Nome completo: Marcia de Oliveira Franco
Instituição de Titulação em Zootecnia: Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes
Ano de titulação em Zootecnia: 2009
Se possuir alguma especialização, ou mestrado e doutorado por favor informar, bem como a instituição e o ano de obtenção do respectivo título:
- Mestrado em nutrição e produção de ruminantes pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa, Minas Gerais em 2011.
- Doutorado em nutrição e produção de ruminantes pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa, Minas Gerais em 2015, com vivência de um ano na Texas A&M University, College Station, Texas, Estados Unidos, para realização do doutorado sanduíche (2013).
- Pós-doutorado em microbiologia de rúmen pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa, Minas Gerais em 2016.
- Pós-doutorado em ciência animal pela Swedish University of Agricultural Sciences (SLU), Umeå, Suécia em 2017.
- Pós-doutorado em preservação de alimentos e nutrição de ruminantes pelo Natural Resources Institute Finland (Luke), Jokioinen, Finlândia em 2019, com período de mobilidade na Lanzhou University, Lanzhou, China (2019).
Instituição ou Empresa em que trabalha*: Natural Resources Institute Finland (nome em inglês), ou Luonnonvarakeskus (nome em finlndês), abreviação Luke. O Luke possui instalações em diversas regiões do país, mas meu trabalho é especificamente em Jokioinen.
1.Por que você escolheu fazer Zootecnia?
Desde criança, eu sempre gostei muito de animais e de estar na roça. Durante minha infância e adolescência, cheguei a considerar várias possibilidades, desde veterinária até me tornar astronauta. Mas, com o passar do tempo, as ideias foram se tornando mais claras na minha cabeça e as decisões foram se fazendo mais fáceis.
Conheci a Zootecnia aos 13 anos de idade em um livro de profissões e então, pela primeira vez, algo realmente fez sentido profissionalmente para mim, pois incluía o que de fato eu gostaria de trabalhar, que não era doença e profilaxia animal, mas sim nutrição, reprodução, manejo, melhoramento genético de animais domésticos e aí por diante. Diferentemente da veterinária, que tem um foco maior em saúde e tratamento de doenças, a Zootecnia me permitiria atuar na otimização da produção animal de forma mais ampla e estratégica.
Ali então eu me encontrei profissionalmente e, aos 14 anos, em uma atividade escolar, eu escrevi sobre a Zootecnia no tema profissões. De lá para cá, algumas décadas de história têm sido construídas na minha vida profissional como Zootecnista, na busca por conhecimento e, acima de tudo, dedicação à profissão a fim de se melhorar nossos níveis produtivos. Hoje, tudo do pouco que sou e tudo do pouco que tenho, eu devo a Zootecnia.
2.O que a motivou a trabalhar na área de pesquisa de nutrição de ruminantes?
Ainda no início da graduação, tive a feliz oportunidade de trabalhar com diversos profissionais e diferentes espécies animais de interesse zootécnico. Essa experiência me permitiu explorar diferentes áreas da Zootecnia e entender melhor onde meu interesse se encaixava. Certamente a área que mais me chamou a atenção desde o início foi a produção de animais ruminantes, principalmente no que diz respeito à nutrição. O impacto da nutrição na eficiência produtiva, sustentabilidade e bem-estar animal sempre me fascinou, pois envolve desafios complexos e soluções inovadoras. Além disso, percebi ainda no início, que a nutrição de ruminantes era uma excelente área de atuação dentro da Zootecnia, com grande potencial de contribuição para o desenvolvimento do setor agropecuário. Assim, carregando essa motivação, mantive o foco e segui me aprofundando profissionalmente nos níveis de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Hoje, continuo entusiasmada em contribuir para essa área por meio da pesquisa científica e da inovação tecnológica, atuando em um centro de pesquisa finlandês, o Natural Resources Institute Finland, em inglês, ou Luonnonvarakeskus (Luke), em finlandês.
3.Você tem experiência de ensino e pesquisa em diversos Países, logo, na sua percepção, como a sua formação em Zootecnia se posiciona em relação aos seus pares formados em outros Países?
Infelizmente, nós brasileiros ainda temos bastante uma certa “síndrome de inferioridade” quando nos comparamos com profissionais estrangeiros. Porém, tendo morado nos Estados Unidos, Suécia, China e agora Finlândia, com adicional experiência em outros países da Europa e África, posso dizer sem sombras de dúvidas, que a nossa formação profissional como Zootecnista no Brasil é extremamente sólida e não fica atrás das melhores universidades do mundo.
Os Zootecnistas brasileiros são altamente capacitados, principalmente porque nossa formação acadêmica enfatiza tanto o conhecimento teórico quanto a experiência prática em campo. A diversidade de sistemas de produção no Brasil também contribui para uma visão mais ampla e adaptável, o que nos torna profissionais versáteis e preparados para diferentes desafios.
Outro ponto importante que gostaria de ressaltar é a receptividade dos profissionais estrangeiros em trabalhar com Zootecnistas brasileiros. Com frequência, percebo que instituições internacionais valorizam nossa capacidade técnica, criatividade na resolução de problemas e ética de trabalho. Isso reforça que estamos em um excelente nível profissional e que nossa formação nos permite competir de igual para igual no cenário global da Zootecnia. Posso garantir, sem sombras de dúvidas, que nós brasileiros somos muito bem vistos no exterior em relação a nossa capacidade profissional em diversas áreas da Zootecnia.
4.Quais foram/são os desafios de atuar como pesquisadora na Finlândia?
Na minha opinião, os principais desafios estão relacionados à adaptação aos sistemas de produção e à dinâmica das fazendas na Finlândia, pois são bastante diferentes das nossas condições tropicais no Brasil. O clima extremo, a estrutura das propriedades e a legislação específica do setor agropecuário exigem uma compreensão aprofundada para que o trabalho como pesquisadora seja eficaz.
Um desafio adicional se refere ao idioma. Embora a população em sua vasta maioria se comunique muito bem em inglês, a comunicação em finlandês traria ainda mais fluidez para as relações profissionais e facilitaria ainda mais a integração e a troca de informações, especialmente em interações com produtores e técnicos locais. E apenas um parêntese aqui, meu finlandês ainda está longe do ideal, então a minha comunicação aqui é basicamente em inglês.
Mas ainda assim, apesar dos desafios em trabalhar como pesquisadora na Finlândia, as vantagens superam e muito as dificuldades. O país oferece excelentes condições para o desenvolvimento de pesquisa, incluindo financiamento, infraestrutura de ponta e equipes altamente qualificadas.
5.Quais são as principais diferenças na produção animal entre o Brasil, um País tropical, e a Finlândia?
Considerando-se que o Brasil e a Finlândia são dois países de condições climáticas tão distintas, essas diferenças se refletem em todos os sistemas de produção, independentemente da espécie animal. Embora tenhamos também sazonalidade climática no Brasil, como o período das secas e das águas, ainda assim a produção animal ocorre ao ar livre na maior parte do ano, com sistemas extensivos predominantes, especialmente na bovinocultura de corte. Já aqui na Finlândia, as condições climáticas e sazonalidade são ainda mais extremas, com invernos rigorosos chegando a -30°C, onde a produção animal se faz possível apenas em ambientes fechados, com alimentação baseada em forragens conservadas, como silagem e feno, já que a criação a pasto durante boa parte do ano é inviável.
Ainda em relação às condições climáticas, durante o verão na Finlândia, o sol nasce às 3h da manhã e se põe às 11h da noite, favorecendo, por exemplo, a produção forrageira. E essa é outra diferença crucial na necessidade de planejamento alimentar na Finlândia. Como o verão é curto, com cerca de três a quatro meses de clima favorável para o crescimento das pastagens, é fundamental produzir e armazenar alimento suficiente para alimentar os animais ao longo de um rigoroso inverno. Essa limitação climática torna a eficiência no armazenamento e no uso de alimentos um fator crítico para a viabilidade da produção, sendo esta uma das áreas em que mais atuo como pesquisadora na Finlândia: a produção de alimentos para animais ruminantes.
Também, na minha opinião, uma diferença marcante é a disponibilidade de alimentos e subprodutos agroindustriais para suplementação alimentar no Brasil, enquanto na Finlândia a oferta desses ingredientes é bem mais restrita, tornando a produção animal altamente dependente da produção e importação de alimentos proteicos e energéticos.
Acredito que em relação às diferenças entre os sistemas produtivos no Brasil e na Finlândia, vale a pena ressaltar também alguns aspectos relacionados ao bem-estar animal e regulamentações ambientais que diferem bastante entre os dois países. Essas diferenças se refletem nas práticas de manejo, no uso de insumos e nas exigências de qualidade da produção.
6.Qual a relação entre o Prêmio Nobel de Química concedido à Finlândia em 1945 e a sua pesquisa no Natural Resources Institute Finland?
Apenas para contextualizar, esse prêmio foi concedido ao cientista finlandês Artturi Ilmari Virtanen pelas suas contribuições na pesquisa sobre a preservação de forragens e melhorias na nutrição animal. Trabalhando na Finlândia, a minha principal linha de pesquisa é a produção de alimentos para animais (silagens produzidas a partir de diversas fontes forrageiras e coprodutos da agroindústria), e a nutrição de ruminantes, o que está diretamente relacionada à pesquisa desenvolvida por Virtanen há quase um século atrás. Seguindo essa linha, hoje a nossa pesquisa está ao nível da extração de DNA e sequenciamento genético, o que chamamos de metagenômica de silagens. Essa abordagem permite identificar quais microrganismos predominam nas diferentes condições de ensilagem, incluindo o impacto de aditivos conservantes, como ácidos e bactérias láticas, na microbiota e na estabilidade da silagem. Embora a nossa pesquisa hoje esteja em patamares acima, o legado deixado por Virtanen abriu as portas da pesquisa em preservação de alimentos, não somente na Finlândia, como no mundo.
7.Além da preservação de alimentos e da metagenômica de silagens, quais são outras abordagens da sua linha de pesquisa na Finlândia?
Embora esse seja o foco maior da minha pesquisa na Finlândia, também trabalho com biorefinaria, uso de coprodutos na dieta de vacas leiteiras e desenvolvimento de alimentos alternativos para aumentar a autossuficiência do país em alimentos proteicos, tópicos que estão diretamente relacionados à preservação de alimentos. Além disso, ocasionalmente ministro um módulo da disciplina de tecnologia de alimentos para alunos de pós-graduação na Universidade de Helsinque, abordando inovações e desafios na área.