveis e gordura abdominal. O cálculo do rendimento de carcaça foi realizado com base no peso vivo após o jejum e o peso da carcaça. Os resultados foram submetidos à análise estatística utilizando-se o programa SAEG (UFV, 2000). As respostas foram estudadas por análise de regressão, e quando possível foram realizadas as estimativas de exigências de lisina digestível através do modelo quadrático.

Resultados e Discussão

Na Tabela 1 estão apresentados os efeitos dos diferentes níveis de lisina sobre o as características de carcaça aos 84 dias de idade.

Foi verificado efeito quadrático no peso absoluto (Ŷ = - 890,07x2 + 2049,5x + 1026,7; R2 = 0,88) e no rendimento de carcaça (Ŷ = - 10,675x2 + 22,44x + 59,599; R2 = 0,97), com os valores de lisina digestível estimado em 1,057 e 0,957 %. Nascimento et. al. (2009) trabalhando com frangos caipiras também observaram efeito quadrático da lisina sobre o rendimento de carcaça, com valor estimado de 0,835% de lisina digestível ração. Os rendimentos médio de carcaça desta pesquisa (70,82%) foram superiores aos relatados por Madeira et al. (2010) aos 84 dias de idade para três linhagens caipiras: Master Griss (67,95%), Label Rouge (68,99%) e Vermelhão Pesado (69,82%).

O aumento linear para rendimento de peito obtido neste estudo estão de acordo com os resultados de Costa et al. (2006). De acordo com Leclercq (1998), o peito é o tecido muscular que mais aproveita o aumento dos níveis de lisina, em virtude da quantidade fibras presente neste músculo.

Não foram observadas influência do nível de lisina sobre o peso absoluto e relativo da gordura abdominal, dados contrastantes com os descritos por Trindade Neto et al. (2009), que relataram diminuição do peso de gordura abdominal com o aumento do teor de lisina da ração.



Conclusões

O valor 0,957% de lisina digestível na ração de frangos de corte de menor potencial genético para crescimento criados em semiconfinamento, dos 35 aos 84 dias de idade, proporcionou o maior rendimento de carcaça quando abatido aos 84 dias de idade.



Gráficos e Tabelas




Referências

BAKER, D. H. Utilization of precursors for L-amino acids.  In: D’MELLO, J. P. F.  Amino acids in farm animal nutrition. New York: CAB International, 1994. P.37-62. CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A; FERRIER, D. R.  Bioquímica ilustrada. 4 ed.  –  Porto Alegre: Artmed, 2009. COSTA, F. G. P.; et al. Níveis de lisina para frangos de corte nos períodos de 22 a 42 e de 43 a 49 dias de idade. Ciência e Agrotecnologia, 30 (4): 759-766, 2006. FARIDI, A. et al. Study of broiler chicken responses to dietary protein and lysine using neural network and response surface models. British Poultry Science, 54 (4): 524-530, 2013. FIGUEIREDO, E. A. P. de et al. Frango de corte colonial Embrapa 041. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Suínos e Aves, Concórdia: EMBRAPA, 2006. 1-8. LANA, S. R. V.; OLIVEIRA, R. F. M.; DONZELE, J. L.; GOMES, P. C.; VAZ, R. G. M. V.; RESENDE, W. O. Níveis de lisina digestível em rações para frangos de corte de 22 a 42 dias de idade, mantidos em ambiente de termoneutralidade. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.5, p.1624-1632, 2005. LECLERCQ B. Specific Effects of Lysine on Broiler Production: Comparison with Threonine and Valine. Poultry Science, 77 (1): 118–123, 1998. LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M.  Principles of Biochemestry. 2 ed. New York: Worth, 1993. p.1013. MADEIRA, L. A. et al. Avaliação do desempenho e do rendimento de carcaça de quatro linhagens de frangos de corte em dois sistemas de criação. Revista Brasileira de Zootecnia, 39 (10): 2214-2221, 2010. MATTEWS, J. C. Amino acid and peptide transport systems I. In: D’MELLO, J. P. F.  Farm Animal Metabolism and Nutrition. New York: CAB International, 2000. NASCIMENTO, D. C. N. et al. Exigências de lisina digestível para aves de corte da linhagem ISA Label criadas em semiconfinamento. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 61 (5): 1128-1138, 2009. ROBBINS, K. R.; BAKER, D. H. Evaluation of the resistance of lysine sulfire to Maillarddestruction. Journal of Agriculture and Food Chemistry. 28, p. 25-29, 1980 SANDEL, L. J.; DANIEL, J.C. Effects of ascorbic acid on collagen mRNA levels in short-term chondrocyte cultures. Connective Tissue Research, v.17, p.11- 22, 1988. SKLAN, D.; NOY, Y. Catabolism and deposition of amino acids in growing chicks: effect of dietary supply. Poultry Science, 83 (6): 952-961, 2004. TRINDADE NETO, M.A.; et al. Níveis de lisina digestível para frangos de corte machos no período de 37 a 49 dias de idade. Revista Brasileira de Zootecnia, 38 (3): 508-214, 2009. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA – UFV. 2000. SAEG – Sistema de análise estatísticas e genéticas. Viçosa, MG.