Nome completo: José Rodolfo Panim Ciocca
Instituição de Titulação em Zootecnia: Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP – Campus Jaboticabal, Brasil
Ano de titulação em Zootecnia: 2007
Instituição ou Empresa em que trabalha: Produtor do Bem Certificação em Sustentabilidade e F&S Consulting
1- Por que fazer Zootecnia e o que lhe despertou o interesse em trabalhar com bem-estar animal?
As ciências agrárias sempre me chamaram a atenção. Desde pequeno, sempre gostei de frequentar o campo e estar próximo às criações de animais. Nunca tive dúvidas de que minha vontade era cursar zootecnia, pois minha vocação sempre esteve voltada para o manejo e os sistemas de criação. Quando entrei na Unesp em Jaboticabal, percebi que era exatamente o que eu buscava. Encontrei uma universidade muito bem estruturada e um campus enorme, onde pude, desde o início, me dedicar a estágios e estar próximo aos animais enquanto cursava as disciplinas mais teóricas e básicas.
Já no primeiro ano, entrei no Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (GRUPO ETCO), focando naquele primeiro momento em avaliar o comportamento de bovinos de corte com o objetivo de melhorar o manejo dos animais. Nesse período, também ingressei no Programa de Educação Tutorial (PET-Zootecnia), que foi fundamental para meu crescimento e formação, devido ao seu enfoque em pesquisa e extensão.
Minha participação no Grupo ETCO, trabalhando com bem-estar animal, durou toda a minha trajetória universitária e me ajudou a desenvolver uma visão mais holística da zootecnia. Essa visão vai além do foco principal do curso, que envolve nutrição, melhoramento genético e manejo, pois está diretamente relacionada a todos esses tópicos mais tradicionais da zootecnia. Assim, foquei meus estudos em comportamento e bem-estar animal, que hoje já é uma ciência muito clara e objetiva.
Em 2005, comecei a trabalhar em pesquisas focadas no bem-estar animal no momento pré-abate e abate, área à qual dediquei toda a minha graduação. Realizei estágios nessa área na Embrapa Suínos e Aves e no Agriculture Agri-Food Canadá.
Após concluir o curso de Zootecnia, dediquei muitos anos no Brasil e na América Latina aos treinamentos de Abate Humanitário, sendo um dos idealizadores do Programa Nacional de Abate Humanitário – STEPS. Publiquei livros e materiais sobre o tema e ministrei treinamentos em frigoríficos na América Latina.
Foi nesse período que percebi a necessidade também de me aprofundar no bem-estar animal a nível de campo, buscando sistemas produtivos mais sustentáveis com uma abordagem holística. Meu objetivo era demonstrar que os resultados produtivos e econômicos observados no pré-abate e abate poderiam ser alcançados com melhores sistemas e a adoção de boas práticas na criação.
Por fim, após trabalhar mais de 20 anos com comportamento e bem-estar animal e sistemas produtivos mais sustentáveis, vi a importância de extrapolar a audiência técnica e fazer essa ponte com empresas do ramo alimentício e o consumidor, trazendo mais transparência nos sistemas produtivos para o mercado B2B e B2C. Foi então, que junto a um grande amigo, desenvolvemos um programa de certificação brasileiro focado no nosso clima e sistemas produtivos, que são bem distintos dos programas de certificação do norte global.
2- Quais foram e/ou são as principais dificuldades para um Zootecnista atuar na área?
Confesso que não senti tantas dificuldades, mesmo estando em uma área tão específica e pouco valorizada na época. Hoje, vejo o quanto a ciência do bem-estar animal tem se tornado cada vez mais integrada com a produção, visando melhores práticas e melhores índices zootécnicos e econômicos. Isso ocorre porque há uma relação direta com a redução de perdas e a criação de animais mais resilientes, quando estes são criados respeitando seus comportamentos naturais.
Vejo também um esforço constante e evolutivo da nossa profissão em áreas específicas ao nosso papel, que muitas vezes acabam sendo executadas por outros profissionais, que não detém do mesmo conhecimento e capacidade técnica.
3- O que mudou na percepção do consumidor em relação ao BEA nos últimos 15 anos?
A visão do consumidor mudou bastante nos últimos 15 anos. Grande parte dessa mudança se deve ao afastamento de boa parte da população do campo, já que muitos levam uma vida exclusivamente urbana. Ao mesmo tempo, o acesso à informação é muito rápido e fácil hoje em dia, e por essa razão, temos um papel importante em levar informação a esses consumidores, que são cada vez mais exigentes sobre a forma como seus alimentos são produzidos, especialmente as novas gerações. Nesse sentido, vejo que o Brasil tem um grande potencial e oportunidade para mostrar aos consumidores locais e ao mundo que nosso sistema de criação e produção, quando bem adotado, tem o potencial de ser o mais sustentável do mundo.
4- Como o Brasil se posiciona na temática de BEA frente a outros players da produção de proteína animal?
Vejo que o Brasil tem um grande potencial e oportunidade para mostrar aos consumidores locais e ao mundo que nosso sistema de criação e produção, quando bem adotado, tem o potencial de ser o mais sustentável do mundo.
Tenho observado que muitas empresas e produtores têm buscado adotar melhores práticas de bem-estar animal, pois reconheceram que essas melhorias trazem resultados positivos e são uma tendência entre consumidores globais. Ao mesmo tempo, o Brasil sempre foi muito reativo e passivo em relação a essas questões, especialmente em comparação com os países do norte global. Nesse contexto, a Produtor do Bem Certificações, onde sou diretor executivo, viu a necessidade de despertar o interesse das empresas em melhorar o diálogo e a colaboração, atuando de forma proativa para nos tornarmos a maior referência global em bem-estar animal e sistemas de produção sustentáveis.
Por isso, idealizamos a Colaboração Brasileira de Bem-Estar Animal (COBEA), que tem como objetivo promover práticas de bem-estar animal no país e na América Latina. A associação buscará a integração entre diversos elos da cadeia produtiva, incluindo a indústria, serviços e varejo.
Mais informações em:
https://portaldbo.com.br/cobea-sete-empresas-se-unem-a-coalizao-inedita-de-bem-estar-animal/ e no Linkedin da COBEA.
5- O que você diria para o estudante que planeja seguir a área de comportamento e BEA em 2025?
A ciência do bem-estar animal é uma das mais importantes da zootecnia. Com as mudanças e exigências atuais, a produção animal deve ser realizada de forma ética e sustentável. Como o bem-estar animal tem correlação direta com todas as áreas em que atuamos na zootecnia, o conhecimento mais aprofundado ajudará a ter um olhar mais amplo para que na prática consigam buscar soluções levando em consideração tanto as necessidades fisiológicas quanto psicológicas e comportamentais.
Bem-estar não é apenas fornecer alimento e abrigo adequado ou algo simples e subjetivo, como muitos pensam. É uma abordagem holística, e por esse motivo, atualmente é abordado sob o conceito de Um Bem-estar e Uma Saúde (One Welfare e One Health). Um animal criado sob condições desafiadoras desenvolve estresse crônico, que afeta seu sistema imunológico, tornando-o mais suscetível a doenças e resultando em impactos negativos na produção.
6- O que é o projeto Produtor do Bem e qual a sua visão/objetivo?
A Produtor do Bem é uma certificação criada por uma rede de especialistas da academia, da sociedade civil e do setor privado que atua na certificação dos sistemas de produção de alimentos. Nossa principal missão é estimular o consumo e a produção sustentável, melhorando o bem-estar dos animais de fazenda e transformando o atual sistema em um modelo mais justo e sustentável.
Nossas certificações garantem credibilidade a empresas que já adotam modelos de produção sustentáveis e oferecem suporte para aquelas engajadas em fazer essa transição ou melhorar continuamente suas práticas responsáveis.
Nossos protocolos conciliam padrões internacionais e particularidades regionais, como o clima e a cultura produtiva do Brasil. Isso facilita as exportações ao mesmo tempo em que atende às demandas do mercado interno. Os Padrões são alinhados com os melhores standards internacionais, e divididos em 3 níveis, apoiando a melhoria contínua dos produtores. Requisitos modernos de gestão e bem-estar, com auditoria focada em indicadores baseados nos animais.