Viabilidade econômica de Centro de Coleta e Processamento de Sêmen (CCPS) bovino em 2016 comparado com 2013
2 - GIIA-FZEA/USP
3 - GIIA-FZEA/USP
4 - Academia da Força Aérea
5 - VCI-FMVZ/USP
6 - London Business School
7 - GIIA-FZEA/USP
8 - GEAGRO-FZEA/USP
RESUMO -
O uso de biotecnologias reprodutivas (Inseminação Artificial – IA e a Inseminação Artificial em Tempo Fixo – IATF) associadas às técnicas adequadas de manejo apresentam significativas mudanças na produtividade dos rebanhos bovinos, trazendo melhoria nos índices zootécnicos. Para utilização destas técnicas, faz-se necessário a aquisição de doses de sêmens de empresas registradas junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e as doses devem ser oriundas de importações ou através da produção no país por um Centro de Coleta e Processamento de Sêmen (CCPS). Até 2012, a comercialização de sêmen e uso da IA e IATF apresentaram crescimento. Porém, em 2015 houve uma redução do volume de doses comercializadas, consequência da retração econômica brasileira. Nestes últimos cinco anos houve um desaquecimento do investimento dos produtores na atividade, substituindo então o uso da IA ou IATF pela utilização de touros. Assim, este estudo visa analisar a viabilidade econômica da operação de um Centro de Coleta e Processamento de Sêmen (CCPS) para prestação de serviços de congelamento de sêmen bovino no estado de São Paulo, estruturado em projeto por JORGE (2013) em comparação ao ano de 2016, baseado na metodologia de MATSUNAGA, M. et al. (1976), analisando os parâmetros: Custo Operacional Efetivo (COE), Custo Operacional Total (COT), Custo Total (CT), Renda Bruta (RB), Margem Bruta (MB), Margem Líquida (ML), Lucro (L), Taxa de Retorno do Capital de Giro (TRKG), Taxa de Retorno do Capital Total (TRKT) e Markup. A análise mostrou o COE com 150% maior que o reajuste praticado no mercado, reduzindo o mark-up de 40,02% em 2013 para 5,26% em 2016. Desta forma, a cada dose produzida e faturada ao cliente, a empresa perdeu 34,76% do valor financeiro da operação. Baseado no período analisado, a operação de um CCPS perdeu a atratividade para investimentos, sendo necessários reajustes urgentes de preços ou redução dos custos.
Economic viability of bovine Semen Collection and Processing Center (CCPS) in 2016 compared to 2013
ABSTRACT - The use of reproductive biotechnologies (Artificial Insemination and Fixed Time Artificial Insemination) associated to the appropriate management techniques present significant changes in the productivity of cattle herds, bringing improvement to the zootechnical indexes. In order to use these techniques, it is necessary to acquire doses of semen from companies registered with the Ministry of Agriculture and the doses must come from imports or through production in the country by a Collection Center and Semen Processing. Until 2012, the commercialization of semen and use of Artificial Insemination and Fixed Time Artificial Insemination had grown. However, in 2015 there was a reduction in the volume of commercialized doses, as a consequence of the Brazilian economic downturn. In the last five years there has been a slowdown in investment of producers in this activity, which led to the replacement of the use of AI or FTAI for the use of bulls. Thus, this study aims at analyzing the economic viability of the operation of a Semen Collection and Processing Center to provide bovine semen freezing services in the state of São Paulo. This work was structured in a project by JORGE (2013) in comparison to the year of 2016, based on the methodology of MATSUNAGA, M. et al., and according to the following parameters: Effective Operating Cost, Total Operating Cost, Total Cost, Gross Income, Gross Profit, Net Profit, Profit, Return Rate of the Working Capital, Rate of Return of Total Capital and Markup. The analysis showed Effective Operating Cost with 150% higher than the readjustment practiced in the market, reducing the mark-up from 40.02% in 2013 to 5.26% in 2016. Thus, at each dose produced and invoiced to the customer, the company lost 34.76 % of the financial value of the operation. Based on the analyzed period, the operation of a Semen Collection and Processing Center lost its attractiveness for new investments, requiring urgent price readjustments or cost reduction.Introdução
O Brasil é destaque no cenário internacional da carne bovina, porém a produção é ainda pouco tecnificada, sendo necessário modernização da pecuária bovina, incluindo o melhoramento genético. A Inseminação Artificial (IA) e a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) são biotecnologias reprodutivas que permitem democratizar a genética em rebanhos comerciais, trazendo melhoria de índices zootécnicos nas novas gerações. Para utilização destas técnicas, faz-se necessário a aquisição de doses de sêmens de empresas registradas junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) oriundas de importação ou produzidas no país por um Centro de Coleta e Processamento de Sêmen (CCPS). O CCPS pode produzir sêmen para terceiros, atividade denominada no setor como “Prestação de Serviço” (PS) ou pode produzir para a própria empresa comercializar a genética no varejo. Até 2012, a comercialização de sêmen e uso da IA e IATF apresentaram crescimento, porém, em 2015 houve uma redução de 5% do volume de doses comercializadas no ano e dados preliminares da ASBIA apontam uma retração de 7% no comércio de doses no país em 2016, sendo que no segmento de leite, a retração chega a 14,5%. Considerando a PS, houve redução de 14% na quantidade de doses produzidas comparando 2016 com 2013. Um dos fatores está relacionado ao desaquecimento da economia brasileira nestes últimos cinco anos, desaquecendo o investimento dos produtores na atividade, substituindo então o uso da IA ou IATF pela utilização de touros. Com esta queda de mercado, a atividade PS realizada por CCPS perdeu viabilidade, pois o valor médio das doses teve um reajuste médio de apenas 15%, ficando defasado em relação ao IPCA acumulado nos anos de 2013, 2014 e 2015, que foi de 24,7%, além do aumento de 31,6% de CCPS registrados junto ao MAPA. Consequentemente, houve uma perda de rentabilidade das empresas deste segmento, causados, principalmente, pela maior oferta de empresas no setor com preços reajustados abaixo do aumento real da economia. Este estudo visa analisar a viabilidade econômica da operação de um Centro de Coleta e Processamento de Sêmen (CCPS) para prestação de serviços de congelamento de sêmen bovino no estado de São Paulo, estruturado em 2012 por meio de projeto de startup de JORGE (2013), em comparação com o ano de 2016, baseado na metodologia de MATSUNAGA, M. et al. (1976), analisando os parâmetros: Custo Operacional Efetivo (COE), Custo Operacional Total (COT), Custo Total (CT), Renda Bruta (RB), Margem Bruta (MB), Margem Líquida (ML), Lucro (L), Taxa de Retorno do Capital de Giro (TRKG), Taxa de Retorno do Capital Total (TRKT) e Markup.Revisão Bibliográfica
Contexto da Pecuária no Brasil O Brasil é o país com o maior plantel de bovinos (Bos taurus) do mundo, com 219,1 milhões de cabeças em 2016, nascendo 48,35 milhões de bezerros no mesmo ano (USDA, 2016; FAOSTAT, 2017). Em 2014, foram abatidas 40,385 milhões de cabeças de bovinos segundo a FAOSTAT (2017). Com predominância do sistema extensivo, que consiste na criação a pasto e alimentação a base de capim, não há sistema de integração entre a indústria e o produtor. Com ciclo longo, leva-se em média 2,5 anos do nascimento ao abate, realizado com 15 arrobas em média. Os confinamentos correspondem a 10% do total de animais abatidos e o restante corresponde a criação extensiva (DEPEC, 2017). A safra da pecuária bovina ocorre no primeiro semestre do ano, no período das águas, onde há abundância de alimentos, havendo maior oferta de boi gordo e, consequentemente, com menores preços. A entressafra ocorre no segundo semestre, quando o valor da arroba sobe pela redução da oferta de boi gordo e pelo aumento da demanda no final do ano. Nesta época também há redução da oferta de vacas para abate, em especial entre setembro e outubro, que compreendem o início da estação reprodutiva. No último ano (2016), a oferta de boi gordo para abate foi reduzida, devido a um maior descarte de matrizes nos anos anteriores, reduzindo assim a produção de bezerros (DEPEC, 2017). No mercado internacional, a pecuária de corte brasileira ocupa posição de destaque, com perspectiva de aumento da produção brasileira devido a robusta demanda de exportação, causada pelas melhorias de acessos aos mercados da China, Arábia Saudita e Estados Unidos. Esta abertura do mercado chinês permitirá ao Brasil tornar-se líder mundial de exportação de carne bovina (USDA, 2016). O Brasil exportou, em 2016, 1,85 milhões de toneladas de carne bovina, tornando-se o maior exportador mundial (USDA, 2016), sendo que este produto compõe o complexo de carnes, que responderam por 7,6% das exportações brasileiras. Ocupou também a segunda posição no ranking global de maior produtor e consumidor de carne bovina. Apenas 0,5% do consumo brasileiro de carne bovina é oriundo de importação, provindo, em ordem de volume, do Uruguai, da Argentina e do Paraguai (DEPEC, 2017). É importante frisar que os dados da FAOSTAT (2017) analisados são apenas do gênero Bos, englobando o gado taurino e zebuíno. Os dados do USDA (2016) e DEPEC (2017) incluem também o gênero Bubalus, que engloba o búfalo doméstico (Bubalus bubalis), espécie na qual a Índia é a maior produtora mundial e que também pertence a família Bovinae. As biotecnologias reprodutivas trazem grande impacto no desenvolvimento da indústria bovina, sendo a IA a mais importante para a multiplicação de material genético superior devido a três pontos principais: é simples, econômica e de fácil disseminação. Esta tecnologia começou no Brasil na década de 30 do século XX, sendo que as primeiras empresas de tecnologia de sêmen surgiram nos anos 70 (SEVERO, 2009). O Índex ASBIA (Associação Brasileira de Inseminação Artificial) de 2015, apresenta a produção de 7,734 milhões de doses, a importação de 7,511 milhões de doses, o número de vacas em reprodução no Brasil de 81,239 milhões de cabeças e 12,6 milhões de doses de sêmen comercializadas, estimando que 10,3% do rebanho brasileiro é inseminado, representando crescimento de 87,11% na última década (2006-2015). Segundo Severo (2015), um dos fatores que contribuem para o crescimento da comercialização de sêmen no Brasil dá-se pela utilização da IATF, técnica na qual o Brasil é referência mundial. A produção de sêmen no Brasil é regulamentada pelo MAPA por meio da Instrução Normativa 53/2006, que resolve o regulamento para registro e fiscalização de CCPS de bovino, bubalino, caprino e ovino, somente sendo permitido a comercialização de sêmen congelado nestes estabelecimento, onde os touros doadores de sêmen passam por exames sanitários, de identificação genética e desempenho zootécnico, assegurando a identidade e qualidade do produto final, assim como a rastreabilidade do processo (MAPA, 2016). Através de consulta ao Sistema Integrado de Produtos e Estabelecimentos (SIPE) do MAPA, observa-se que no ano de 2012, haviam 19 CCPS registrados. Entre 2012 e 2017, sete novas empresas obtiveram o registro e outra encerrou as atividades, totalizando, na presente data, 25 empresas registradas para a produção de sêmen bovino. Informações de mercado (notícias online, internet) revelam ainda que uma nova empresa está em fase final de estruturação. Dos atuais 25 registros, 14 empresas são ativas e destas, 10 estão locadas nos estados de SP e MG (MAPA, 2017). Cenário Econômico Brasileiro O cenário econômico brasileiro nos últimos anos foi fortemente influenciado por eventos não econômicos repercutindo na retração de setores importantes para o país como a indústria e a prestação de serviços. Esta retração econômica impactou na confiança dos agentes econômicos e exigiu uma urgência no processo de ajuste macroeconômico no país (BANCO CENTRAL, 2015). A figura 01 aponta os resultados do Produto Interno Bruto – PIB, a inflação e o dólar no período de 2010 e 2016. De acordo com relatório anual do Banco Central (2015, p.15);As produções de carnes de aves, bovinas e suínas atingiram – de acordo com a pesquisa trimestral de abate de animais, divulgada pelo IBGE – 13,1 milhões, 7,5 milhões e 3,4 milhões de toneladas, respectivamente, em 2015, variando, na ordem, 5,0%, -7,1% e 7,4% no ano. As respectivas exportações variaram, na ordem, 6,6%, -12,1% e 13%, no período.A figura 2 ilustra o desempenho da produção animal de 2013 a 2015. Custos e Viabilidade Os custos agroindustriais possuem características próprias, obedecendo à natureza da atividade econômica específica e ressaltando suas diversas necessidades de utilizar um sistema de informações confiável. As dificuldades operacionais e estruturais limitam a capacidade de gerar dados sobre os custos. Para que o agronegócio brasileiro seja competitivo e rentável, deve-se direcionar sua administração para a necessidade de informações contábeis regulares sobre os aspectos financeiros/custos, bem como a avaliação de seus processos administrativos e produtivos. A ausência de precisão sobre custos compromete a qualidade das decisões, principalmente em tempos de recessão e retração econômica. Conforme Shank e Govindarajan (1997, p.4) “gestão estratégica de custos é uma análise de custos vista sob um contexto mais amplo, em que os elementos estratégicos tornaram-se mais conscientes, explícitos e formais”. Callado (2001) avalia que, “A apuração do custo de qualquer atividade econômica rural apresenta um dos seus maiores problemas no rigor do controle de seus elementos de forma a obter uma correta apropriação dos custos de cada um dos produtos existentes dentro da propriedade, principalmente sobre os gastos gerais, que devem ser rateados pelos diversos produtos de maneira tal que possa garantir o equilíbrio financeiro das contas da empresa sem comprometer seus preços no mercado”. O domínio de custos precisos deve ser elevado à sua real importância, propiciando ao gestor informações concretas sobre todos os valores desembolsados na produção ou execução dos seus serviços e serve de apoio na tomada de decisões, principalmente na formação do preço de venda e na avaliação da viabilidade econômica de um negócio. Ao pensar em um sistema de mensuração e controle de custos, deve-se atentar para o custo na sua implementação, pois, os resultados obtidos por meio das informações por ele geradas, em muitos casos superam, os seus custos de implantação e manutenção. De acordo com a metodologia de Matsunaga (1976), o efetivo controle de custos gera a avaliação econômica do negócio de forma precisa e facilita o processo decisório. A viabilidade econômica do negócio, avaliadas pelo autor, são a Margem Bruta (MB), a Margem Líquida (ML), o Lucro (L), a Taxa de Retorno do Capital de Giro (TRKG) e a Taxa de Retorno do Capital Fixo (TRKT).