Variações morfométricas entre alevinos de tambaqui (Colossoma macropomum), pirapitinga (Piaractus brachypomus) e seu híbrido

José Junior Tranqueira da Silva1, Naislan Fernanda Andrade Oliveira2, Hyago Jovane Borges de Oliveira3, Adriana Ferreira Lima4, Eduardo Sousa Varela5
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RESUMO -

Devido ao alto grau genético herdado dos genitores, a tambatinga ainda é confundida com seus parentais, principalmente na fase de alevinagem, devidos suas características fenotípicas serem muito semelhantes por serem peixes redondos, com isso o objetivo do trabalho foi comparar as relações morfométricas de alevinos de tambaqui (Colossoma macropomum) e pirapitinga (Piaractus brachypomus) (ambos puros) com a tambatinga (híbrido). Utilizou-se 53 alevinos de pirapitinga, 50 tambaquis e 46 tambatinga onde se utilizou as seguintes medidas morfométricas (cm): altura da base da nadadeira dorsal (A), comprimento da cabeça (CC) e altura da cabeça (AC). Onde todas as medidas eram em função do comprimento padrão (CP). A partir do programa estatístico Shapiro-Wilk e Bartlett, pode-se observar que o comprimento e altura da cabeça da tambatinga é maior do que as medidas da pirapitinga e menor do que as medidas do tambaqui.

Palavras-chave: Alevinos; cruzamento; heterose; híbrido; morfometria

Morphometric variations between tambaqui (Colossoma macropomum), pirapitinga (Piaractus brachypomus) and their hybrid

ABSTRACT - Due to the high genetic degree inherited from the parents, the tambatinga is still confused with its parents, mainly in the stage of raising, its phenotypic characteristics are very similar to its round fishes, with that the objective of the work was compared like morphometric relations of fingerlings Of Tambaqui (Colossoma macropomum) and pirapitinga (Piaractus brachypomus) (both pure) with a tambatinga (hybrid). A total of 53 pips of pirapitinga, 50 tambaquis and 46 tambatinga were used. Measurements were taken as morphological measurements (cm): height of the dorsal fin base (A), head length (CC) and head height (CA). Where are the measures according to the standard. Shapiro-Wilk and Bartlett, it can be observed that the height of the head of the tambatá is greater than the measures of pirapitinga and smaller than the measures of tambaqui.
Keywords: Fingerlings; Crossing; Heterose; Hybrid; Morphometry


Introdução

A produção de híbridos vem crescendo continuamente no Brasil (IBGE, 2015), pois geralmente estes apresentam mais características favoráveis à produção do que seus parentais puros (BARTLEY et al., 2001; HELFMAN et al., 2009; ALVES et al., 2014), como: maior taxa de crescimento, melhor conversão alimentar, resistência a doenças e maior qualidade de carne, dentre outras características (BARTLEY et al., 2001; ALVES et al., 2014). O cruzamento entre a fêmea do tambaqui (Colossoma macropomum) e o macho da pirapitinga (Piaractus brachypomus), resulta no híbrido tambatinga e tem por objetivo a produção de peixes com características mais favoráveis a produção (ALVES et al., 2014). Em 2015, a produção de híbridos representou o corresponde a 8,6% do total de pescado produzido (dados referentes a produção de tambatinga juntamente com tambacu, ambos híbridos com parental fêmea tambaqui). Considerando a recorrente produção destas espécies (puros e híbridos), é importante que o setor produtivo possa identificar qual delas que está sendo produzida, pois isto tem sido um problema para os piscicultores, onde geralmente há mistura de lotes puros e híbridos no início da produção (ALVES, 2014). Como não há ferramentas que permita indicar qual o peixe que está sendo adquirido, o objetivo deste trabalho foi avaliar as diferenças morfométricas entre o tambaqui, pirapitinga e tambatinga como base para uma ferramenta de diferenciação dos alevinos nas pisciculturas.

Revisão Bibliográfica

Dentre as espécies nativas mais produzidas no Brasil, têm-se destaque para os peixes redondos, que englobam espécies como tambaqui, pirapitinga, pacu e seus híbridos. O tambaqui é a espécie mais cultivada na Região Norte (VAL et al., 2000) e o segundo peixe mais produzido no Brasil (IBGE, 2015), com uma produção de aproximadamente 139 mil toneladas. Isso representa 28,1% do total de peixes produzidos no Brasil, ficando atrás apenas da tilápia Oreochromis niloticus. O tambaqui apresenta qualidades como o crescimento rápido, fácil aceitação às rações, adaptação à criação em cativeiro, consistência adequada da carne e sabor apreciado pelo consumidor (GOULDING, 1998). Já a pirapitinga se adapta bem a criação intensiva, a altas temperaturas da água, ao manejo, a doenças e a baixos níveis de oxigênio dissolvido na água (KUBITZA, 2004). Além disso, apresenta ótima adaptação a ração, altas taxas de eficiência alimentar, crescimento acelerado e uniforme, carne de boa qualidade e aceitação no mercado. (MESA-GRANDA 2007). Um dos destaques da pirapitinga é a conformação corporal, que permite melhores rendimentos para a indústria. A hibridação, processo comum entre essas duas espécies, é o cruzamento de grupos ou indivíduos geneticamente diferenciados, podendo envolver tanto cruzamentos entre linhagens dentro de uma mesma espécie quanto entre indivíduos de espécies diferentes (RESENDE et al., 2010). Esses mesmos autores destacam que o uso da hibridação permite agregar, de forma rápida e no mesmo grupo genético, características desejáveis de espécies ou linhagens diferentes e que, com apenas uma geração de acasalamentos é possível obter indivíduos adaptados a determinadas situações de cultivo e que tenham produção superior aos progenitores. A tambatinga é um híbrido produzido pelo cruzamento entre a fêmea do tambaqui e o macho da pirapitinga. A tambatinga possui rastros branquiais mais desenvolvidos quando comparado com a pirapitinga, possibilitando assim maior eficiência no processo de consumo de fito e do zooplâncton presentes na água de cultivo. É um híbrido que pode alcançar peso comercial em curto período de tempo e utiliza baixos níveis de proteína bruta na dieta completar, o que resulta em um baixo custo de ração (KUBITZA, 2004). Adicionalmente, é um híbrido que possui alevinos comercializados em todo o mercado nacional (GODINHO, 2007), sendo facilmente adquirido pelo produtor. Essa alta oferta é resultado principalmente das suas características morfométricas quando adultos, apresentando maior altura corporal que o tambaqui, o que é uma característica interessante para o processamento industrial desse pescado, uma vez que pode melhorar o rendimento de filé (CONTRERAS-GUZMÁN, 1994).

Materiais e Métodos

Para realização deste estudo, foram analisados alevinos de pirapitinga (n=53), de tambaqui (n=50) e do híbrido tambatinga (n=46). Os peixes foram individualmente fotografados com câmera profissional (Canon) para mensuração de medidas morfométricas através do software Zeizz Axiovision Ret. 4.8. Para a captação das imagens, foi padronizada a mesma distância entre a câmera e o peixe, os alevinos foram posicionados em posição decúbito lateral esquerdo. As seguintes medidas foram mensuradas: (A) altura do peixe na base da nadadeira dorsal, compreendido entre a extremidade anterior da base da nadadeira dorsal até a extremidade oposta na região ventral; (CC) comprimento da cabeça, compreendido entre a extremidade anterior da cabeça e a borda posterior do opérculo; (AC) altura da cabeça, medida no maior tamanho da cabeça  e (CP) comprimento padrão, compreendido entre a extremidade anterior da cabeça e a linha imaginária do menor perímetro do pedúnculo caudal (região da inserção da nadadeira caudal) (Figura 1). Para comparação entre os grupos, foi realizado o cálculo das seguintes proporções: (1) A/CP; (2) CC/CP; e (3) AC/CP. Ao final, as proporções corporais calculadas foram avaliadas quanto à homogeneidade e normalidade usando os testes de Shapiro-Wilk e Bartlett, respectivamente. Para comparação das proporções entre os grupos avaliados, foi utilizada ANOVA a 5% de probabilidade, complementada pelo teste de Tukey.

Resultados e Discussão

As proporções morfométricas avaliadas foram significativamente diferentes entre os grupos. Para a proporção CC/CP (Figura 2A), o tambaqui e a pirapitinga apresentaram médias de 0,40 e 0,32, respectivamente, enquanto a tambatinga apresentou média de 0,38. A tambatinga apresentou, por tanto, média intermediária entre os seus parentais. Essa mesma tendência foi observada para a proporção A/CP, na qual a tambatinga apresentou média de 0,55, enquanto o tambaqui e a pirapitinga apresentaram média de 0,53 e 0,58, respectivamente. Com isso, observou-se que as proporções entre comprimento da cabeça e altura da cabeça em relação ao comprimento do corpo é menor na tambatinga do que no tambaqui e maior do que na pirapitinga, demostrando que os parentais contribuem de forma semelhante para estas características. Esses resultados foram semelhantes aos encontrados por SERAFINI, (2007). Já para a proporção AC/CP (Figura 2B), a tambatinga também apresentou média intermediaria (0,40), porém esta foi mais próxima dos valores apresentados pelo tambaqui (0,42) do que pela pirapitinga (0,35), o que sugere uma maior participação do parental tambaqui para esta característica. Para as características altura da cabeça e altura do corpo na base da nadadeira dorsal não foram encontrados estudos semelhantes para pirapitinga e tambatinga, porém, SERAFINI (2007), estudando medidas morfométricas em pacu Piaractus mesopotamicus, tambaqui e seus híbridos, encontrou as maiores médias para essas características no pacu. De uma forma geral, observou-se que há diferenças entre as proporções morfométricas nos três genótipos avaliados e estas não são homogêneas para as diferentes proporções avaliadas, o que permite sugerir que há contribuição diferente entre os parentais para cada característica. Adicionalmente, observou-se que é possível usar medidas morfométricas na diferenciação desses peixes. Entretanto, estudos mais detalhados identificando outras proporções e novas medidas são necessárias para que o produtor possa usar as medidas morfométricas como ferramenta de diferenciação de genótipos de tambaqui, pirapitinga e tambatinga.  

Conclusões

A tambatinga apresenta proporções corporais intermediárias entre os seus parentais e as diferenças nas proporções corporais permitem a diferenciação dos genótipos.  

Gráficos e Tabelas




Referências

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