Variabilidade espacial do estrato arbustivo em áreas de caatinga no semiárido Alagoano pastejadas por caprinos

Enmelly Rayane Azevedo da Rocha1, Gislaine Alexandrino da Silva2, Jordânia Kely Barbosa da Silva3, Darlan Silva dos Santos4, Leandro Santos e Silva5, Mariah Tenorio de Carvalho Souza6, Dorgival Morais de Lima Júnior7, Greicy Mitzi Bezerra Moreno8
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RESUMO -

Objetivou-se avaliar a variabilidade espacial do estrato arbóreo em áreas de Caatinga no semiárido Alagoano pastejada por caprinos. O estudo foi realizado em Xingó, na cidade de Piranhas/ Alagoas, em região de Caatinga, no semiárido Alagoano. A área experimental representou um hectare, plotados em parcelas contiguas e delimitadas com auxilio de GPS. Foram distribuidos em quatro parcelas (P1, P2, P3 e P4), cada uma contendo 25m². As áreas eram pastejadas por ruminantes em sistema semi-extensivo de criação. As espécies arbóreas predominantes identificadas na flora do semiárido alagoano foram a Catingueira (Poincianela pyramidallis) e o Pereiro (Aspiroderma pyrifollium), com 1.434 e 909 indivíduos numa área de 1 ha, respectivamente. Assim, a distribuição espacial do estrato arbóreo dá suporte forrageiro para a alimentação de ruminantes em áreas de Caatinga.

Palavras-chave: Alagoas, geoestatística, pequenos ruminantes

Spatial variability of the shrub stratus in areas of caatinga at Alagoas semi-arid grazed by goats

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the spatial variability of the arboreal stratum in areas of Caatinga in the semi-arid of Alagoas, grazed by goats. The study was carried out in Xingó, in the city of Piranhas / Alagoas, in the Caatinga region, in a semi-arid region of Alagoas. The experimental area represented one hectare, plotted in contiguous parcels and delimited with the aid of GPS. They were distributed in four plots (P1, P2, P3 and P4), each containing 25m². The areas were grazed by ruminants in a semi-extensive feedplot system. The predominant arboreal species identified in the flora of the Alagoas semiarid were Catingueira (Poincianela pyramidallis) and Pereiro (Aspiroderma pyrifollium), with 1,434 and 909 individuals in an area of 1ha, respectively. Thus, the spatial distribution of the arboreal stratum provides a diet support for the feeding of ruminants in Caatinga areas.
Keywords: Alagoas, geostatistics, small ruminants


Introdução

Atualmente cerca de 92% da população de cabeças caprinas encontram-se no Nordeste, principalmente em regiões semiáridas (Medeiros et al. 2000). Embora esse percentual seja alto, os índices de produção e produtividade da pastagem e dos animais são muito baixos em virtude do uso aleatório das combinações e do manejo inadequado da pastagem aliados ao baixo nível tecnológico, baixa precipitação e escassez de volumosos. Por isso, faz-se necessário estudos sobre o comportamento do estrato arbóreo em processo de regeneração natural em áreas de Caatinga para que, através das análises seja possível obter soluções para a recuperação da área, incentivar a produção com boas taxas de lotação animal e melhorar o desenvolvimento da atividade na região, visando maior lucratividade para os produtores. Em vista disso, o presente estudo objetivou avaliar variabilidade espacial do estrato arbóreo em áreas de Caatinga no semiárido Alagoano pastejadas por caprinos em sistema semi-extensivo de criação.

Revisão Bibliográfica

A Caatinga é o mais importante tipo de vegetação que cobre o semiárido do Nordeste brasileiro (Araujo Filho et al., 2002). As peculiaridades dessa região permitem uma rica diversidade de espécies pertencentes a essa vegetação, diferindo entre estratos herbáceos, arbustivos, arbóreos e subarbustivo. De acordo com Cavalcanti, (2014) o consumo dos recursos forrageiros pelos animais é bastante moldável mediante a disponibilidade de forragem. A diversidade de recursos forrageiros, aliada ao seu potencial, nutritivo permite a seleção pelos animais, principalmente caprinos, de uma dieta capaz de atender suas exigências de mantença, mesmo em épocas de escassez de água, onde a disponibilidade de forragem diminui. Guedes Filho (2009) define que a caracterização da variabilidade espacial do estrato arbustivo é necessária para que se possa interpretar as possíveis causas de variações do crescimento das espécies encontradas. Dessa forma, pode-se evitar áreas em processo de desertificação. Assim, a análise de mapas de contorno torna-se vital na tentativa de explorar e compreender as causas da variabilidade da produtividade e crescimento da vegetação, podendo vir a ser um critério de tomada de decisão de manejo em pastagens nativas.

Materiais e Métodos

O estudo foi realizado no Centro Xingó de Convivência com o Semiárido (em parceria com o IABS – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade), na cidade de Piranhas/ Alagoas, em região de Caatinga, localizada no semiárido Alagoano. A vegetação que recobre a região estudada é a Caatinga hiperxerófita. A área experimental representou um hectare, que foram delimitados dentro de quatro áreas de Caatinga plotadas em 25m² cada e identificadas em parcelas (P1, P2, P3 e P4), resultando em um total de 10.000m² área amostrada, delimitadas com auxílio de GPS (Global Positioning System) através do método de parcelas contíguas (MullerDombois e Ellemberg, 1974; Rodal et al., 1992). Os animais presentes nas áreas eram caprinos mestiços ½ Saanen Boer em sistema semi-extensivo de criação distribuídos em 0.84 cab/ha. Foi realizado o levantamento florístico e fitossociológico para a identificação do estrato vegetal presente nas áreas, adotando a metodologia de Rodrigues (1989) onde foram mensurados em cada parcela: a espécie, a altura (≥1,0m) e a circunferência ao nível do solo (CNS≥9cm) de todos os indivíduos vivos do estrato arbóreo. Em seguida, os dados tabelados foram importados para o programa Mata Nativa (v 4.0) para verificar o valor de importância das espécies, onde a espécie de maior importância foi georreferenciada através do programa Surfer® v.13 (Golden software, Colorado, EUA) e Corel DRAW® v. X4, para elaboração dos mapas de contorno para a distribuição espacial.

Resultados e Discussão

Oberva-se na figura 1A, a espécie Catingueira (Poincianella pyramidalis L.P.Queiroz ) com maior valor de importância, apresentando 1.434 números de indivíduos no total, representando 31,59% dos pixels da região do mapa de 15 a 30 indivíduos. Isto demonstra a tendência de agrupamento da espécie visto que a Catingueira encontra-se em área de regeneração natural e é considerada um estrato vegetal de alta resiliência em regiões semiáridas. Na figura 1B, podemos observar o Pereiro (Aspiroderma pyrifollium Mart.) como a segunda espécie de maior tendência de agrupamento na área. Possui 11,52% dos pixels no mapa de 15 a 30 indivíduos e foram encontrados 909 indivíduos no total. Figura 1.Variabilidade espacial de dois estratos arbóreos de área de Caatinga no semiárido alagoano. Esses números indicam também tendência de agrupamento e sua alta resiliência, corroborando com os dados de Souza (2015) e Trovão et al. (2010) ao trabalharem com estudos florísticos realizados em uma vegetação do semiárido paraibano. Estes, identificaram uma maior diversidade das famílias Fabaceae e Euphorbiaceae, corroborando com o presente estudo. Tal fato pode ser explicado pelo condicionante geral da semiaridez da região. Souza (2015) verificou em Caatinga paraibana, comportamento análogo das espécies em questão. Segundo a autora essas espécies servem como fonte alimentar de volumosos em épocas de escassez, onde altas taxas de lotação podem levar a desertificação de áreas semiáridas. Estudos têm revelado que acima de 70% das espécies botânicas da Caatinga participam significativamente da composição da dieta dos ruminantes domésticos. (Ferreira et al. 2009). Porém, a medida que a estação seca progride e com o aumento da disponibilidade de folhas secas de árvores e arbustos, estas espécies tornam-se cada vez mais importantes na dieta, principalmente dos caprinos. Estrategicamente, as espécies lenhosas são fundamentais no contexto de produção e disponibilidade de forragem no semi-árido nordestino (Araújo Filho et al., 1995) Figura 2. Pluviosidade trimestral em box-plot de 2016 em comparação à 1981 a 2010 (CPTEC/INPE, 2017). Os índices mostram que os maiores pulsos de precipitação atingiram cerca 250 mm de chuva e o trimestre mais seco apresentou pluviosidade abaixo de 10 mm. Esses números indicam que o período de estiagem aumentou e reduziu em torno de 50% das chuvas se comparado ao ano de 2010, onde a mesma região apresentou em torno de 500 mm no trimestre mais úmido. Esses dados complementam dados fornecidos pelo Governo Brasileiro ao afirmar que o nordeste brasileiro enfrentou nos anos de 2013 e 2014 a maior seca dos últimos 50 anos. Segundo a ONU (2013) a escassez de águas está prevista até 2030. Os produtores que vivem nesta região, em sua maioria, conseguem o sustento familiar através da produção de animais domésticos. Assim, apesar da baixa precipitação, a área analisada demonstra-se em regeneração natural sem risco de desertificação, indicando boas taxas de lotação em pastejo.

Conclusões

A distribuição espacial do estrato arbóreo em área de Caatinga oferece suporte forrageiro para a alimentação de pequenos ruminantes em baixa lotação, demonstrando área em regeneração natural sem risco de desertificação, apesar da baixa precipitação hídrica. As espécies vegetais predominantes identificadas na flora do semiárido alagoano foram a Catingueira (Poincianela pyramidallis) e o Pereiro (Aspiroderma pyrifollium). Estas informações foram trabalhadas para identificar a situação atual da área e será referência para comparações com outros levantamentos ao longo dos períodos de uso de pastejo com caprinos.

Gráficos e Tabelas




Referências

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