Um estudo desenvolvido por uma zootecnista monitorou cinco dormitórios de papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) no sul do Pantanal brasileiro e identificou uma diminuição de 50 indivíduos jovens por ano na quantidade de animais que deveriam integrar as populações da espécie no Pantanal, enquanto se esperava um aumento anual de 200 jovens nestes grupos. As investigações foram conduzidas pela zootecnista Gláucia Seixas e orientadas pelo pesquisador da Embrapa Pantanal (MS) Guilherme Mourão. Juntos, eles reuniram e avaliaram dados de um monitoramento que cobriu uma área aproximada de 2,7 mil km² em Mato Grosso do Sul. As informações são da Embrapa.

Doutora Glaucia Seixas (Foto/Reprodução: Victor Moriyama-Xibé/Projeto Papagaio Verdadeiro)

No estudo, os pesquisadores realizaram uma contagem por mês em cada dormitório por cerca de cinco anos, realizadas ao pôr-do-sol, quando os papagaios chegavam às árvores dos dormitórios para passar a noite. Foram cerca de 250 contagens e quase 500 horas de observação.

Segundo as informações descritas na pesquisa, os dormitórios receberam grupos que variaram de 110 indivíduos, aproximadamente, a pouco menos de três mil animais em diferentes meses do ano. Somando os dados dos cinco dormitórios, esse valor variou de 1.720 a 5.300 papagaios, em média.

REDUÇÃO DE 50 AVES JOVENS POR ANO

Avaliando os dados dos cinco dormitórios, seria esperado um aumento médio de 200 jovens por ano. Porém, foi registrada uma diminuição de aproximadamente 50 indivíduos jovens anualmente nas populações monitoradas. Assim, embora a quantidade de pares reprodutivos e de indivíduos na população como um todo tenha se mantido estável, os pesquisadores verificaram que o número de animais jovens que retornaram à população diminuiu.

(Foto: Glaucia Seixas)

“Em geral, os números de pares de papagaios e de solitários usando os dormitórios aumentou ou flutuou em torno da média, indicando que o mesmo número de pares estava tentando se reproduzir todo ano. Independentemente disso, as tendências dos jovens estavam decaindo rapidamente ao longo do tempo. Tanto o número de bandos familiares quanto o de jovens nesses bandos diminuíram ao longo do período de monitoramento”, explica a zootecnista.

A pesquisadora ressalta que, embora estudos recentes tenham indicado que a captura para o comércio de animais de estimação tenha sido o principal fator ameaçando a maior parte das populações de papagaios estudadas, a equipe não possui evidências diretas de que a captura tenha sido uma ameaça grave na área avaliada. Ela também esclarece que o grupo não notou aumentos na frequência de eventos climáticos severos durante o período de monitoramento ou sinais de doenças graves entre os papagaios.

“Ao mesmo tempo, nós observamos o corte de faixas de vegetação lenhosa geralmente seguido de queimadas, que levam à destruição direta das cavidades utilizadas pelos papagaios (e dos ninhos dentro dessas cavidades), assim como à redução na disponibilidade de alimento para os animais e seus predadores. Além disso, a limpeza das florestas também pode levar a um aumento das taxas de predação dos ninhos de papagaios remanescentes, já que isso faz com que os predadores intensifiquem sua procura por comida”, avalia a cientista.

Os dados foram publicados no artigo Communal roosts of the Blue-fronted Amazons (Amazona aestiva) in a large tropical wetland: Are they of different types?, disponível em inglês.

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