Nome completo: Darilene Ursula Tyska

 

1- Poderia fazer uma breve descrição da sua formação acadêmica?

Sou Zootecnista formada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), onde, durante a graduação, atuei como bolsista de iniciação científica em diversos projetos voltados ao melhoramento genético e à nutrição de codornas de corte. Também fui monitora do laboratório de informática da Agronomia por sete semestres, experiência que me permitiu desde cedo conciliar os conhecimentos em informática com os fundamentos do melhoramento genético. Concluí a graduação em dezembro de 2014, com mérito acadêmico conferido pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária.

Em 2015, iniciei o mestrado em Zootecnia na mesma instituição, sob orientação do Prof. Dr. Nelson José Laurindo Dionello, com ênfase em estatística multivariada aplicada na produção de Aves. Defendi a dissertação em fevereiro de 2017, intitulada Avaliação das características produtivas de codornas de corte e qualidade de ovos por meio de análises multivariadas.

No primeiro semestre de 2017, ingressei no doutorado em Zootecnia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sob orientação do Prof. Dr. José Braccini Neto, onde atuei em projetos relacionados às assinaturas de seleção e endogamia genômica. Durante esse período, enfrentei o desafio de conciliar a maternidade, com duas licenças, e a dedicação à pesquisa. Em dezembro de 2022, defendi a tese Abordagens genômicas para caracterização da homozigosidade nas raças Hereford e Braford.

Em julho de 2023, passei a integrar a equipe da empresa petgenoma como sócia e geneticista. Minha formação especializada em genética e bioinformática tem sido fundamental para o desenvolvimento de pipelines voltados à análise genômica em cães e gatos. 

Em janeiro de 2024, fui convidada a colaborar com o Departamento de Zootecnia da UFRGS como pesquisadora de pós-doutorado no projeto Estratégias para melhoria genética de populações brasileiras de caninos, sob supervisão do Prof. Dr. Jaime Araújo Cobuci, colaborando com desenvolvimento de projetos e coorientação de alunos de doutorado e iniciação científica. 

 

2- A área de animais de companhia tem se desenvolvido muito nos últimos anos. Na sua perspectiva, de que forma os zootecnistas podem se inserir nesse ramo?

Os animais de companhia tem apresentado um crescimento expressivo nos últimos anos, tanto em termos de demanda por produtos e serviços quanto em avanços científicos e tecnológicos voltados ao bem-estar, saúde e longevidade dos pets. A formação em Zootecnia oferece uma base sólida em genética, nutrição, reprodução, manejo e bem-estar animal. Esses conhecimentos são essenciais com grande potencial para serem aplicados com excelência na área pet. Além do aconselhamento e desenvolvimento de programas de melhoramento genético para cães e gatos, tem infinito potencial para atuar na formulação de dietas específicas para diferentes fases da vida ou condições clínicas, no manejo reprodutivo responsável (principalmente voltado para questões de endogamia, e doenças genéticas), além de colaborar em pesquisas que visam a saúde populacional. Na área que atuo, a genômica e as ferramentas de bioinformática, o zootecnista pode contribuir com análises genéticas de alto nível, auxiliando na identificação de predisposições a doenças, características fenotípicas e diversidade genética. Isso além de fortalecer a criação consciente, melhora e muito a qualidade de vida dos animais.

 

3- Atualmente você integra a equipe do laboratório Petgenoma. Poderia nos contar o que o laboratório faz?  

A petgenoma é o primeiro laboratório 100% nacional dedicado à análise genética de cães e gatos, sendo pioneira nesse segmento na América Latina. Nosso principal diferencial está na construção de um banco de dados genômico exclusivo, que inclui não apenas as raças mais conhecidas internacionalmente, mas também raças nativas do Brasil, como o Bulldog Campeiro, o Ovelheiro Gaúcho e o Sertanejo Boca Preta. Esse banco permite uma análise muito mais precisa e representativa, especialmente no teste de composição racial, que contempla mais de 250 raças. Por meio dele, identificamos o percentual de ancestralidade tanto de animais de raça pura quanto de Sem Raça Definida (SRD), possibilitando que os tutores conheçam melhor a origem genética de seus pets.

Outro serviço de destaque, e que está diretamente alinhado à minha formação, é o teste de endogamia genômica. Ao contrário do pedigree tradicional, que cobre em média de três a cinco gerações, esse teste é capaz de estimar o grau de endogamia de um animal com base em informações que podem refletir até 50 gerações, tornando a informação muito mais precisa. Também oferecemos, mediante solicitação, a estimativa de consanguinidade de futuras ninhadas, permitindo que criadores escolham casais de forma mais responsável, minimizando riscos genéticos da alta endogamia. Ainda nesse escopo, disponibilizamos o teste de paternidade, ferramenta importante para controle reprodutivo e certificações.

No painel de doenças genéticas, analisamos mais de 300 doenças. Um diferencial importante do nosso relatório é a forma de apresentação: doenças previamente descritas na raça do animal são destacadas, enquanto mutações não descritas, mas que o pet possa carregar, são sinalizadas com um alerta, o que permite que tutores e médicos-veterinários atuem de forma preventiva. Isso pode fazer uma grande diferença, desde evitar a administração de medicamentos (em casos que o cão possua intolerância a múltiplas drogas), até descobrir que o cão é hemofílico ou possui algum outro problema de coagulação, o que pode literalmente salvar a vida do pet em casos de cirurgia, até mesmo para uma simples castração.

Também contamos com um painel de traços fenotípicos, que avalia mais de 30 características. Esse painel é particularmente útil para criadores, pois fornece informações genéticas que ajudam na seleção de casais com o objetivo de manter ou evitar determinados traços, como cor de pelagem ou o gene merle. A identificação de animais portadores desse gene é essencial para evitar o acasalamento entre dois heterozigotos, que pode resultar em filhotes com sérias deficiências sensoriais e físicas — condição conhecida como “duplo merle”.

Atualmente, estamos em fase final de desenvolvimento do nosso mais novo produto: o painel de risco genético para câncer, com previsão de lançamento agora no mês de junho. Esse serviço, assim como todos os outros, é baseado em estudos publicados em periódicos internacionais que correlacionam genótipos específicos ao risco aumentado de determinados tipos de câncer, permitindo uma abordagem preventiva personalizada por raça.

Além disso, o produto voltado para gatos também está em desenvolvimento, com previsão de lançamento para o segundo semestre de 2025, ampliando ainda mais nossa atuação no setor pet.

 

4- Quais são as principais vantagens da realização de testes genéticos em cães?

A realização de testes genéticos em cães oferece uma série de vantagens, tanto para tutores quanto para criadores e profissionais da área veterinária. Entre os principais benefícios, destaco:

 Prevenção de doenças genéticas: Muitos distúrbios hereditários não se manifestam externamente até fases mais avançadas da vida. Com o teste genético, é possível identificar se o animal é portador ou afetado por alguma condição, permitindo um acompanhamento preventivo e intervenções precoces, o que vai prolongar e melhorar significativamente a qualidade de vida do pet.

Fármaco genética: Permite entender como cada cão pode reagir a diferentes medicamentos com base no seu DNA. Alguns animais possuem mutações que os tornam sensíveis a determinados princípios ativos, o que pode levar a efeitos colaterais graves ou até fatais se não forem identificadas previamente. Um exemplo clássico é a mutação no gene MDR1, presente em várias raças, que altera a forma como o organismo lida com certos medicamentos comuns na rotina clínica. Ao conhecer essas informações de forma antecipada, o veterinário pode escolher o tratamento mais seguro e eficaz, adaptando a medicação à genética do paciente.

Apoio à medicina veterinária personalizada: Essas informações permitem ao médico veterinário adotar condutas clínicas mais precisas, personalizadas e preventivas, promovendo tratamentos mais eficazes e decisões terapêuticas baseadas no perfil genético único de cada pet.

Planejamento reprodutivo responsável: Para criadores, os testes genéticos são fundamentais na escolha de acasalamentos. Eles ajudam a evitar acasalamentos entre animais portadores de mutações recessivas, reduzindo o risco de filhotes com doenças genéticas e promovendo a saúde da população da raça.

Estimativa de consanguinidade: Testes genômicos permitem medir o grau de endogamia de um cão de forma muito mais precisa do que a análise por pedigree, o que é essencial para manter a diversidade genética e evitar o acúmulo de mutações prejudiciais, e a fertilidade relacionada principalmente ao número de filhotes por ninhada.

Identificação de traços fenotípicos: Saber o genótipo para características como cor de pelagem, tipo de pelagem, padrão, entre outros, auxilia na seleção de casais em programas de criação e também no reconhecimento de variantes que podem estar associadas a condições específicas (como o gene merle, por exemplo).

 Conhecimento da ancestralidade: O teste de composição racial oferece uma visão detalhada da origem genética, permitindo ao tutor compreender melhor as necessidades comportamentais, nutricionais e de manejo do seu pet, de acordo com o perfil das raças ancestrais detectadas.

 

5- Na sua opinião, qual é a principal limitação para que esse tipo de serviço se popularize entre os criadores?

Na minha opinião, a principal limitação para a popularização dos testes genéticos entre os criadores ainda é a falta de informação e conscientização sobre os benefícios reais desses exames. Muitos ainda enxergam o teste como um custo adicional “da série ‘eu sempre fiz assim e deu certo’’’, quando na verdade ele deve ser visto como um investimento em saúde, qualidade genética e ética na criação. 

Na verdade, a maior resistência que percebo não vem dos criadores, mas sim de muitos médicos veterinários. São eles que fazem a ponte entre a genética e os tutores, conectando diretamente a saúde animal às informações genéticas. No entanto, muitos ainda não compreendem como os testes genéticos podem ser ferramentas clínicas valiosas no dia a dia. Não se trata apenas de diagnosticar doenças já estabelecidas, mas principalmente de antecipar condições genéticas que muitas vezes são silenciosas ou difíceis de identificar clinicamente. Nessas situações, o teste genético pode ser o diferencial entre uma condução clínica tardia, quando a doença já está em estágio avançado e com pouca margem de intervenção, e uma abordagem precoce, que permite decisões mais assertivas, potencialmente prolongando e até salvando a vida do animal. 

Infelizmente, muitos veterinários ainda deixam de oferecer esse tipo de exame por receio de não saber interpretar os resultados ou por não associarem o teste à sua prática clínica. Falta formação específica nesse sentido, tanto na graduação quanto na educação continuada. É aí que entra a importância de ampliar o diálogo entre genética e clínica, e mostrar que esses exames não são “luxo”, mas ferramentas que podem salvar vidas e fortalecer o vínculo de confiança com o tutor.

Por isso, nossa equipe está preparada para oferecer todo o suporte necessário no pós-venda, especialmente na interpretação dos resultados genéticos. Sabemos que, para muitos profissionais, a genética ainda parece um território distante da clínica — mas não precisa ser assim. Estamos aqui para ajudar a traduzir essas informações em decisões práticas, que agregam valor à consulta, trazem mais segurança diagnóstica e reforçam o cuidado individualizado com cada paciente.

 

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