Virginiamicina em bovinos de corte: levantamento bibliográfico

Beatriz Suares Souza1, Luciano Eduardo M. Polaquini2, Thalita Cucki3
1 - Universidade Anhembi Morumbi
2 - Universidade Anhembi Morumbi
3 - Universidade Anhembi Morumbi

RESUMO -

Dentre as diversas tecnologias utilizadas em bovinos de corte, tem-se as substâncias promotoras de crescimento: os ionóforos e não ionóforos. A virginiamicina, aditivo não ionóforo da classe das estreptograminas, atua inibindo bactérias gram-positivas. Como resultado, há a redução na produção de lactato, redução na incidência de abscessos hepáticos e acidose ruminal, bem como redução na produção de metano e nitrogênio excretado pelas fezes e urina, o que melhora a qualidade do ar e da água. Alguns autores relatam redução na ingestão de matéria seca, aumento do ganho de peso, maior eficiência e conversão alimentar, aumento no rendimento de carcaça e melhor desempenho de bezerros. Com isso, pode-se dizer que a virginiamicina atua diretamente no bem-estar animal, visto que reduz riscos de determinadas patologias e, ainda, auxilia produtores e profissionais para uma produção com maior eficiência e sustentabilidade.

Palavras-chave: bovinos de corte, virginiamicina, aditivo, dieta, rúmen.

Virginiamycin in beef cattle: bibliographic survey

ABSTRACT - Among the several technologies used in beef cattle, we have growth promoting substances: ionophores and non-ionophores. Virginiamycin, a non-ionophore additive of the streptogramin class, acts to inhibit gram-positive bacteria. As a result, there is a reduction in the production of lactate, a reduction in the incidence of hepatic abscesses and ruminal acidosis, a reduction in the production of methane and nitrogen excreted by feces and urine, which improves air and water quality. Some authors report a reduction in dry matter intake, an increase in weight gain, greater efficiency and feed conversion, an increase in carcass yield and a better performance of calves. With this, it can be said that virginiamycin acts directly on animal welfare, since it reduces risks of certain pathologies, as well as helps producers and professionals to produce more efficiently and sustainably.
Keywords: beef cattle, virginiamycin, additive, diet, rumen.


Introdução

O crescente desenvolvimento da pecuária e a necessidade do aumento da produtividade, visto que o Brasil possui um dos maiores rebanhos mundiais com 215,2 milhões de cabeças, sendo ainda um dos maiores produtores e exportadores mundiais de carne (IBGE 2015) faz com que profissionais trabalhem para o desenvolvimento de novas tecnologias, como por exemplo diversas e modernas formas de manejo, pesquisas constantes em aspectos nutricionais, melhoramento genético dos animais, controle adequado de doenças, economia e sustentabilidade. (FURLAN et al., 2011) Há uma busca crescente por uma carne de melhor qualidade e com animais mais precoces, tanto em sexualidade, quanto em abate.  Esse fato, associado ao papel importante que a pecuária está alcançando no Brasil, ocorre tanto pelo aumento da demanda mundial de alimentos por conta do crescimento da população, quanto pela abertura de mercados internacionais e consequente valorização dos produtos de origem animal produzidos no Brasil. Faz, ainda, com que produtores profissionalizem mais suas atividades em busca de resultados positivos e eficácia. (MOURA, 2013) Por conta dessa busca, surgem novas tecnologias objetivando possibilitar a excelência na produção animal. Um exemplo são as substâncias promotoras de crescimento: aditivos utilizados com a finalidade de reduzir riscos de distúrbios metabólicos e aumentar o ganho de peso e/ou a eficiência alimentar dos animais, como os ionóforos e não ionóforos. (MORAIS et al., 2011)

Revisão Bibliográfica

Os ionóforos são os antimicrobianos mais utilizados na alimentação de bovinos como promotores de crescimento. Os mesmos são altamente efetivos contra bactérias gram-positivas, o que permite a manipulação da fermentação ruminal com aumento na concentração de propionato e redução nas concentrações de acetato e butirato, reduzindo a disponibilidade de íons hidrogênio para as bactérias metanogênicas e como consequência diminui a produção de metano (MORAIS et al., 2006). A redução na perda de energia em forma de metano resulta em maior aporte de energia para o animal e maior disponibilidade de substrato para a produção hepática de glicose. Um exemplo de ionóforo muito utilizado na bovinocultura de corte é a Monoensina. (SITTA, 2016) Dentre os antimicrobianos promotores de crescimento autorizados para uso em bovinos pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), a virginiamicina é o antibiótico não ionóforo mais utilizado nos últimos anos para bovinos no Brasil. Pertencente à classe das estreptograminas, e originalmente encontrada em solos belgas (DeSOMER et al., 1955), é produzida por uma cepa mutante de Streptomyces virginiae. Trata-se de uma mistura de dois componentes químicos distintos: fator M e fator S, sendo a sua atividade bacteriana dependente da interação sinérgica desses dois componentes. A virginiamicina, assim como a monoensina, é ativa contra bactérias gram-positivas. Mas, são inativas contra Enterobacteriaceae (Escherichia coli e Salmonella ssp.)  (COCITO, 1979) Em ruminantes, a virginiamicina atua inibindo as bactérias gram-positivas e como resultado pode-se observar redução na produção de lactato bem como redução na incidência de abscessos hepáticos e acidose ruminal. Diversos trabalhos demonstram os benefícios da manipulação da população bacteriana gram-positiva, como por exemplo, redução na competição bacteriana por nutrientes, redução na produção de endotoxinas bacterianas, aumento na disponibilidade de nutrientes reduzindo a espessura da parede intestinal (HEDDE et al., 1980). Há trabalhos que demonstram ainda diminuição da taxa de perda de nutrientes através do trato gastrintestinal e aumento da glicose disponível para a síntese proteica por reduzir a produção de ácido láctico no trato gastrintestinal. Além disso foram relatados, também, a redução da produção de metano e da quantidade de nitrogênio excretado pelas fezes e urina, melhorando a qualidade do ar e da água. (BRÜNING, 2013)

Materiais e Métodos

O presente trabalho tem por objetivo elaborar uma revisão de literatura sobre virginiamicina, suas aplicações e resultados em bovinos de corte.

Resultados e Discussão

Coe et al. (1999) conduziram dois estudos com bovinos canulados no rúmen para comparar virginiamicina (0, 175 ou 250 mg/cab/dia) com monoensina + tilosina (250mg + 90 mg/cab/dia) durante a fase de adaptação a dietas com alto teor de concentrado (experimento 1) ou quando os animais foram induzidos à acidose (experimento 2). De modo geral, a virginiamicina foi mais efetiva que a monoensina no controle de Lactobacillus e Streptococcus bovis e no controle da produção de lactato no rúmen. Interessante ressaltar que a contagem de Fusobacterium necrophorum, principal agente etiológico de abscessos hepáticos, aumentou na dieta controle conforme aumento do teor de concentrado ingerido. De outro lado, para os animais tratados com virginiamicina a contagem permaneceu inalterada. Ferreira et. al. (2011) conduziram um estudo para avaliar o efeito de diferentes aditivos sobre o ganho de peso de bovinos da raça Nelore em sistema de lotação rotacionada com capim massai. Os resultados obtidos mostraram um desempenho do ganho de peso da virginiamicina 25,5% superior em relação ao grupo controle, suplementado apenas com sal mineral.  O grupo 3 foi suplementado com saliomicina. Nicodemo (2001) testou dieta com alto teor de amido e proteína, em que animais tratados com virginiamicina apresentaram aumento de 7,8% no ganho de peso e 7,3% na conversão alimentar. Rigueiro (2016) avaliou a associação de virginiamicina com monoensina, sendo a suplementação de ambas durante o período de adaptação e a retirada da monoensina na fase de terminação a melhor opção de combinação destes aditivos em dietas contendo elevado teor de amido. Aumentou a ingestão de matéria seca em porcentagem de peso vivo, ganho de peso diário, peso de carcaça quente e o rendimento de carcaça dos animais. É importante ressaltar que a virginiamicina não afetou negativamente as variáveis ruminais e sanguíneas. Segundo Sitta (2011) a avaliação do efeito da inclusão de virginiamicina, monoensina e salinomicina na dieta de bovinos Nelore confinados, comparada quando os animais foram suplementados somente com virginiamicina durante o período de confinamento, estes apresentaram maior ingestão de matéria seca em quilos que os que receberam a combinação de monoensina e virginiamicina. Scott et al (2000) observaram certa tendência ao aumento do rendimento de carcaça de novilhos tratados com virginiamicina. Compararam com o uso de monoensina e tilosina. Em outro experimento com bezerros, Skrivanováa e Marounek (1993) avaliaram que a suplementação com virginiamicina promove melhor desempenho dos animais com 5,1%, o que é importante para precocidade, maior ganho de peso e melhor rendimento de carcaça. Brüning (2013) conclui que além de reduzir a produção de metano e a quantidade de nitrogênio excretado pelas fezes e urina, a suplementação com virginiamicina também melhora a qualidade do ar e da água, o que é imprescindível para uma produção mais sustentável.

Conclusões

Em virtude dos fatos mencionados, conclui-se que a virginiamicina, promotor de crescimento utilizado como aditivo alimentar, traz diversos benefícios para a criação animal. Tais benefícios englobam vários aspectos, como rendimento de carcaça, ganho de peso, controle de bactérias e desenvolvimento de bezerros. Sendo, portanto, um importante fator para aumento da eficiência produtiva dos animais. Por fim, destaca-se a necessidade de mais estudos no intuito de consolidar essa prática de manejo.


Referências

BRUNING, G. Adição de virginiamicina em suplemento mineral e proteinado para bezerras Nelore em pastagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu na transição seca-águas. FZEA, USP, Pirassununga, 2013 COCITO, C. Antibiotics of the virginiamycin family, inhibitors which contain synergistic components. Microbiology Review. v.43, n.2, p.145-192, 1979 COE, M.L. et al. Effect of virginiamycin on ruminal fermentation in cattle during adaptation to a high concentrate diet and during and induced acidosis, Journal of Animal Science, Savoy, v.77, p. 2259-2268, 1999 DE SOMER, P. et al. A preliminary report on antibiotic number 899, a streptogramin-like substance. Journal of Antimicrobial Chemotherapy, Birmingham, v.5, c.11, 1955 FERREIRA, S.F. et al. Parâmetros ruminais e desempenho de bovinos de corte sob pastejo no período chuvoso com uso de Virginiamicina e Salinomicina na dieta. Revista Brasileira de Zootecnia, 2011 FURLAN, R.L. et al. Anatomia e fisiologia no trato gastrointestinal. In: BERCHIELLI, T.T.; PIRES, A.V.; OLIVEIRA, S.G. Nutrição de ruminantes.  Jaboticabal: Prol Editora Gráfica, p 1-25, 2011 HEDDE, R.D., et al. Virginiamycin effect on rumen fermentation in cattle. Journal of Animal Science. Savoy, v.51. Supply. 1, p.366-367, 1980 IBGE. PPM 2015: Rebanho bovino alcança a marca recorde de 2015,2 milhões de cabeças, mas produção de leite cai 0,4%, 2016 MORAIS, J.A.S. et al. Nutrição de ruminantes. Jaboticabal, p. 566-567. 2011 MORAIS, J.A.S et al. Nutrição de Ruminantes. Jaboticabal: FUNEP. p. 539-570, 2006 MOURA, L.M. Monensina sódica e virginiamicina para bovinos de corte: desempenho e simulação econômica, 2013. Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2013 NICODEMO, M.L.F. Uso de aditivos na dieta de bovinos de corte. 2001 Campo Grande: EMBRAPA gado de corte, 2001 RIGUEIRO, A.L.N. Protocolos para o uso combinado de monoensina sódica e virginiamicina em dietas de bovinos Nelore confinados. 2016. Tese (Mestrado em Ciência e Tecnologia Animal) - Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas - UNESP, Dracena, 2016 SCOTT, T. et al. The Effect of V-max® on Performance and Carcass Characteristics of Finishing Cattle Fed Corn and Corn By-product Finishing Diets. Nebraska beef Cattle Report, University of Nebraska, 2000 SITTA, C. Aditivos (ionóforos, antibióticos não ionóforos e probióticos) em dietas com altos teores de concentrado para tourinhos da raça Nelore em terminação, USP. Piracicaba, 2011 SITTA, C. Aditivos (ionóforo e não ionóforo), processamento de grãos de milho e concentrações de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) de silagem de milho em dietas para bovinos em terminação, USP. Piracicaba, 2016 SKRIVANOVÁA, V. et al. Effect of virginiamycin on feed intake, daily gains ruminal volatile fatty acids and blood parameters in veal calves. Archives of Animal Nutrition, Berlim, v.44, n.1, p.41-46, 1993